Ele rasgou os papéis, ameaçando usar seu imenso poder para tomar nosso bebê. Então Kiara, sua amante, apareceu na minha porta, confirmando meu pior medo: Guilherme queria meu filho para criar como se fosse dele e dela.
Ela até me mandou uma foto dele dormindo na cama dela, usando o pijama que eu comprei, com uma mensagem arrepiante.
"Ele espera que nosso bebê tenha uma covinha também. Para se parecer comigo."
Eu fui escolhida porque me parecia com ela. Meu filho estava destinado a ser filho dela.
Naquela noite, eu desapareci. As notícias mais tarde informaram que uma mulher grávida, identificada pelo meu anel de casamento, havia morrido no incêndio de uma clínica. Mas eu já estava em um avião, com a mão na barriga, fugindo para uma nova vida.
Capítulo 1
Elisa POV:
Meu coração parou de bater quando eu vi. O documento do fundo de investimento, escondido no fundo do arquivo digital seguro de Guilherme, aquele que ele jurou ser apenas para negócios. Eu sabia a senha. Ele nunca a mudava. Era a data do nosso aniversário, um detalhe que eu costumava achar fofo. Agora, parecia apenas uma piada cruel.
Cliquei para abrir, e um pavor gelado tomou conta de mim. Era o testamento dele. Seu último testamento. E deixava tudo, cada centavo de seus bilhões, para Kiara Monteiro.
Kiara. A jovem artista que ele patrocinava. Aquela que ele sempre chamava de sua protegida. Meu estômago se revirou. Sete anos. Sete anos da minha vida, do meu casamento com Guilherme Bastos, e tudo era uma mentira.
Ele havia me prometido uma vida de amor. Uma parceria. Mas o acordo pré-nupcial inflexível que assinamos, aquele em que ele insistiu, gritava uma verdade diferente. Sem casamento tradicional. Sem família. Apenas uma cerimônia rápida no cartório e um documento que garantia que eu sairia sem nada. Eu ignorei aquilo na época, bêbada pelo que eu achava que era amor. "Tradições são para homens menores, Elisa", ele dissera, seus olhos intensos, me fazendo sentir especial. "Nosso amor está além dessas trivialidades."
Eu acreditei nele. Por sete longos anos, eu acreditei nele.
Mas agora, olhando para a tela, estava claro. Eu não era nada. Uma substituta. Um útero.
De repente, a porta se abriu com um rangido. Guilherme estava lá, o rosto uma máscara de fúria.
"O que você pensa que está fazendo?", ele cuspiu, a voz como gelo. "Saia do meu computador."
"A senha", eu disse, minha voz trêmula, mas firme. "Era nosso aniversário. Você nunca mudou."
Ele não respondeu. Apenas atravessou o quarto, pegou o notebook e o fechou com força. Seus dedos voaram pelo teclado, mudando a senha, apagando qualquer vestígio da minha invasão.
"Isso não é da sua conta", ele disse, a voz seca. "É uma contingência. Para a fundação da Kiara, caso algo aconteça comigo."
"Contingência?", zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "É toda a sua fortuna. E não é uma fundação, Guilherme. É um fundo de investimento. Para Kiara Monteiro, pessoalmente." Minha voz estava subindo agora, ganhando força apesar do tremor em minhas mãos. "Eu quero o divórcio."
Ele fez uma pausa, um brilho de algo indecifrável em seus olhos antes de ser substituído por um divertimento frio. "Divórcio? Por causa de um mal-entendido, Elisa? Não seja ridícula."
"Eu não sou ridícula", retruquei, minha voz firme. "Eu cansei. Quero sair."
Ele bufou, um som curto e desdenhoso. "Você está grávida, Elisa. E acha que vai simplesmente embora com o meu filho?" Seus olhos se estreitaram. "Não me provoque. Você sabe do que sou capaz."
"Fora!", gritei, apontando para a porta, meu corpo inteiro tremendo. "Saia da minha frente!"
Ele apenas me encarou, seu olhar arrepiante. "Não toque nas minhas coisas de novo, Elisa. Ou você vai se arrepender." Ele se virou e saiu, a porta batendo com uma finalidade que ecoou em meu coração vazio.
Caí no chão, minhas mãos agarrando minha barriga inchada. O bebê dentro de mim chutou, um movimento suave que costumava me trazer conforto. Agora, só trazia terror.
Peguei meu celular, meus dedos voando pela tela. Eu precisava agir. Agora. Marquei a consulta mais próxima possível na clínica. Aquela que Guilherme havia mencionado, casualmente, meses atrás, para "planejamento futuro".
Minha mente disparou. Eu conseguiria fazer isso? Conseguiria desistir dessa criança? O pensamento me causou uma pontada de dor, uma dor física que ofuscou todo o resto. Mas que outra escolha eu tinha?
Na clínica, o rosto da médica era sério. "Elisa, você está de oito meses. Este procedimento é... de altíssimo risco. Para você. E para o bebê." Ela apontou para a tela do ultrassom, um pezinho minúsculo chutando. "Ele é perfeitamente saudável. Você tem certeza absoluta sobre isso?"
Olhei para a imagem vibrante na tela, uma pequena vida perfeita. Meu bebê. Meu filho. As palavras da médica ecoaram. Ele é perfeitamente saudável.
Minha decisão parecia uma adaga se torcendo em minhas entranhas. Mas eu tinha que protegê-lo. Desta vida. De Guilherme.
Respirei fundo, forçando minha voz a ser firme. "Sim", eu disse, a palavra um sussurro. "Tenho certeza."
A mensagem de confirmação chegou momentos depois: "Consulta na clínica confirmada." Meu celular vibrou na minha mão, um bloco de metal frio. Meu corpo parecia pesado, cada movimento uma luta.
Fiz outra ligação. Para o Dr. Dantas, um advogado que conheci em alguns eventos de caridade. Sua voz era calma, tranquilizadora.
"Elisa, sei que isso é difícil", disse Dantas, seu tom gentil. "Mas você tem direitos. Podemos lutar. Podemos lutar por uma parte justa dos bens matrimoniais."
Balancei a cabeça, embora ele não pudesse me ver. "Não", eu disse, minha voz rouca. "Não existem bens matrimoniais. Não para mim."
Lembrei-me do acordo pré-nupcial. O documento rígido e inflexível que me deixava sem nada. Guilherme tinha sido tão meticuloso. Todos os seus bens estavam cuidadosamente protegidos, adquiridos antes do nosso casamento ou canalizados para fundos separados. Meus próprios ganhos, insignificantes em comparação com os dele, mal cobriam minhas despesas pessoais. Ele sempre dizia: "O que é meu é nosso, querida. Mas para proteção legal, vamos manter as coisas separadas no papel." Eu tinha caído direitinho na conversa dele.
A percepção me atingiu como um golpe físico. O "amor" de Guilherme era uma gaiola cuidadosamente construída. Cada gesto grandioso, cada frase casual sobre nosso futuro compartilhado, tinha sido uma mentira. Ele não queria uma esposa; ele queria um recipiente. Uma mãe para um filho que Kiara não podia ter. E seu "carinho" por mim? Era apenas uma performance, um meio para um fim.
Uma risada amarga me escapou. "Não se preocupe, Dantas. Não há nada pelo que lutar. Pelo menos não para mim." Meu corpo tremia, mas uma estranha determinação se instalou em mim. "Tudo o que eu quero é um rompimento limpo. Apenas me tire deste casamento."
Dantas hesitou. "Elisa, você tem certeza? Pode haver maneiras de contestar algumas cláusulas. Especialmente com uma criança envolvida-"
"Não", eu o cortei, minha voz afiada. "Apenas... prepare os papéis. Quero que isso acabe." Minhas mãos tremiam enquanto eu assinava os documentos mais tarde naquele dia, minha raiva uma chama fria e constante dentro de mim. Sete anos. Sete anos sendo enganada, usada e descartada.
Lembrei-me do colar de diamantes que ele comprou para Kiara em sua última exposição. Uma peça tão única, tão intrincada, que eu mesma havia desenhado para ele anos atrás, pensando que era para mim. Ele havia dito: "É um presente para alguém verdadeiramente especial, um reflexo de seu espírito indomável." Eu corei, imaginando-o adornando meu próprio pescoço. Em vez disso, estava no de Kiara.
E a vez em que quase morri de hemorragia após uma úlcera gástrica estourar? Ele estava "ocupado demais" com um negócio crucial. Mais tarde, descobri que ele estava em uma gala de arte exclusiva com Kiara, rindo, de mãos dadas com ela. Meu estômago se revirou.
Ele até me pediu para projetar os planos para o prédio de uma nova fundação. "Um projeto de legado, Elisa", ele dissera, seus olhos brilhando de ambição. "Para as artes. Para a próxima geração." Eu havia derramado meu coração e alma naquilo, trabalhando durante minha recuperação, superando a dor. Só agora, vendo o documento do fundo, percebi que a fundação era para Kiara, projetada para abrigar suas obras, sua visão. Ele usou meu talento, minha dor, para construir um monumento para sua amante.
"Eu tenho meu próprio dinheiro, Dantas", eu disse, um sorriso amargo torcendo meus lábios. "Sou arquiteta, lembra? Tenho minha própria renda independente. Não será muito comparado aos bilhões dele, mas é meu. E é o suficiente."
Meu peito doía, uma manifestação física da traição. Eu fui tão ingênua, tão cega. Ele me fez de idiota, me fazendo acreditar que ser sua esposa, viver em sua sombra, era o suficiente. Mas nunca foi o suficiente para ele. Ou para Kiara.
Agarrei minha barriga, uma dor aguda atravessando meu abdômen. Não, não, não. Agora não. Aqui não. Dobrei-me, um soluço silencioso escapando dos meus lábios. "Me desculpe", sussurrei para meu filho ainda não nascido, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Me desculpe muito."