Grávida de oito meses, esperava ansiosamente o meu marido, Leo, um bombeiro, que regressava de um desabamento no centro da cidade. Estava preocupada, mas confiava no nosso futuro. Ele chegou, coberto de pó, mas a sua voz era fria, distante. Não atendia o telemóvel porque estava com a ex-namorada, Clara, a confortá-la devido a... um gato assustado. O meu coração apertou-se, mas o ventre começou a doer intensamente. Pedi-lhe ajuda, implorei por uma ambulância, mas ele revirou os olhos, acusando-me de dramatizar. "Não compares a tua dor com o ataque de pânico da Clara!", disse ele, com um riso sem humor. Minutos depois, o sangue escorria pelas minhas pernas. Desmaiei. Acordei no hospital, com o ventre vazio. O nosso bebé não sobreviveu. Eles pensam que a culpa é minha! Leo, que me deixou a sangrar, teve a audácia de dizer ao médico: "Eu disse que ela estava a exagerar!". Pouco depois, a sua mãe, Helena, chegou, não para me consolar, mas para me acusar de "stress" e enaltecer a "doce Clara". Como puderam ser tão cruéis? O meu filho morreu e eles só se preocupam consigo próprios e com a ex-namorada dele! Ali, sozinha, no vazio do meu ventre e da minha alma, percebi que o meu casamento nunca existiu. Nunca fui amada, protegida. Não mais. Ergui o telefone, procurei um advogado. Vão pagar por isto. Vou lutar pela minha liberdade. Vou renascer das cinzas.