Hugo Gordon, um fadista outrora resgatado das ruas de Alfama, tornou-se a joia rara de Lisboa sob a asa da herdeira Juliette Hayes, que o moldou com um amor tão intenso quanto possessivo. Ele era o seu universo, submisso à sua adoração sufocante. Mas, numa noite fria e chuvosa, o seu mundo desabou quando Juliette, obcecada pelo novo surfista Leonel, o acusou de afastar o seu "novo brinquedo". De joelhos, tremendo, foi forçado a confessar uma mentira sob a ameaça impensável de Juliette: desligaria o suporte de vida da sua avó doente. A humilhação seguiu-se à dor: foi forçado a pedir desculpa a Leonel, a sua querida guitarra portuguesa foi brutalmente partida, e ele foi espancado na gala de caridade, com Juliette a assistir, impassível. O golpe final, porém, veio quando ela, para agradar Leonel, permitiu a morte da sua avó, a sua única família, arrancando a sua última vulnerabilidade. Como pôde o amor que ele nutria por ela ser tão facilmente esmagado? Como pôde a mulher que o tirou da sarjeta destruí-lo com tanta crueldade? A cada golpe, a cada lágrima não derramada, a questão ecoava: o que mais lhe seria tirado antes de tudo acabar? Naquele momento de desespero abissal, com o coração petrificado e a dignidade destroçada, Hugo Gordon morreu. No seu lugar, nasceu "Henrique Garcia", e uma determinação gélida: ia desaparecer, apagar Juliette Hayes da sua vida para sempre e, acima de tudo, nunca mais ser a vítima de ninguém.