A morte foi fria e lenta. Senti o veneno queimar, minhas últimas imagens sendo o sorriso sem alma de Isabela. Minha ex-mentora de dança, agora madrasta, observava-me definhar no chão sujo de um galpão abandonado. Ela me olhava de cima, com um sorriso que não chegava aos olhos. "Por quê?" , sussurrei, a voz arranhando. "Você é um obstáculo. Com você fora do caminho, tudo que é do seu pai será do meu filho" , ela respondeu, com uma doçura ácida antes de me deixarpara morrer. Pai, carreira, bolsa de estudos... tudo roubado por ela. Mas, à medida que a consciência me abandonava, um único pensamento ardente permaneceu: vingança. De repente, uma luz forte. O cheiro de lavanda do meu quarto, as paredes cor-de-rosa, pôsteres de bailarinas. Eu estava viva. No meu quarto. Ouvi passos apressados. A porta se abriu. "Filha! Você ainda está de pijama? Vai se atrasar para a aula!" Era meu pai, Ricardo, mais jovem, sorrindo. Sem as marcas da Isabela. Eu o abracei, as lágrimas escorrendo. "Eu te amo, pai. Eu te amo muito." Ele me abraçou de volta. "Eu também te amo, minha pequena bailarina." Olhei o calendário. Era o dia. O dia em que, na vida passada, Isabela entrou em nossa casa e em nossas vidas. Um calafrio percorreu minha espinha, mas não era de medo. Era de pura determinação. Eu havia renascido. Com todas as memórias do inferno que ela me fez passar. Desta vez, as coisas seriam diferentes. Eu não seria ingênua. Eu seria implacável. "Pai", comecei, a voz doce, "A professora Isabela é tão legal. Mas sabe o que seria ainda melhor? Se a vovó Lúcia viesse também!" O rosto de meu pai se iluminou. Minha avó, a matriarca inflexível, que Isabela temia. "Que ideia maravilhosa, Sofia! Vou ligar para sua avó agora mesmo." O jogo estava começando. Isabela, sua vida de luxo e poder acabou antes mesmo de começar. Bem-vinda ao seu novo inferno.