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A bela e a fera (mafioso)

A bela e a fera (mafioso)

5.0
5 Capítulo
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Sinopse

Índice

Me arrastaram de casa. Literalmente. Mas não nego: parecia legal. Era Réveillon e eu estava com minhas amigas na Itália, o que poderia dar errado? Desmaiar nos braços de um mafioso no meio de um tiroteio nunca teria passado pela minha cabeça paranoica. Conhecido como el soldato del maestoso caos, Leon Vícezzo fazia jus ao seu título desde que subiu ao trono no lugar do pai. A fera da máfia italiana comandava o império honrosamente com punhos cobertos de sangue, não conhecia o desrespeito, a não submissão ou laços fora da máfia. Isso até pegar a si mesmo observando uma princesa fajuta ferida e suja de tinta entre os lençóis de um de seus quartos. Pode existir quem diga que o cenário aparenta ser um conto de fadas, mas era o mafioso quem escrevia a história enquanto eu insistia em usar meus pincéis para colorir as páginas. Essa era a questão. Éramos opostos em tudo. Ele se fazia escuridão. Eu insistia na luz.A fera rejeitaria ser chamada de príncipe. A princesa não passava de uma plebéia. Ele me apontava como certinha demais. Eu via nele perversão e desordem. O problema? Artistas costumam ter picos de loucura e enxergar beleza onde ninguém mais pode vê-la e eu tinha certeza de que veria facilmente uma obra de arte naqueles olhos azuis como o mar à noite, na orla do manto do soldado feita de escuridão, na história cortada por caos e cores que estávamos construindo.

Capítulo 1 Nota da autora

Prontas para o primeiro pilar? Antes de tudo, precisam saber que este é um livro único com início, meio e fim. Trata-se do primeiro da coleção legados de sangue, composta por histórias independentes de mafiosos que fazem parte da maior união de poder e sangue da máfia Italiana. Aqui, você encontrará: um romance na máfia com muita ação e cenas que podem trazer desconforto para alguns leitores, contendo os gatilhos e conteúdos de: Violência explícita, morte, abandono parental, depressão, tortura física graficamente descrita, tortura psicológica e cenas sexuais descritivas.

Você também encontrará uma hierarquia diferente do habitual e com algumas adaptações. Preparem-se para conhecer El soldato del maestoso caos e sua bela pintora em um hate to lovers gostoso de bom! Espero que recebam meus bebês com o coração aberto e que, assim como eu, se apaixonem por Leon e Bruna e sua história inesquecível. Boa leitura! Com carinho, pandinha.

"Para todos aqueles que se sentem desencorajados por conta de outras pessoas. Mostrem a elas seu maior pecado: Não conhecer quem você realmente é e do que é capaz".

Eu segurava o banco do carro com força suficiente para fazer o revestimento virar migalhas entre meus dedos. Com uma teia de sentimentos distintos correndo nas veias, era impossível manter meus olhos longe da grande linha escura carimbada ao chão pelos pneus desgastados e era inevitável ignorar o cheiro de borracha queimada. Porém, em segundos, tudo ao redor virava um grande e contínuo borrão me impedindo de ver o mínimo. Era como se eu estivesse mesclando entre dois mundos paralelos. Em um eu estava sóbrio; no outro, bêbado demais. O som dos motores unia-se aos ruídos das balas ao fundo. Eu poderia dizer que em um determinado momento enxerguei os projéteis ricochetearem à nossa volta quase em câmera lenta. Eu estava vivendo o famoso inferno de adrenalina, como meu pai chamava, um inferno governado pelos grandes onde eu era o aprendiz. Dei um tapa no teto do carro. Mesmo com as janelas fechadas, eu não conseguia conter a energia eufórica.— Invia di più, figlio di puttana! (Manda mais, filho da puta!) — Não perca o foco, Leon. Meu padre me repreendeu de forma calma e invejável, lançando-me um olhar tenebroso pelo espelho do carro. Sua postura habilmente contida e pacífica em meio ao caos não era algo novo, mas me fazia o admirar toda vez que a via em ação. Na mesma linha, não era surpresa a perceptível euforia entranhada nas minhas veias, claro, um moleque de dezesseis anos vendo toda aquela ação de perto, mesmo que no banco de trás e não no volante como eu desejava, não poderia agir diferente. Ajeitei a postura com tempo suficiente de vencer o impacto que me puxou para trás enquanto meu pai se inclinava sobre o volante, nos fazendo voar pela pista. — Está pronto? — Ele me encarou e, esticando o sorriso mais largo que consegui, levantei minha pistola. — Desde que pisamos na estrada. — Padre me deu um aceno e eu o espelhei, antes de conferir o pente uma última vez. Seus olhos se concentraram numa sondagem na área e eu repetia cada ação como um reflexo. — Quando pararmos não terá volta. — Deixou escapar enquanto o carro assobiava junto ao vento. — Eu disse que seria hoje. Não estou com medo ou algo do tipo, mio padre. Em breve essa primeira operação não passará de um marco inicial, do meu marco inicial.Percebi seu meio sorriso enquanto girava o volante, mas, junto a sua satisfação em me ver decidido, captei nitidamente a leve hesitação. Eu sabia qual era o motivo, todos sabiam, e as palavras de minha madre ainda reverberavam em minha cabeça como julguei ecoar na dele. Ela nunca apoiou a minha "entrada" no mundo da máfia, mesmo sabendo que, ao se casar com Karl Vicenzo, líder de um dos pilares mais poderosos da máfia italiana, seu fruto já não pertenceria a ela, mas à organização. Madre nunca escondeu a indignação de ver o filho manuseando e estudando todos os tipos de armas ou participando das reuniões dos homens de honra. Ela fazia questão de banalizar as regras e a herança da famiglia. No entanto, mesmo sem seu apoio, eu seguiria por aquele caminho. Era o meu destino, estava traçado. Pegar numa arma pela primeira vez deveria transmitir apreensão, não prazer; deveria dar medo, não a sensação de estar vivo. Mas ali estava eu, sentindo que poderia derrubar o mundo se eu quisesse. O carro parou bruscamente em um acostamento. Saltamos para fora juntos. Aquela estava sendo, de fato, a melhor sensação que eu já tinha vivido em toda a vida. Era diferente de tudo que eu já tinha visto, uma operação real, fruto de meses de trabalho, o fim da linha para o comandante da maior teia inimiga que nós, os Vícezzo, enfrentávamos. Paul, a escória fincada na Itália, estava vindo ao nosso encontro como um pato na lagoa prestes a ser abocanhado pelos crocodilos. Padre havia levantado o juramento no qual afirmava se certificar de que nossos territórios permaneceriam debaixo de nossos pés, nossas riquezas empilhadas dentro de nossos cofres e a coroa de honra circulando em nossas cabeças. Ele estava disposto a fazer tudo isso acontecer. Era o plano perfeito, a estratégia certeira e o lugar, sem margens de erro. Era uma das operações mais importantes para meu pai e, consequentemente, para mim. Até que uma voz familiar — não contida em nenhum canto do nosso mapeamento de ação — ecoou pelo lugar. — Leon Vicenzo! Era madre. Ela estava descendo do carro do outro lado da pista e sua postura apontava o trajeto ao espaço à nossa frente. Ághata Vícezzo estava fazendo o que sempre soube fazer de melhor, ignorando e banalizando absolutamente tudo que envolvia a máfia. Ela sabia que estaríamos em uma operação e que aquela era a aba na qual a palavra "perigo" reluzia em advertência até mesmo aos regentes do caos. No entanto, lá estava ela, disposta a desafiar Karl Vícezzo, bater de frente, como ela disse que faria. Ele passou adiante sinalizando aos nossos homens antes de gritar para mim. — Vou resolver, fique onde está, é uma ordem. — Padre, ela está na linha de risco! — vociferei. Exposta e vulnerável, mas disposta e orgulhosa como sempre fora, vi-a levantar o queixo e cruzar os braços. — Traga meu filho até mim agora, Karl! Nós vamos pra casa — gritou, encarando os homens armados, preparados para o combate, frente a frente com nossos inimigos. — Saia da frente, Ághata! Vamos abrir fogo a qualquer momento — ele a repreendeu. — Abram em cima de mim! — Madre o desafiou, mantendo os braços cruzados. Mesmo de longe percebi que meu pai se contorcia. A grega era teimosa, mas ele não podia negar que ela tinha um lugar em seu coração de pedra. Vi quando ele levantou um dedo. — Sigam o mapeamento, assim que aparecerem, fogo. Minha garganta quase fechou quando ele disse aquilo. — Vocês estarão na linha… — falei, entredentes. — Me ouviram? — ele perguntou, me ignorando. Os homens levantaram uma demonstração de afirmação em uníssono enquanto ele seguia até a mulher plantada ao lado do próprio carro. No entanto, para nossa desgraça, o som de pneus derrapando pela pista não tardou a ficar mais alto, olhei diretamente para a algazarra que se aproximava tão rápido quanto eu conseguia piscar. Eram muitos carros e estavam recheados de soldados inimigos prontos para matar. Era o fim. O nosso fim. Existiam ordens que não seriam revogadas para que o massacre acontecesse, Ágatha estava no meio da eventual colisão de balas e Karl indo até ela. Era o pior que poderia acontecer e era tudo culpa minha. — Padre, não vai dar tempo! — Soltei o grito enquanto segurava a pistola com força e corria junto aos homens, deixando sua ordem de lado. Ele não me deu ouvidos. Pelo que o conhecia, se revestiu de todo o seu orgulho e poder, caminhando ao lado do típico "eu dou um jeito", como ele sempre fez. Mas, numa situação como aquela, tudo poderia acontecer. Não era como se ele conseguisse segurar balas com as mãos. Ele estava chegando até ela quando mandou o sinal de comando, a merda iria começar. Antes de ao menos tocarmos os gatilhos, alguns deles dispararam e foi ali que o cenário pareceu fincar-se em câmera lenta. A única coisa que vi claramente na interação dos dois foi quando meu pai gritou com ela, passos antes de alcançar seu braço com as pontas dos dedos. Minha madre abriu os braços. No meio de seu peito, uma mancha vermelha se alimentou do tecido da roupa. Em poucos segundos eram duas e então três. — Madre! — soltei o grito da alma, um rugido incontido que ardeu ao atravessar minha garganta. Meu padre a arrastou para trás do carro enquanto os inimigos se aproximavam destruindo tudo, mais do que já haviam derrubado segundos atrás. Empurrei os que estavam em minha frente, algo irreconhecível tomou o meu corpo. As balas saíam da minha arma como bolhas ao vento, meus olhos se tornaram vermelhos como sangue, sedentos por vingança, e marquei a cara do infeliz que a tinha acertado. Depois de ter perdido a noção de espaço e tempo, senti alguém me puxar do meio do alvoroço. Era um de nossos soldados. — Precisa me seguir, retornaremos imediatamente ao corpo, às ordens do Don. Sua voz grossa entrou por um ouvido e saiu pelo outro, pois no meu campo de visão eu só conseguia focar em Karl Vícezzo, entrando em seu carro e desaparecendo por trás de nossos homens. — Onde ele está indo? — Me coloquei a chamá-lo, mas os pneus já arrastavam-se para longe. — Sou responsável por levar você e o corpo de sua mãe em segurança — determinou, segurando no meu braço. — Não vou repetir. E não precisaria, já que meu pai havia deixado tudo para trás sem explicação, eu mesmo a levaria para casa. Depois de matar mais inimigos que eu pudesse contar. — Que tal seguir isso? — Olhei no fundo de seus olhos amarelos. — Solta a porra do meu braço. O soldado sequer piscou. Ele não iria acatar as minhas ordens, mas estava enganado se achava que eu engoliria as de Karl. Ergui a minha arma na direção dele, ignorando o olhar torto e descrente. — Não vai fazer isso. — Levantou uma sobrancelha. — Abaixe a arma. — Eu não sigo ordens. Nem do Don, nem suas. Apertei o gatilho e silenciei o homem ali. Em meio à balbúrdia. Misturando seu sangue aos de nossos inimigos. Eu havia perdido o meu alvo, mas o tinha cravado na memória. Tive a certeza de que eu iria encontrá-lo e vingar o sangue de Ághata Vícezzo. Naquele momento eu só desejei matar um a um, não deixaria vestígios sequer daquela noite, nem que pra isso eu morresse na linha de frente. Mas eu sobrevivi. Para a minha desgraça, eu sobrevivi. Para viver a morte de uma das pessoas mais importantes da minha vida todos os dias, antes de pregar os olhos. Eu sobrevivi para me lembrar, até o último dia, de que eu respirava; de que, ao contrário do que pensei, a minha primeira operação estava longe de se tornar um marco inicial. Ela havia se tornado o início do meu inferno.

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