O som estridente do metal se contorcendo ecoou por um segundo que pareceu eterno. Pneus deslizaram sobre o asfalto molhado, e o mundo, para Carlos Augusto, apagou-se.
Tudo o que vinha antes - o riso, a pressa, os planos deixados para amanhã - foi engolido por um silêncio profundo. Um vazio onde nem o tempo ousava passar. Ele tinha apenas 23 anos. Jovem, intenso, distraído com a ilusão de que a vida era infinita.
Foram dez dias de coma. Dez dias em que médicos murmuravam termos técnicos e familiares sussurravam promessas e preces ao seu ouvido. Mas ele, mergulhado em alguma outra dimensão entre o corpo e o espírito, não respondia. Ninguém sabia onde Carlos estava, ou se voltaria.
Então, na manhã do décimo primeiro dia, os olhos se abriram. Devagar, como quem desperta de um sonho longo demais. Primeiro, apenas luz. Depois, formas borradas. Por fim, rostos. E lágrimas.
Havia algo diferente em seu olhar - mais sereno, mais presente. Era como se ele tivesse nascido outra vez, carregando em si a sabedoria silenciosa de quem esteve perto demais do fim.
Carlos Augusto não se lembrava de tudo, mas sentia. Sentia, no fundo da alma, que havia ganho uma segunda chance. E com ela, uma verdade simples e avassaladora: a vida é curta demais para ser desperdiçada.
Naquele dia, ainda deitado em lençóis hospitalares, ele fez um pacto consigo mesmo. Viveria com verdade. Abraçaria com intensidade. Amaria sem medo. Cada momento seria precioso, cada escolha, consciente.
Ele não sabia ainda o que o esperava - quais desafios, quais descobertas. Mas uma coisa era certa: Carlos Augusto havia despertado. E com ele, despertava uma nova história.