Eu estava no chão frio da casa de banho, com o teste de gravidez positivo na minha mão trémula, quando o Pedro, o meu noivo, me ligou. A sua voz estava cheia de uma alegria que eu não conseguia partilhar: a sua mãe, a temível Dona Helena, finalmente concordara em encontrar-se comigo. Aquela noite era a minha única oportunidade de ser aceite pela elite família Andrade. Mas, bem no meio do jantar crucial, o meu telemóvel vibrou com uma notícia devastadora: o meu avô, a minha única família, sofrera um acidente. O Pedro, no seu fato caro, hesitou quando pedi para ir. A Dona Helena, impassível, disparou palavras cruéis: "Depois de três anos... vai fugir por causa de um velho que provavelmente só tropeçou num tapete?" Ela forçou-me a uma escolha impossível: o Pedro ou o meu avô. E o Pedro? Ele não me defendeu, pediu-me para "verificar se era mesmo grave". Naquele instante, o meu estômago embrulhou-se. Como pude amar um homem capaz de hesitar quando a minha família precisava de mim? Como podia eu e o meu bebé viver num mundo onde o amor era condicional e humilhante? Não olhei para trás. Deixei o anel de noivado na sua mão. Aquela noite, na solidão do hospital, prometi ao meu filho que ele nunca conheceria uma família que me pedisse para abandonar a minha. Isto não era um fim; era um novo começo.