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Ao cair da neblina

Ao cair da neblina

4.7
18 Capítulo
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Sinopse

Índice

Foi muito rápido que a ambiciosa Louise Vanolli atingiu tudo o que mais almejou na vida. Ela pensava que não podia ser mais feliz quando um crime hediondo mudou sua história. Ao jurar descobrir o assassino de seu marido acabará desvendando segredos que colocam sua própria vida em risco.

Capítulo 1 Presságio

O som do alarme do utilitário destacava-se em comparação aos dos veículos populares. Eu não sabia que um carro poderia conter tanta tecnologia. Não era preciso tocar na chave para abri-lo, bastava aproximar-se. Havia um botão específico para dar a partida, que só poderia ser acionado após o carro reconhecer a minha retina. Marca importada, cor discreta, altura imponente. Até o som do tecido das minhas roupas no estofado de couro causava certa tranquilidade. O cheiro era sempre de carro novo. Eu, sentada no banco do motorista daquele carro, parecia uma mulher rica. E era.

Meu marido insistia para que eu andasse sempre com motorista, para a minha própria segurança. Ele não fazia ideia de como eu gostava de dirigir e como apreciava a minha liberdade. Se ainda morássemos em Porto Alegre, com esta onda de violência subsequente, ele certamente não aceitaria que eu andasse sozinha pelas ruas; teríamos um problema, porque eu me sentia habilidosa nas ruas da capital gaúcha, mas aqui na Serra era diferente onde, na certa, não havia bandidos suficientes para assaltar tantos ricos. Ouvi o som silencioso do motor em combustão, coloquei o pé no acelerador, ao mesmo tempo em que o Adam Levine começou a cantar no stereo, dando início à minha playlist favorita no aplicativo. Quando acionei a seta, lembrei-me, por um instante, de quando eu andada a pé.

Nos meus 35 anos, eu já tinha vivido tanta coisa que se contasse tudo a alguém, na certa pensariam que eu era mais velha do que realmente sou. Vida intensa. Nos últimos dias, eu andava com uma sensação desagradável, mas não daquelas de quem aparentemente tinha esquecido alguma coisa, mas das que botavam medo. Eu pensava que algo ruim estava para acontecer, algo que eu não poderia consertar. Na verdade, acho que sempre tive medo de perder, mas ultimamente essa sensação ruim estava gritando, desenfreada, dentro de mim. Passou-me pela cabeça pegar o meu marido e as crianças e dar um tempo em algum lugar até que essa angústia passasse, embora eu não soubesse com quais argumentos os convenceria agora, no meio do ano, com todas as nossas atividades a pleno vapor.

Eu poderia dizer que havia alcançado tudo o que planejei. Não foi assim tão difícil ter chegado até aqui; um pouco de sorte e situações improváveis acompanharam-me algumas vezes. Posso dizer, até, que houve certa diversão. Sempre pensei que eu tinha conquistado tudo tão rápido. A minha vida era perfeita, morava exatamente no lugar que sonhei, e dinheiro não era problema já fazia um bom tempo. Amava meu trabalho, era muito bonita, e tinha certeza disso, e também muito bem-sucedida. Consegui virar os holofotes para mim em um mercado muito concorrido. Tinha dois filhos lindos que completavam a minha alegria. Era conhecida na alta sociedade, seguidamente figurava nas colunas sociais por uma série de motivos. Meu marido era bonito, refinado e um verdadeiro companheiro, o melhor pai que meus filhos poderiam ter.

Só o que eu poderia querer e eu esperava era viver mais e mais. Eu não entendia como algumas pessoas poderiam dizer que existia um paraíso depois da morte. O meu era aqui e era agora. Eu queria viajar, ir às festas, curtir e ser eu mesma com as pessoas que importavam para mim.

Eu não fazia a menor ideia de que tudo isso poderia mudar, não sabia que a mais sólida montanha poderia ruir, tão rápido, tão de repente. Foi um erro ignorar os pensamentos ruins, demorar para agir, pensar que a minha intuição não passava de uma bobagem que se originou a partir de alguns episódios depressivos semi-descontrolados de um passado que, às vezes, eu não tinha certeza de que era o meu. Eu sentia que, infelizmente, estava certa. Olhei meu rosto de relance pelo espelho retrovisor e as olheiras suaves que começavam a se formar depois de um dia cansativo lembraram-me dona Augusta, minha mãe.

Ela me amaldiçoou. Desde aquela noite em que me disse aquelas palavras, não houve um só dia em que eu não pensasse nisso e temesse sofrer as consequências. Eu vivi com medo até agora. Nas voltas que a vida dá levei, o troco algumas vezes. Nunca contei isso para ninguém. Eu não sabia que ia entender o motivo da minha sensação ruim hoje mesmo.

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