O telefone tocou, a chamada que esperei há três longos anos em diálise. "Senhora Clara, temos um rim compatível." Cem mil euros. Aquele era o nosso fundo de emergência, o dinheiro que eu e o meu marido, Miguel, tínhamos poupado para a minha vida. A alegria fez-me tremer enquanto ligava ao Miguel, mas a sua voz tensa e o silêncio do outro lado eram agourentos. "Clara, sobre o dinheiro... tive de o usar." Ele tinha-o dado à irmã, Sofia, para salvar o seu "negócio falido." Menos de 140 euros na nossa conta. A minha vida, reduzida a isso. No hospital, Miguel e a sua mãe, Helena, não vieram apoiar, mas humilhar. "És um fardo! A tua doença arruinou tudo!" Helena adicionou que o dinheiro era para o meu "corpo defeituoso." O choque? Fotos de Sofia no Instagram: viagem de noivado luxuosa a Paris, anel de diamante. O "negócio falido" era uma farsa. O meu mundo desabou. Não me roubaram só a esperança de viver, cuspiram-me na cara e chamaram-me egoísta. A minha vida trocada por luxo e vaidade! Uma raiva implacável acendeu-se no meu peito. Com o telefone estilhaçado nas mãos, a imagem de Sofia feliz em Paris gravada no ecrã partido, a minha decisão estava tomada. Não ia morrer. Não ia perdoar. Liguei ao meu irmão Leo, que afastei por causa deles. Era hora de lutar pela minha vida e fazê-los pagar por cada mentira.