Sua raiva era ainda mais forte agora mas infelizmente para ele essa mesma raiva não lhe servia para nada na situação em que estava. Machucado, sem camisa e bem no meio de uma nevasca de 23 de Dezembro. Sem cecular e sem forças para continuar a caminhar o garoto pensou que pelo menos não morreria por golpes de integrantes de uma guangue inferior a sua, mas sim, por hipotermia em um beco qualquer. Não que essa fosse uma morte melhor.
O cheiro de sangue nunca o causava incômodo no entanto, agora, sentia sua cabeça pesar e seu estômago revirar com a mistura de sal e ferrugem em suas narinas. Ele fez o que estava ao seu alcance naquele momento que era somente fechar seus olhos e respirar pausadamente para estabilizar e relaxar seu corpo. Estava indo bem até que de repente seu corpo tomba para trás. Sem aviso ou pré suposição sua cabeça se torna pesada de mais para se manter firme sem ajuda do metal que antes a apoiava.
Seus olhos abertos captam o céu sumindo e um teto de madeira surge em seu campo de visão, o impacto entre o chão e sua cabeça é amortecido por algo confortável, as costas tocam o chão morno o que faz com que seu corpo tenha um leve choque térmico mas talvez não tenha sido esse o motivo de os poucos pelos do braço se ericiçarem. Agora de olhos semicerrados Mikey acompanha cada gesto que a garota acima de sí faz.
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Em uma tarde de inverno, enquanto Mahina Yukimura descia depressa os degraus da escada do prédio em que morava com o pai, ela se depara com um corpo que cai aos seus pés após abrir a porta dos fundos. Os fios loiros do garoto cobriram suas botas brancas quase que por completo quando a cabeça tombou para trás de forma abrupta. Provavelmente ele estava encostado a porta que ela abriu com rapidez, isso foi o que deduziu, assim como também observou seus ferimentos e seu abdômen desnudo. Se curvando lentamente a garota toca um pouco abaixo do maxilar definido, pressionando a carótida do loiro para verificar a pulsação. no mesmo instante com uma rapidez assustadora a mão fria do desconhecido agarra seu pulso com força a fazendo recuar instintivamente. Neste momento os olhos de ambos se cruzam e tudo o que ela consegue pensar é que o estranho precisava de ajuda, e como aqueles olhos eram hipnotizantes.
As orbes negras e profundas encaram as suas. Com todo o cuidado e delicadeza a jovem sorri para o estranho.
- Calma. Eu não vou machucar você okay?... – Nenhuma resposta sai da boca do mesmo, apenas uma risada soprana – Você está machucado e vai precisar de uns pontos aí no ferimento. Vou chamar o socorro.
Antes que ela possa discar o número na tela do celular o garoto volta a se movimentar rapidamente. Dessa vez, segurando seu outro pulso a fazendo ficar imóvel e levemente assustada. Assim como também a fez ficar com o corpo parcialmente por cima do jovem. Sua atenção foi diretamente para o abdômen definido, se demorando um pouco mais no umbigo do mesmo.
Aos dezessete anos Mikey se viu em uma situação que não era nem de longe do seu agrado. Não que ter o seu rosto muito próximo dos seios de uma garota o deixasse indiferente,na verdade isso era algo que ele nunca recusaria mas por alguma razão agora se sentia profundamente incomodado com o corpo da pequena garota tão perto do seu. Incomodado ao ponto de notar o quanto o cheiro dela era doce e muito agradável e o como a pele era macia e delicada. Incomodado o suficiente pra forçar minimamente sua visão apenas para averiguar se o sutiã que ela usava por baixo da blusa de lãn talvez fosse branco ou rosa. Não que ele tenha conseguido ver ou que se importasse, apenas deixou sua mente incomodada, imaginar.
- Não. Sem ligações.
Essas três palavras são ouvidas por Mahina e soa tão autoritárias quanto as palavras dos tios ou mesmo do pai. Coisa que ela odiava. No entanto não foi a autoridade na voz dele que de fato a fez arrepiar e arquear um pouquinho mais. E sim porque o garoto estava tão próximo de sí que ela pode sentir o hálito quente que agora acariciava os bicos dos seios desnudos por baixo da lãn azul que usava. Foi bom!? Ela gostou daquilo? Talvez mas não esperaria por mais. Se desvencilhando das mãos frias do garoto ela se afasta ainda um pouco ofegante.
- E-entendi... mas não posso deixar você aqui assim. Venha comigo eu mesma darei os pontos.
Talvez Mikey quisesse protestar e recusar a ajuda dela, talvez ele realmente devesse ter recusado, mas não o fez. Usando o corpo dela como apoio. Com um braço em volta do seu pescoço e o outro rodeando sua cintura fina os dois sobem os lances de escadas até o quarto andar. Caminhando já com um pouco de dificuldade finalmente ela para frente a uma das três portas daquele corredor e retira suas chaves de um dos bolsos da saia plissada.
Adentrando no apartamento a garota guia seu corpo até o sofá de camurça que há no centro da sala. Ele senta com certa dificuldade enquanto a observa cruzar um corredor e sumir por uma das portas mas logo reaparecer com uma caixinha de primeiros socorros nas mãos.
Sorrindo tímida se aproxima colocando a caixa no chão.
- Okay vamos lá eu vou fazer a acepcia do machucado primeiro tá? Não vai doer muito mas é provável que incomode. – Sem nenhum esboço de qualquer reação da parte do mesmo ela apenas continua. - Okay...
Suas mãos tocam a ponta do queixo e a outra vai no machucado. Com o algodão ela passa delicadamente mas fazendo um bom trabalhando limpando muito bem o sangramento. É quase torturante para ele que ela seja tão meiga e delicada mas ao mesmo tempo tão aplicada em sua tarefa. E também é desconcertante que a boca dela seja tão rosada e chamativa, "é quase um convite" ele pensa. "Não Mikey, nem ferrando!"