A primeira coisa que fiz ao acordar do coma, depois de três dias presa num túnel inundado e de ter perdido o meu bebé, foi pedir o meu telemóvel. A enfermeira hesitou, mas eu insisti. Mal abri o ecrã, ignorei as dezenas de mensagens dos meus amigos e familiares. O que prendeu os meus olhos foi a transferência de 50.000 euros do meu marido, Diogo. A mensagem que a acompanhava era curta e fria: "Sofia, desculpa. A Clara precisava mais de mim. Usa este dinheiro para a tua recuperação." Clara. A minha meia-irmã. A mulher que Diogo escolheu em vez da sua esposa e do seu próprio filho. Liguei dezoito vezes, enquanto me afogava, e ele não atendeu. Mas teve tempo para cuidar da perna partida da Clara e do rato doente da sua cadela Trovão. Quando a minha mãe entrou, vermelha de choro, defendia-o com unhas e dentes, enquanto a traição dela me apunhalava. «Ele cometeu um erro! As pessoas cometem erros! O teu pai cometeu erros! Eu perdoei-lhe!» «Tu não me compares a ti», rosnei. «As tuas escolhas são tuas. As minhas são minhas.» Olhei para a foto que Clara tinha publicado no Instagram: o meu marido, de joelhos, a dar comida ao cão dela, Trovão, com a legenda: "O meu herói. Salvou-me a mim e ao Trovão. Não sei o que faria sem ti, Diogo. ❤️" A raiva fria e profunda consumiu-me. Diogo, os nossos laços estão quebrados e não me vou render. Eu quero o divórcio. E a minha vida.