Quando o médico me disse que precisava de um transplante de rim, o meu marido, Pedro, falava ao telefone. A voz dele era calma quando, do outro lado da linha, anunciou a quem ia salvar a vida. "Sim, é a tua cunhada, a Clara." Ele falava da minha vida como se fosse o tempo. Mas havia um problema: eu também precisava de um. Fui diagnosticada com insuficiência renal, mas a minha família por casamento já tinha decidido o meu destino: o meu rim seria para a minha cunhada, Sofia. A minha sogra chamou-me de "egoísta" por me recusar a ser peça de reserva. O meu sogro, chefe do hospital, ameaçou arruinar-me se não cedesse. Até a Sofia, a quem eu deveria "salvar", me amaldiçoou e desejou a morte quando me recusei. Fui expulsa da minha casa, sem dinheiro, e com a saúde a piorar. Ninguém me perguntou. Ninguém me pediu. Decidiram por mim. Mas eu não ia deixar que me roubassem mais nada. Não ia morrer para os manter felizes. Eu ia lutar pela minha vida, custasse o que custasse.