A água gelada subia rapidamente, e eu, grávida de nove meses, tremia no carro avariado com a minha mãe, no meio de uma inundação súbita. O pânico estava a instalar-se, e o meu único pensamento era o meu Miguel, o pai do nosso filho. Com dedos trémulos, liguei-lhe. A voz dele, no meio do barulho da chuva, era impaciente e distante: "Estou ocupado. A Beatriz está em pânico. O gato dela está a tremer." Ele desligou-me na cara, bloqueou-me. Fui abandonada ali, com a minha mãe e o meu filho prestes a nascer, à mercê da fúria da água. Acordei num quarto de hospital, a barriga vazia. O meu filho, o nosso filho, não tinha sobrevivido. Miguel, e o seu pai, Jorge, entraram no meu quarto, não com remorso, mas com irritação e acusações cruéis. "Que susto nos pregaste!" "Estás a ser irracional!" Miguel teve a audácia de culpar a minha ansiedade pela tragédia, enquanto Beatriz, sem querer, revelou a verdade devastadora: Miguel já estava com ela "horas antes" da tempestade. Não foi uma emergência; foi um encontro pré-agendado. O meu filho morreu porque o pai dele escolheu salvar o gato de outra mulher. A minha vida, a vida do nosso bebé, foi apenas uma interrupção inconveniente para o seu dia. A mentira, a traição, a insensibilidade - tudo se tornou claro, transformando a dor em raiva gélida. Naquele momento de desespero, olhei-o nos olhos e pronunciei as palavras mais libertadoras: "Quero o divórcio." Este não era o fim para mim, mas sim o meu novo começo.