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Histórico

Capítulo 2 Um evento espetacular: o funeral

Palavras: 5669    |    Lançado em: 19/08/2021

de julho era um dos períodos de maior movimento em Gramado. O frio estava de rachar, bem como ela amava

um amigo (dar mil recomendações de como se comportar na noite longe de casa, mesmo que estas não

escurecer. Na estrada curva que seguia viagem, a cor gradiente do céu misturava-se à fumaça das chaminés por praticamente todas as casas por onde passavam. O cuidado na estr

Os olhos castanho-escuros e os cabelos lisos levemente alourados e cortados na altura dos ombros, ao estilo clássico de Victoria Beckham, mas pouco mais compridos que os seus, deixavam Brenda muito parecida com a mãe. Por mais que a menina insistisse em deixar os cabelos crescerem, Louise se recusava, achava que Brenda ficaria diferente demais de sua própria

interesse que dispunha para Brenda. Para si mesma, justificava que o menino precisava de mais espaço e mais silêncio por ser reservado igual ao pai. Não raro, Alan dormia na casa de

enino lindo, mas nele havia algo que não se assemelhava nem a Louise, nem ao pai: os olhos não eram escuros e nem azuis, tampouco uma mistura do

ma delas. Situava-se quase ao final do lago, no lado oposto do hotel, propiciando uma vista de tirar o fôlego, o que era também o cenário favorito da família para as suas fotos. Disposta em três pavimentos desconexos, da rua ninguém enxergava mais da casa do que o necessário. Podia-se ver a entrada da garagem em uma curva muito íngreme. As árvores escondiam algumas vidraças enormes entre tijolos à v

mente, por quatro pessoas. Uma pequena escada propiciava uma descida até a cozinha, de conceito aberto, no melhor estilo americano, com diversos eletrodomésticos e uma ilha com banquetas, bem no centro. Da cozinha, havia acesso à piscina, p

uma folhagem decorativa. Virando à esquerda, um marco sem porta revelava uma bela cama king size, cujos lençóis combinavam com as cortinas e com o tapete. A cama localizava-se em um degrau acima do nível do quarto, ornamentado por uma luz neon clara que seguia por toda a sua extensão. A suíte ainda continha um closet duplo, muito espaçoso e ilumina

tapete redondo da sala, no qual pretendia deitar-se e assistir a um bom romance na televisão, de canais por assinatura, ainda na noite que estava iniciando. Não precisaria ter pre

ao beijar rapidamente a esposa e ajudar a descer a mochila de

respondeu Louise, aos sorrisos — Brenda, coloca

o entra

ro, me

ateral. Ao ver a menina entrando pela sala e subindo a

n vai dormir for

cheio de trabalhos da escola

ficar mais tempo em casa, estamos perdendo tempo na educação dele. Não quero educar um fil

ás, ag

pensar qual foi a última vez em que eles realmente discutiram. Lembrava-se de várias vezes em que ela perdeu as estribeiras, mas nunca se lembrava do marido descontrolado. Ah, sim, houve uma vez em que ele gritou com ela e ainda hoje ela via que o mot

uma roupa para depois do banho da menina, sentou-se à frente da vidraça da sala

iscutir contigo. Tive um dia maravilhoso, muito produtivo,

os con

ivas e, claro, ganhando muito destaque na Serra. E, hoje, pensei em ficar casa, com um bom jantar e, mais tarde, depo

italiana e preparar aquela vitamina que a B

ão ir além nesses pensamentos, pois houve uma época em que a paranoia de uma possível traição tomou conta de si, o que a fez colocar pessoas para seguirem o marido. Nunca descobriu nada e desistiu de procurar. Lembrava-se de como ele fez questão de trazê-la para

anto tempo ficou ali. Admirou o céu estrelado acima de sua cabeça, fechou os olhos e afundou até o queixo, na espuma cheirosa. Cochilou e despertou assustada. Observou os dedinhos de Brenda enrugados e achou que era a hora de sair. Ao desligar a hidromassagem, quando o silêncio imperou no banheiro, Louise continuou a escutar, ao longe, o liquidificador. Gritou o nome do marido, sem sucesso. Tomás nunca a ouv

entiu um cheiro forte de f

Tom

teve re

de bruços, no chão. O liquidificador dava sina

Tom

r um choque, pois já ouvira histórias semelhantes. Ao tentar virá-lo, Louise percebeu sangue embaixo do balcão, por baixo de Tomás. Muito sangue. Sua camisa branca estava imersa, pintada de vermelho escuro. O cheiro do sangue quente do marido revoltou

merg

a... Ele está sangrando muito... Eu... Eu

ro lado da linha era calma demais para uma ate

i, cheguei agora e ele est

sinais de arrom

ia ainda estar na espreita... Ou dentro da casa. Ao dar alguns passos silenciosos para longe do marido, avistou a bela porta francesa, que dava

e alguém e

A senhora está

ntiu um calafrio — Minha fil

orta e fique com ela! Não des

s para rastrear chamadas, assim como via nos filmes. Quando chegou ao quarto da filha, a sensação foi de alívio. Brenda brincava com b

fim respondeu — E meu mar

ão da mãe. Ao olhar para a filha, Louise não

ceu? Onde está o papai?

ar tudo be

poderia estar à espreita, na mata. Louise achava improvável, pensou que se alguém a quisesse morta já o teria feito. A solução era descer com Brenda as escadas e sair pela porta da sala. Rezou para seu chaveiro estar no aparador próximo à porta, já que não poderia procurar as chaves de Tomás na cozinha. Resolveu segu

r, me ajuda! A polícia vai chegar aqui em casa e eu preciso tirar Brenda pela p

— o pranto seguia n

— Brenda, confia na mamãe, eu preciso ajudar o papai, mas não posso fazer isto contigo aqu

dê o

ndo mal. Ajude, filha. Vai

á bem,

oflash através da janela do closet da filha. Abriu a porta e pediu que Brenda seguisse as instruções. Desceu cuidadosamente e com mu

ora? Alguma de vo

eu m

cuidar

a filha, ela deve estar lá na frente. E

rente, tomando todo o cuidado para não deixar a cabeça de Brenda voltar-se para a cozinha. Achava que não daria para ver nada dali onde estavam, mas era um risco que não poderia correr. Louise viu que a polícia estava na cozinha. Na rua, encontrou o frio da noite de inverno que cas

, Louise, o

ida. Tomás está com a

bem? — No

ra imediatamente voltou-se para o marido e

ar, liga —

e, me

do lago nos fins de semana, tomavam chimarrão e deixavam as crianças brincarem no gramado. Conversavam sobre as viagens

cial que precisava se vestir. Sem pensar, foi ao closet e colocou a primeira roupa quente que viu pela frente. Desceu as

ajudar? — Louise perg

gora, vamos aguardar a perícia e a polícia civil. É necess

omento, ficou sem ação. Empalideceu e teve a sensação de que as pessoas estavam mais distantes. Todos os sons fizeram-se

eu? Como posso estar bem? — não tinha certeza

m algum parente próximo ou um amigo q

a fora de cogitação. Os amigos de confiança moravam na capital. Pensou, naquela hora, que sua vida era muito solitária. Decidiu ligar para Lauren, ela saberia o que fazer. Em duas horas, Lauren che

dia aqui em casa, a polícia está aqui, eles dizem que Tomás

e informou que a amiga leva

u faço ag

enhora está em condições de contar duas vezes, por isso não vou lhe perguntar nada ago

tempo, da temperatura e dos seus pensamentos, sendo que, eventualmente, ouvia seus

avisando que a dona da casa não se encontrava bem. L

ção e Lauren dirigiu-se ao policial — Eu acho que ela está em choq

a quando enxergou Tomás deitado no chão, ensanguentado, sendo fotografado pela polícia em meio a plaquinhas amarelas numeradas. Tomás estava de barriga para cima. Lauren observou alguma perfuração no abdome do amigo, que parecia ser discreta, porém, era dali que o sangue se espalhava para o restante da camisa. Notou, pela conversa dos policiais, que o peri

nde estão a

vai acabar. Não posso acreditar que Tomás está morto. Ele estava aqui, agora, estávamos conversando, co

foi a pessoa que lhe estendeu a mão quando ela mais precisou, era seu amigo de verdade, talvez o único. Devia tudo o que era, tudo o que tinha, para Tomás. Não conseguia conceber a partida repentina de

que ir à polícia. Eu vou contigo. Temos muito a fazer, muito a pens

ren,

ar. Eu vou ficar aqui contigo e te ajudar pelo temp

s da amiga pareciam todos travados. Louise demorou muito para a

bia muito. Estava na banheira com a filha. Escutou o liquidificador. Desceu

ido tinha

muita gente — usar os verbos em relação a Tomás

lho, algum

ia e em outros negócios. Dividíamos todos os casos

fam

estava chateada

dele com a sen

estamos casados há 14. Temos dois filhos.

m dos dois? Alguma briga que a

eus! — Louise pe

tentando investig

falando do meu marido. O senhor

to nenhuma h

var que não fui eu. Um cidadão trabalhador nem pode desfrutar de uma noite tranquila em casa. De vítima passa a ser su

Caso se lembre de mais detalhes me procure. Vamos soli

nsa que teremos o corpo para

e e vamos ter que chamar algum médico de sobreavi

ar uma autópsia particular. C

i custar

ren, com olhar de desdém, ao cond

triste da vida de Lou

Ouviu a amiga falar com Teodora ao telefone. Imaginou que a

de suas vidas: o do próprio pai. Com as crianças na sala, os dois sabendo que algo errado havia acontecido, Louise não sabia por onde começar. Sua ex

sta noite na nossa casa. Seu pai... — engoliu

dizerem às crianças que o pai havia ido morar no céu, que estava num lugar melhor, que havia virado uma estrela, essas coisas que todas as pessoas dizem quando não têm nada melhor a dizer. Coisas mentirosas para quando a dor da perda é inevitável. Os filhos sofreriam de

u faço ag

paciência, chore, permita a seus filhos c

Eu não sei viver sem o Tomás.

ha. Vamos ficar aqui, até p

do e que sua vida nunca mais seria a mesma. Por volta das 8 horas da manhã, Lauren obrigou Louise a tomar um calma

olíci

s pensar na polícia agora, vamos nos dar o direito de nos despedir

tava, com que cara estava. Foi a primeira a entrar na capela, seguida dos filhos, que estavam amparados pelos avós. Tomás já repousava no caixão, mas Louise não teve coragem nem de chegar perto. Sentou-se e ficou como

te via olhares sobre si e alguns cochichos, mas ninguém mais a procurava, já que ela não respondia e nem olhava para ninguém. Viu Lauren incomodar-se com a imprensa. Tudo o que via parecia tão distante dela, como se estivesse observando

ja, convidava-a para dizer algumas palavras ao marido. Permaneceu imóvel. O que aquela pessoa poderia saber sobre Tomás? Os dois não frequentavam igrejas e tampouco lhe diriam a

desgraçaste a minha família toda. Só que eu não vou morrer, eu não saio desta vida sem te ver sofrer muito. Tu podes ter enganado esta gente toda, pousando de granfina e boa esposa, mas eu sei que tu não prestas, sei que tu não vales nada e tu sabes muito bem das coisas erradas que tu fizeste. Me

sada. Imersa em uma tristeza sem fim, Louise só chorou baixinho a cada palavra que Teodora pronunciava. Esperou que só ela tivesse escutado, mas n

raça para um dia só... Não sei quando

que Tomás amava, a tristeza

ir e ajudou os avós com as crianças. Esqueceu do pr

ntou organizar as ideias, sem sucesso. No meio da amargura e da tristeza, deitou-se no travesseiro de Tomás e respirou fundo o cheiro bom do marido, que estava

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