- É sério, Emma? Um ano? - O quê? - Tentando ignorar o rubor subindo pelo meu pescoço, concentro-me em consumir o resto do meu crepe de vinte e dois dólares. - Tenho andado ocupada. - Com seus gatos - diz ela incisivamente. - Todos os três. Encare: você é a Senhora dos Gatos. Olho por cima do meu prato e reviro os olhos. - Tudo bem. Se você insiste, então sim, eu sou a Senhora dos Gatos. - E você está bem com isso? - Ela me dá um olhar incrédulo. - Perdão? Devo saltar da ponte do Brooklyn em desespero? - Encho minha boca com o ultimo pedaço de meu crepe. Ainda estou com fome, mas não vou pedir mais nada do menu supercaro. - Gostar de gatos não é crime. - Não, mas passar todo o seu tempo livre pegando caixas de areia enquanto mora em Nova York é. - Kendall empurra seu próprio prato vazio para longe. - Você está em uma idade privilegiada para pegar um cara, e você simplesmente não sai com eles. Eu suspiro exasperada. - Porque eu simplesmente não tenho tempo – e além disso, quem disse que eu quero ficar com alguém? Eu estou perfeitamente bem sozinha. - Diz ela, repetindo o que todas as outras Senhoras dos Gatos dizem de si mesmas. Honestamente, Emma, quando foi a última vez que você teve relações sexuais com outra coisa senão seu vibrador? Kendall não se incomoda em abaixar a voz quando diz isso, e sinto meu rosto ficar vermelho novamente quando um casal gay na mesa ao nosso lado olha e ri. Felizmente, antes que eu possa responder, a bolsa Prada de Kendall vibra. - Ah. - Ela franze a testa enquanto pega o celular e lê o que a tela diz. Olhando para cima, ela faz um gesto para o garçom. - Eu preciso ir - diz se desculpando. - Meu chefe acabou de ter uma epifania sobre o design do vestido com o qual ele vem lutando, e precisa que eu pegue alguns modelos para ele, imediatamente. - Não se preocupe. - Estou acostumada com o trabalho imprevisível de Kendall na indústria da moda. Alcançando meu cartão de débito, digo: - Voltamos a nos ver em breve - e pego meu telefone para ver meu saldo na conta corrente. congelamento, e a estação de metrô que eu preciso fica acerca de dez quarteirões de distância do local do brunch. Ainda assim, eu ando porque: a) meus quadris poderiam fazer bom uso do exercício, e b) eu não posso fazer mais nada. Essa saída esgotou meu orçamento de fim de semana até o ponto em que vou ter que empurrar minha ida ao supermercado para segunda-feira. Eu disse a Kendall para parar de me levar a lugares caros, mas eu deveria saber que ela não consideraria um brunch de 25 dólares tão caro. Na cidade de Nova York, isso é praticamente gratuito. Para ser justa, Kendall não sabe o quanto minhas finanças estão ruins. Meus empréstimos estudantis não são algo que eu goste de falar. No que diz respeito ao que ela sabe, eu moro em um estúdio no porão no Brooklyn e uso cupons porque gosto de economizar dinheiro. Ela mesma não está exatamente ganhando milhões – ser assistente de um estilista promissor não paga muito mais do que meu trabalho em livraria e de revisão – mas seus pais cobrem a maior parte de suas despesas, então, todo o seu salário é gasto em roupas e vários luxos. Se ela não fosse uma boa amiga, eu a odiaria. Quando entro na estação de metrô, quase tropeço em um sem teto descansando nas escadas. - Desculpe - murmuro, prestes a sair correndo, mas ele me dá um sorriso desdentado e estende uma bolsa marrom na minha direção. - Tudo bem, mocinha - ele insulta. - Quer um gole? Parece que você precisa de uma bebida. Assustada, eu recuo. - Não, obrigada. Eu estou bem. - O quão horrível devo parecer se pessoas sem teto estão me oferecendo álcool? Talvez haja algo de verdadeiro no diagnóstico de Senhora dos Gatos de Kendall. Dando de ombros, o homem toma um gole da bolsa marrom, e desço as escadas antes que ele se ofereça para compartilhar algo mais comigo – como as moedas no chapéu ao lado dele. Estou precisando de dinheiro, mas não estou tão desesperada assim. Ridge, meu bairro no Brooklyn. No segundo em que saio, uma rajada de vento me atinge o rosto. Uma rajada de vento e algo molhado. Neve caindo. Ótimo. Maravilha. Rangendo os dentes, agarro as lapelas do meu velho casaco de lã, tentando evitar que as duas pontas se separem do meu pescoço, e começo a andar. Eu não moro tão longe do metrô – apenas a cinco quarteirões –, mas são quarteirões longos, e eu amaldiçoo cada um deles quando a chuva gelada se intensifica. - Cuidado - uma mulher corpulenta grita ao esbarrarmos e eu automaticamente murmuro um pedido de desculpas. Não é totalmente minha culpa – são necessárias duas pessoas para esbarrar uma na outra – mas não é da minha natureza ser rude. Meus avós me criaram muito bem. Quando finalmente chego ao local onde estou alugando meu estúdio no porão, sinto que escalei o Monte Everest. Meu rosto está molhado e congelado, e apesar dos meus melhores esforços para manter meu casaco fechado, a neve entrou, me esfriando por dentro. Eu sou uma daquelas pessoas que têm que ter a metade superior do corpo quente. Posso tolerar pés gelados – eu também os tenho, já que meus tênis não são à prova d'água – mas não suporto ter água fria escorrendo pelo meu pescoço. Se eu tinha ficado brava com o Sr. Puffs por rasgar meu cachecol de aparência decente antes, não é nada comparado a como me sinto agora. Aquele gato vai ver só. - Puffs! - grito, empurrando a porta e entrando no meu apartamento de um quarto. - Venha aqui, sua criatura maligna! O gato está fora de vista. Em vez disso, Rainha Elizabeth me dá um olhar plácido da minha cama e lambe sua pata, em seguida, começa a se arrumar, alisando cada pelo branco fofo no lugar. Cottonball está ao lado dela, dormindo no meu travesseiro. Ambos os felinos parecem quentes, contentes e totalmente despreocupados, e não pela primeira vez, sinto uma ponta de inveja irracional em relação aos meus animais de estimação. Eu adoraria dormir o dia todo e ter alguém para me alimentar. Tremendo, tiro meu casaco molhado, penduro-o no gancho perto da porta e me livro dos tênis. Então, vou em busca do Sr. Puffs. Eu o encontro em seu novo lugar favorito: a prateleira de cima do meu armário. É onde eu mantenho chapéus, luvas, cachecóis e bolsas – não que eu tenha