O telefone tocou, a voz do meu marido, Pedro, cheia de pânico. "Amor, a nossa filha, a Lia... ela caiu da escada na escola, está a caminho do hospital!" O meu mundo parou. Agarrei na mala e corri, o coração aos saltos. Quando cheguei, vi o Pedro nos braços da ex-namorada Sofia, que chorava com o pulso inchado. A Lia? Ela estava bem, apenas um arranhão no joelho. Pedro tinha-me mentido. O pânico na voz dele nunca foi pela nossa filha, foi por ela. A inocência da Lia, a dizer que "a tia Sofia magoou-se muito" e "o papá está a cuidar dela", era dolorosa. Eu vi ali um padrão: sempre que a Sofia precisava, o Pedro largava tudo, chamando-lhe "ser um bom amigo". Mas eu sabia que era outra coisa. Tentei pôr um limite: "Se puseres os pés na casa dela outra vez, peço o divórcio." Ele chamou-me irracional, mas as suas evasivas eram ensurdecedoras. Foi então que a minha sogra, Helena, entrou em casa como um furacão, defendendo Sofia e chamando-me ciumenta. Ela lançou a bomba: "A pobre Sofia... Ela ainda te ama, sabes. Ela disse que espera que tu um dia percebas o erro que cometeste." O Pedro não negou. O silêncio dele foi a resposta mais alta de todas. Entendi que o "erro" tinha sido casar comigo, e o meu mundo desabou. Mandei-o embora. Mas Sofia apareceu, arrogante, a gabar-se do amor de Pedro e a dizer que ele não era feliz comigo. Cada palavra era uma facada: "Ele ama-me, Ana. Ele só tem demasiado medo de o admitir por causa da Lia." Num ato de desespero e raiva gelada, lancei a minha grande mentira: "Eu estou grávida." Mentira para testá-lo, mentira para feri-la. O telefone dele explodiu de mensagens, mas o teste final veio quando Pedro, no dia da suposta "consulta de gravidez", me ligou. Ele estava a caminho, mas desviou-se para a urgência com a Sofia, cujo gesso estava "demasiado apertado". Ele escolheu-a de novo, sem hesitação, e eu tive a minha resposta, fria e dura. Deixei para trás a mentira e o homem que eu pensava conhecer. Agora, está na hora de acabar com isso e lutar pela minha liberdade.