A dor aguda na minha barriga acordou-me às três da manhã. Grávida de nove meses, percebi uma mancha escura a espalhar-se no lençol: sangue. Agarrei no telemóvel para ligar ao meu marido, Tiago, o pai do meu filho, mas a chamada foi para a caixa de correio. Depois de várias tentativas desesperadas, ele atendeu, sonolento e com música alta ao fundo, antes de desligar, dizendo: "É só a Sofia a fazer drama." Disse que estava a cuidar da sua irmã "doente", Lara. No hospital, recebi a notícia que me destruiu: "Perdemos o bebé." Tiago apareceu horas depois, não como um pai em luto, mas como alguém incomodado, culpando-me e à minha "dramatização". Até o meu sogro me disse para não o perturbar com "ninharias", pois a Lara tinha uma "febre". O meu filho morreu enquanto a sua família se preocupava com a febre de uma adulta? A traição, a indiferença e a dor eram insuportáveis, mas não havia lágrimas, apenas um vazio imenso. Mas o vazio transformou-se em raiva gélida quando, ao arrumar as minhas malas para o divórcio, encontrei o recibo de um bar com a data daquela noite. E então, a foto no Facebook: Tiago e Lara, festejando e rindo, "a celebrar a vida", na mesma noite em que eu estava a sangrar até perder o nosso bebé. Não havia doença, apenas uma mentira cruel e descarada. A justiça seria servida. Eu ia desmascarar cada uma das suas mentiras e fazê-los pagar por terem roubado o meu futuro e o do meu filho.