Por anos, tolerei que o meu marido, Pedro, desse prioridade à amiga de infância, Clara. Eu acreditava no nosso amor e no futuro com Léo, o nosso filho que esperávamos. Até ao dia do incêndio no nosso prédio. Em pleno trabalho de parto de emergência, liguei-lhe dezassete vezes, mas ele estava ocupado a "salvar" Clara e o seu gato. Léo nasceu em estado crítico, sozinho na incubadora da UCI. No hospital, vi a foto de Clara no Instagram, com Pedro abraçado, apelidado de "herói". Ele atendeu a minha chamada com irritação, priorizando a dor dela pela morte do gato. O seu pai, Ricardo, ligou-me, acusando-me de egoísmo por querer o divórcio. O meu coração estilhaçou-se. Como era possível um gato ser mais importante que o nosso filho a lutar pela vida? A raiva tomou-me, mas a frieza veio com a revelação chocante. Clara, sem querer, disse a terrível verdade: Pedro estava com ela horas antes do incêndio sequer começar. O "herói" era uma fachada. Ele tinha-me abandonado para encobrir a sua traição. Aquele momento de total clareza e desprezo selou o nosso destino. Respirei fundo, não em desespero, mas com uma determinação gélida. Estava na hora de uma nova luta. E eu ia ganhar.
