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As aventuras de Zahara Grant - Uma gênia perdida em New York

As aventuras de Zahara Grant - Uma gênia perdida em New York

4.9
34 Capítulo
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Sinopse

Índice

Até onde devemos ir para satisfazer expectativas alheias? O quão importante é estar dentro do que é esperado pelos outros? Completamente desajeitada e desastrada, Zahara nunca se sentiu parte de nada. Não se sentia parte da sua comunidade, da sua espécie, sentia que não se encaixava em lugar algum simplesmente por ser quem é. Acompanhada pelo constante sentimento de insuficiência, Zahara Grant tenta agradar a todos ao seu redor, mesmo falhando miseravelmente há quase 217 anos. Não tem amigos, é motivo de chacota e vergonha para seu pai, sua única família. Filha do poderoso Ifrit, um dos jinns mais conhecidos entre os mortais e imortais, a pequena e jovem gênia da lâmpada não sabe lidar com seu próprio poder e, por isso, sempre foi alvo de piadas e desprezo. Apesar de sempre ter amor e carinho por parte do seu pai, nunca conseguiu se orgulhar de si mesma, e nunca sentiu que alguém tinha orgulho dela. Cansada de ser taxada como a vergonha de seu povo e assustada com a possibilidade de passar a eternidade presa em sua lâmpada, sozinha e perdida no mundo, Zara decide que era a hora de aprender. Com isso em mente, deixando seu próprio mundo para trás, Zahara Grant decide passar um tempo entre os humanos e aprender na “marra” à controlar sua própria magia, convencida de que só retornaria para casa quando houvesse realizado pelo menos sete desejos perfeitos. Mas tudo o que ela imaginou não chegava nem perto do que essa jornada iria lhe proporcionar. Magia, diversão, algumas confusões, um pouquinho de romance e muitas risadas, acompanhe a jornada da gênia mais desastrada que já existiu!

Capítulo 1 É hora de aprender!

Respiração acelerada, mãos trêmulas e visão turva, era assim que a garota baixa, de cabelos ondulados e um tanto quanto frisados estava. Ela caminhava pelo grande corredor escolar, observando as paredes pintadas de uma cor sem vida e que tornava o ambiente apático se comparado aos adolescentes cheios de energia que transitavam por ele. Estava abraçada aos livros que não couberam em sua bolsa, seu andar a fazia parecer um bichinho assustado em meio a um mar de perigos.

Zara estava tentando e, para ela, sua tentativa era mais que válida, contudo, ser obrigada a passar metade do ano junto aos humanos não lhe parecia uma ideia muito boa. Se sentia desconfortável entre os americanos, era difícil para ela estar num lugar tão distante e com uma cultura tão diferente da sua, era o mundo humano, e soava assustador. Não havia outros como ela, não haviam sequer humanos que conheciam suas habilidades ou compartilhavam de seus costumes, estava entre completos estranhos.

Sair do seu mundo e viajar até o estado de New York foi fácil para Zara, no entanto, chegar a Corning, uma pequena cidade no interior do estado, e perceber que teria de fato que misturar-se entre os humanos, foi um choque. Agora, seguindo assustada até seu armário, vendo todos os adolescentes com vestes, palavras e comportamentos tão diferentes do que ela estava acostumada, a deixava em pânico.

Zara estava habituada a grandes palácios, construções brilhantes e ricas, não era estranho para ela ver alguém flutuando aqui e ali, fazendo uma caramboleira crescer, tocando sitar enquanto outros dançavam e cantavam as aventuras dos antigos, do seu pai. Mas ali, nada era familiar. Os americanos soavam para ela como o inexplorado, suas roupas pareciam apagadas, sem cor, não haviam muitas jóias, nem tanto brilho, eram estranhas e muito coladas ao corpo, o pouco que viu da comida lhe pareceu muito estranho, tudo parecia sair de uma lata ou do óleo, aquilo não lhe parecia tão natural.

Humanos sempre foram estranhos aos seus olhos, ao menos aqueles que não conviviam entre os jinns, mas nada podia fazer, afinal, estava condenada a servi-los até que um deles tivesse a bondade de libertá-la de sua eterna prisão. Mas quem o faria se ela sequer conseguia transformar um macaco em um camelo?

“Já passou da hora de aprender”, dizia seu pai, enquanto a mandava arrumar suas malas e a instruía sobre como guardar sua lâmpada.

Ah! Sua lâmpada, sua casa e eterna prisão, a não ser que fosse liberta.

— Cuidado aí, esquisita! — reclamou uma garota, na qual a jovem morena havia tropeçado.

— Desculpe... — ela sussurrou, com verdadeira culpa, praticamente correndo para longe.

Zara havia chegado a Corning há somente 3 meses. Não havia ninguém com ela, ninguém para supervisioná-la ou dizê-la o que fazer, isso a apavorava. Por isso, demorou tanto para ingressar na escola, a garota escolheu aquela que lhe pareceu a melhor opção, uma escola da rede pública e que atendia somente o ensino médio, situada num bairro nobre da cidade, onde haviam muitos alunos e poderia facilmente passar despercebida. Agora, aquela lhe parecia uma péssima ideia, todos a encaravam como se ela fosse de outro mundo, a diferença entre a pequena menina acuada e os alunos imponentes e intimidantes era notável.

Abriu o armário apressadamente enquanto pensava em como havia se metido nessa encrenca tão grande, mas logo sanou essa dúvida, sendo acusada por seus próprios pensamentos: “talvez seja por que eu transformei o filho do amo do meu pai num porquinho da índia, ou por que destruí aquela ponte há uns dias.... Mas também teve aquela vez que...”, e assim continuou listando todos os acontecimentos desastrosos que sempre rodearam sua vida.

— Olha só! Bem que falaram que ela parece um bicho-do-mato assustado. — Zara deu um pequeno salto para trás assim que ouviu a voz feminina.

A jovem ergueu os olhos e encarou a garota à sua frente. Quase um metro e setenta de altura, cabelos loiros, nariz fino, olhos verdes extremamente ardilosos e um sorriso que a fez tremer dos pés à cabeça. “Vamos Zara, pode fazer ela se tornar uma barata se quiser... Não trema de medo, sua covarde!”, acusou-se, tentando manter uma postura ereta.

— Essas são Chloe e Ananda, eu sou Emillya Cowen, mas todos me chamam de Emmy. — A loira, que agora Zara sabia que se chamava Emillya, encarou-a de cima a baixo e ergueu as sobrancelhas, olhando para duas garotas que estavam ao seu lado, as quais Zara só notou a presença naquele momento. —Bem... Nem todos.

—Então, qual seu nome? — perguntou outra Chloe, que tinha cabelos volumosos e cacheados, sua pele era negra e parecia emanar certo brilho bonito, Zara lembrou-se de uma das poucas amigas que teve em sua vida, Chloe se parecia com ela, mas muito menos simpática. — Por acaso você não fala?

—Eu...— iniciou ela, sentindo a voz tremer. Odiava sentir-se pressionada ou coagida a agir, apesar de só conseguir fazer a maior parte das coisas sob pressão. — Sou Zahara Grant...

—Zahara? Que tipo de nome é esse? — caçoou Ananda, erguendo as sobrancelhas e encarando Zara com um ar de desprezo, passando a destra por seus cabelos escuros e voltando seu olhar para Emillya.

Não entendia todos aqueles olhares, muito menos o ar de desprezo com o qual lhe tratavam. Sabia que humanos tinham comportamentos singulares vez ou outra, mas elas sequer a conheciam, por que a tratavam assim? A jinn compreendia o desprezo que recebia de seu povo, afinal, era uma vergonha, entendia isso.

‘Mas será que sou tão ruim a ponto daqueles que nem me conhecem notarem isso à primeira vista?’, perguntou-se intimamente, suspirando e voltando a prestar atenção nas garotas a sua frente quando Emilly estala os dedos bem perto do seu rosto.

— Me ouviu, garota? Bem, não importa, só vim saber quem era você, não é comum recebermos novatos, ainda mais no meio do último ano. — O tom de decepção da loira deixou Zara um pouco desanimada, afinal, apesar de tudo, ela pensou em fazer amigos. — Sabe como é, cidade pequena, sou a filha do prefeito, preciso estar por dentro das coisas. Enfim, a gente se esbarra por aí, garota.

Obviamente, aquela foi a aparição mais esquisita que Zara presenciou em seus duzentos anos de vida. Do mesmo jeito que apareceu, a menina se foi, do nada, levando suas duas amigas com ela e deixando a garota de lado.

Apesar de se sentir intimidada e tentar se esconder, Zara sabia que seus traços árabes chamavam atenção em meio a um bando de americanos curiosos e ariscos. Pele morena, num perfeito tom de caramelo, lábios bem desenhados e medianamente grossos, olhos de um belíssimo tom âmbar, escondidos atrás de grandes óculos que a ajudavam a enxergar bem.

Por que ela os usava? Apesar de saber que poderia, Zara nunca conseguiu curar sua miopia com a magia, conseguia, no mínimo, alívios passageiros e até algumas pioras, tudo culpa de sua péssima aptidão mágica e do seu jeito desastrado. Lembrava-se de todos caçoando dela nas grandes reuniões: “Olhem lá, lá vai a filha do poderoso Ifrit, não consegue nem se livrar de uma miopia", “Coitado do pai, apaixonou-se logo por uma humana que mal pôde lhe dar uma cria respeitável... Gênios devem fugir do amor, uma vez laçados, acabam cobertos de vergonha”.

— Mas que culpa eu tenho? — resmungou, entrando na sala e se sentando na cadeira mais distante que conseguiu, ficando bem no fundo. — Nem todos são perfeitos.

A menina observou uma mulher de meia idade entrar na sala, ela trazia vários livros e estava pronta para começar uma tediosa aula de história. Zahara sabia que de nada aquilo lhe seria útil, os gênios não têm um desenvolvimento igual ao dos humanos, nem praticam as mesmas atividades que eles. Contudo, seu lado meio humano lhe deu a aparência de uma jovem de 17 anos na maior parte do tempo, até em sua “forma de gênio”, como costumava chamar sua aparência natural, ela tinha feições humanas, porém, muito mais bonitas em sua opinião.

Sabia que, apesar de nunca admitir, seu pai envergonhava-se dela. Nunca conseguiu executar um desejo sequer sem gerar uma grande confusão ou de forma perfeita, ela sempre esperava os piores resultados possíveis e isso entristecia seu pai, que sempre foi uma criatura de extremo poder e muito respeitável.

Ninguém nunca soube o porquê, culpavam sua metade humana por toda essa falta de habilidade. Desde muito pequena, foi subestimada e, com o passar dos anos, Ifrit notou que sua filha não herdou seu temperamento forte e intimidante, ao contrário dele, sabia que ela era uma criatura frágil e sensível. Por isso, viu que os insucessos de sua filha se deviam a sua incapacidade de confiar em si, ao menos era no que ele acreditava. Ifrit sempre se culpou pela morte de Dandara, seu eterno amor, contudo, procurou manter viva a memória da mãe para sua filha, por mais que ambas nunca houvessem convivido e que fosse doloroso para ele.

Zara admirava os esforços do pai, sua compreensão de sempre, seus carinhos e palavras gentis, mas sentia-se um grande fardo que ele era obrigado a carregar. Por isso, aceitou ir para outro continente e tentar ter algum controle sobre sua magia sozinha. Prometeu a si mesma que só voltaria para casa quando realizasse ao menos sete desejos medianos perfeitos, já que coisas simples não valiam na contagem, segundo regras que ela mesma inventou.

— Senhorita Grant, está me ouvindo? — perguntou a professora, soando bastante rude para a menina, que estava perdida em pensamentos há segundos atrás.

— Sinto muito, professora, o que disse? — indagou, tentando parecer o mais gentil possível, buscando aplacar o mau-humor da mulher.

— Levante-se e venha se apresentar — exigiu a professora, fazendo a morena estremecer levemente.

Zara procurou formas de contestar, porém, o olhar irredutível da Sra. Mirts a fez desistir. Erguendo-se de sua cadeira, ela caminhou para frente da sala, parando ao lado da professora. Zahara olhou para frente e lentamente abriu os lábios, sentindo a voz falhar e as mãos suarem.

— Eu... Eu sou Zhara Gran... — porém, antes que pudesse concluir sua fala, a porta se abriu bruscamente.

Os olhos dourados dela seguiram os barulhos e a menina viu um grupo de rapazes entrarem, rindo alto e empurrando uns aos outros vestindo uniformes do time, um deles até tinha uma bola na mão, o que pareceu a ela algo muito estranho, afinal, quem leva uma bola para a sala de aula?

A Sra. Mirts pigarreou duas vezes, esperando que isso os calasse, mas foi em vão. Aproveitando-se da pequena confusão, a menina correu de volta para sua cadeira e se sentou, encolhendo-se em seu lugar e esperando que todos se esquecessem de sua existência, ao menos por hora.

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