Então, Cassandra Fontes, a ex de Caio e a mulher que ele ainda amava, reapareceu. Ela sofreu um acidente, e Caio estava pronto para arriscar a vida para salvá-la. Eu intervi, doando meu sangue raro, desmaiando pelo esforço.
Caio nunca veio ao meu lado. Em vez disso, ele trouxe Cassandra para casa, ordenando que eu cuidasse dela. Ela me atormentou, me incriminou por seus ferimentos autoinfligidos, e Caio, cego de devoção, me puniu. Ele me jogou na chuva, me acusou de tentar matá-la e até tentou me afogar.
Por que eu suportei essa humilhação? Por que eu fiquei, mesmo quando ele me disse que nunca me amaria, mesmo que eu morresse por ele?
Porque eu tinha uma promessa a cumprir. Mas agora, a promessa está cumprida. Eu vou encontrar o Jairo.
Capítulo 1
A internet estava em polvorosa.
Cassandra Fontes, a estrela da Globo que havia desaparecido dos holofotes por três anos, estava de volta. Seu rosto estava estampado em todos os blogs de fofoca e feeds de redes sociais.
Ao lado de sua imagem, o nome de outra mulher inevitavelmente aparecia: Clara Tavares.
O contraste era brutal. Cassandra era a estrela amada, a ex-namorada "inesquecível" do magnata da tecnologia Caio Pereira. Clara era a mulher que a havia substituído, a mulher que se agarrou ao lado de Caio por dez longos anos.
A opinião pública não era gentil com Clara. Eles a chamavam de uma interesseira desesperada, uma substituta patética, uma mulher sem amor-próprio que suportava o desprezo aberto de Caio apenas para manter sua posição. Por uma década, ela foi uma piada, a sempre presente, mas invisível, Sra. Pereira.
Eles não sabiam da verdade. Não sabiam que cada olhar frio, cada palavra desdenhosa de Caio, era um preço que ela pagava de bom grado.
Sua devoção não era por ele. Era por seu irmão. O homem que ela realmente amava, Jairo Pereira.
O pacto de dez anos estava quase no fim. Amanhã era o dia.
Liberdade.
Clara sentou-se em um escritório de advocacia estéril no Leblon, o cheiro de papel e café velho pairando no ar. Ela empurrou um documento pela mesa de mogno polido.
"Eu gostaria de reconhecer firma. O acordo de divórcio."
Seu advogado, um homem que cuidava de seus assuntos há anos, ergueu os olhos, os óculos escorregando pelo nariz. Ele estava chocado.
"Dona Clara... tem certeza? Depois de todo esse tempo, é a senhora que está iniciando isso?"
Por dez anos, o mundo a viu correr atrás de Caio Pereira. Todos presumiam que ela nunca o deixaria.
Clara olhou para ele, o rosto calmo, os olhos carregando uma profundidade de tristeza que ninguém nunca se deu ao trabalho de ver.
"Sim. Tenho certeza."
O processo foi rápido. Ela assinou seu nome, o cartorário carimbou o papel com um baque surdo, e uma década de sua vida foi legalmente selada.
Ela saiu do prédio sem olhar para trás.
Ela não dirigiu para casa. Em vez disso, pegou a estrada longa e sinuosa que saía da cidade, subindo as colinas do Alto da Boa Vista, onde o antigo templo ficava, com vista para o mar.
Ela passou pelo salão principal de orações, seus passos firmes e familiares enquanto caminhava em direção a um pátio isolado nos fundos. Um monge idoso varria as folhas caídas, seus movimentos lentos e rítmicos.
Ele ergueu os olhos quando ela se aproximou, seu olhar gentil.
"Você veio."
Não era uma pergunta.
Clara assentiu, seu olhar se desviando para uma única lâmpada sempre acesa em um altar de pedra dentro do pequeno salão. Ela tremeluzia, sua luz suave e quente.
Ela se ajoelhou na almofada diante dela, sua postura reta e formal. Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas firme.
"Já se passaram dez anos. Estou indo te encontrar, Jairo."
O monge suspirou, um som suave como o vento entre as árvores.
"O laço cármico está cumprido. O espírito dele foi guardado por sua promessa. O destino guiará o que vier a seguir."
Ninguém sabia. Ninguém entendia que ela não era a sombra patética de Caio Pereira. Ela era o último amor de Jairo Pereira, sua protetora final.
O homem que ela amava não era o CEO implacável. Era seu irmão mais velho, Jairo, o artista brilhante e recluso que supostamente havia morrido em um incêndio no estúdio dez anos atrás.
Aquele incêndio tinha sido uma mentira.
Foi uma fachada para escapar de Armando Pires, um rival de negócios tão perigoso que Jairo teve que desaparecer para proteger as pessoas que mais amava: seu irmão, Caio, e ela. Antes de sumir, ele fez duas coisas. Primeiro, doou um lobo de seu pulmão para salvar Caio, que estava morrendo de uma doença genética.
Segundo, na mesa de operação, com a mão fraca, mas o aperto firme na dela, ele a fez prometer.
"Clara," ele sussurrou, a voz tensa. "Cuide do Caio por mim. Só por dez anos. Proteja-o."
Ele sabia que a arrogância de Caio o tornaria um alvo para Pires. Ele sabia que o mundo seria um lugar perigoso para ele sozinho.
Ela havia soluçado, o coração partido, mas concordou.
O pedido de Jairo não era apenas sobre proteger Caio. Era sobre protegê-la. Ele sabia que se simplesmente desaparecesse, ela passaria a vida procurando por ele, tornando-se um alvo. O pacto a prendeu a Caio, mantendo-a em uma gaiola dourada e pública, onde Pires não poderia alcançá-la facilmente.
Por dez anos, ela honrou essa promessa. Ela ficou ao lado de Caio, suportando sua frieza e o ridículo do mundo. Os dez anos acabaram. Seu dever estava cumprido. Agora, ela podia finalmente descansar. Agora, ela podia ir até ele.
Ela pessoalmente acendeu um novo bastão de incenso, colocando-o diante da lâmpada.
"Jairo," ela murmurou, os olhos fixos na chama. "Espere por mim."
A luz bruxuleante pareceu dançar e, por um momento, ela quase pôde ver o rosto dele, seu sorriso gentil.
Seu celular vibrou, uma intrusão áspera e indesejada. Ela ignorou. Vibrou de novo, insistente.
Ela finalmente o pegou. Era uma ligação de um dos amigos de Caio, Marcos. Sua voz estava frenética.
"Clara! Onde você está? Venha para o hospital! É a Cassandra, ela sofreu um acidente!"
O fôlego de Clara ficou preso no peito.
"Ela perdeu muito sangue e tem um tipo sanguíneo raro. O mesmo do Caio! Ele está a caminho para doar! Você tem que impedi-lo!"
Cassandra Fontes. A mulher que Caio nunca superou. Por dez anos, ele guardou uma paixão por ela, e agora ela estava de volta.
Ele uma vez disse a Clara, a voz gotejando desdém: "Eu morreria pela Cassandra. O que você faria por mim? Nada."
Ele estava errado. Ela não o deixaria morrer. Não por ninguém. A vida dele não era apenas dele. Era uma parte da de Jairo.
Clara se levantou, as pernas dormentes. Ela correu para fora do templo, o coração batendo forte contra as costelas.
Ela irrompeu no corredor do hospital no momento em que uma enfermeira se preparava para tirar o sangue de Caio. Seus amigos estavam aglomerados ao redor dele, implorando.
"Caio, você não pode! Seus pulmões... você sabe que sua saúde não é boa!" insistiu Marcos.
"Pense na Clara! Ela é sua esposa! O que ela vai fazer se algo acontecer com você?" acrescentou outro amigo, Léo.
Os passos de Caio vacilaram por uma fração de segundo. Seus olhos, frios e escuros, brilharam com algo indecifrável.
Então ele zombou. "Minha esposa? Ela não fez nada além de viver às minhas custas por uma década. Ela provavelmente ficaria emocionada em receber minha herança."
Seu olhar varreu o corredor e pousou nela. Ele parou, sua expressão endurecendo ao vê-la ali, pálida e sem fôlego. Então, ele se virou e continuou em direção à sala de doação.
Uma dor aguda atravessou o peito de Clara. Ela não conseguia falar. Não conseguia respirar.
Ela abriu caminho pela multidão, a mão pousando em seu braço. Seu toque foi leve, mas ele parou.
"Me solta," ele disse, a voz como gelo.
Clara olhou para baixo, sua própria voz mal um sussurro.
"Eu faço isso. Eu tenho o mesmo tipo sanguíneo. Eu vou doar."
Marcos e Léo concordaram imediatamente. "Sim! A Clara pode fazer isso! Caio, é a solução perfeita."
Antes que Caio pudesse argumentar, Clara puxou o braço e seguiu a enfermeira para dentro da sala. Ela não olhou para trás.
A agulha era afiada. A sensação de sua vida se esvaindo era estonteante. Ela sentiu frio, tanto frio.
Quando a enfermeira terminou, o corpo de Clara estava fraco. Ela cambaleou para fora da sala, a mão pressionada contra a parede para se apoiar.
Caio ainda estava lá. Ele viu seu rosto pálido, o tom azulado de seus lábios. Pela primeira vez em dez anos, ela viu algo além de desprezo em seus olhos. Parecia... pânico.
Ela tentou lhe dar um sorriso tranquilizador.
"Está tudo bem. Você está seguro."
O mundo começou a girar. O chão correu para encontrá-la.
A última coisa que sentiu foi um par de braços fortes a pegando, puxando-a para um abraço apertado.
Parecia o Jairo.
Na escuridão, ela sorriu. Estou chegando, Jairo.