O meu irmão mais novo, Leo, foi diagnosticado com leucemia aguda. Eu, a única compatível, larguei tudo para voar de volta a Portugal e salvá-lo. O meu noivo, Miguel, recebeu-me com apoio, o que me confortou neste caos gelado. Mas no hospital, uma cena peculiar chamou a minha atenção. Os meus pais, suplicantes, corriam para o quarto de uma desconhecida chamada Inês. A sensação era estranha, e a verdade, quando a descobri, virou o meu mundo de cabeça para baixo. "Come um bocadinho, Inês. A Eva já concordou com a doação. Em breve, terás uma nova vida." A voz da minha mãe, cheia de carinho, falava com a mulher pálida no quarto 302. O meu sangue gelou. A doação era para o Leo, não para ela! Depois, a descoberta chocante nos arquivos: a Inês era irmã dos meus pais, uma tia que eu nunca soubera que existia. E o Leo? Ele não tinha leucemia. Tinha anemia aplástica e era o dador para a Inês. Eu era a dadora para o Leo. Um esquema de "transplante em cadeia". Eles tinham mentido sobre a doença do meu irmão para me coagir. A raiva e a náusea subiram, mas o golpe final veio de Miguel: ele sabia de tudo. Como puderam? A pessoa em quem mais confiava também me traiu. Fui apenas uma ferramenta, um saco de medula óssea sem vontade própria. A família que eu pensava conhecer era uma teia de mentiras cruel. Chega! A cirurgia está cancelada.