podemos não sair vivos desta vez. Explosões ressoam no céu e nas minhas calças. Estou encharcada de suor. Ian, de inıćio, estava vestindo uniforme camulado, mas eu o arranquei com os dentes. E por isso que sei que estou sonhando - minha boca não é tão hábil assim. Na vida real, eu quebraria um dente no zıṕer dele. O despertador berra outra advertência. Minha mente despertando grita: Levanta ou vai se atrasar! Eu me envio mais ainda sob as cobertas, e meu inconsciente vence. Ian dos Sonhos me joga por cima do ombro, como se estivesse tentando ganhar uma Medalha de Honra, e então caıḿos em um beliche de metal. Outra indicação de que isso é um sonho é o fato de que a parte carnuda da minha bunda bate na quina do beliche, mas não dói. Ele se esfrega em mim e balança a cama. Eu arranho suas costas. - Nós vamos ser pegos, soldado - eu gemo. Sua boca cobre a minha, e ele me lembra: - Aqui é uma zona de guerra; podemos fazer quanto barulho quisermos. Uma saraivada de tiros de metralhadora soa do lado de fora. Botas pesadas fazem barulho rumo à porta trancada. - Rápido, precisamos fazer uma barricada! - eu imploro. - Mas como? Não há nada de útil aqui, apenas aquele chicote de couro e meus coturnos que vão até os joelhos! Ele me puxa contra a porta, e nós nos olhamos. A solução de repente se torna clara: teremos de usar nossos corpos como um bloqueio sexy. - Ok, toda vez que eles chutarem a porta, eu vou entrar em você, entendeu? No três: um, dois... Assim que meu sonho chega à parte boa, meu celular começa a tocar "Islands in the Stream", de Kenny Rogers e Dolly Parton. O country pop dos anos 80 soa no volume máximo. Ouço sintetizadores. Eu gemo e me forço a abrir os olhos. Ian mudou meu toque novamente. Ele faz isso algumas vezes por mês. A anterior era outra música boba de dois velhos malucos. Pego o celular e o puxo para baixo das cobertas comigo. - Tá, tá - eu respondo. - Já tomei banho e estou passando da porta. - Você ainda está na cama. A voz profunda e rouca de Ian dizendo a palavra "cama" faz com que coisas engraçadas aconteçam no meu estômago. Ian dos Sonhos está se misturando com o Ian da vida real. Um deles é um tenente bonitão com braços de aço. O outro é meu melhor amigo, cujos braços são feitos de um metal que nunca tive o prazer de sentir. - Dolly Parton desta vez? Sério? - pergunto. - Ela é um tesouro nacional, assim como você. - Como você arruma essas músicas? - Eu tenho uma playlist no celular. Por que você está respirando com tanta dificuldade? Parece que você daria conta de embaçar um espelho. Ai, meu Deus. Eu me sento e me livro dos resquıćios do sonho. - Adormeci vendo as reprises de M*A*S*H novamente. - Você sabe que há outros programas para ver, não sabe?! - Sim, sei, só que ainda não encontrei um homem que me excite como Hawkeye. - Você sabe que Alan Alda está na casa dos 80, certo? - Ele provavelmente ainda tá com tudo em cima. - Se você diz, Hot Lips... Eu gemo. Assim como acontecia com a Major Houlihan, esse apelido me irrita... um pouco. Afasto os cobertores e planto os pés no chão. - Quanto tempo eu tenho? - O primeiro sinal toca em trinta minutos. - Parece que vou ter que pular aquela corrida matinal de mais de dez quilômetros que estava pretendendo fazer. Ele ri. - Arram. Começo a vasculhar o armário, procurando um vestido e um cardigã que estejam limpos. Os requisitos de vestimenta dos funcionários da nossa escola me obrigam a me vestir como a versão feminina do sr. Rogers. Hoje, meu vestido de verão é vermelho-cereja, e meu cardigã é rosa-claro, apropriado para o primeiro dia de fevereiro. - Alguma chance de você ter enchido uma garrafa térmica extra com café antes de sair de casa? - pergunto, esperançosa. - Vou deixar na sua mesa. Meu coração palpita de gratidão. - Quer saber, eu estava errada - eu provoco, fazendo um tom afetado e apaixonado