Descobri que meu namoro de cinco anos era uma mentira no silêncio estéril da sala de espera de uma clínica. O mesmo lugar onde, minutos antes, eu tinha recebido a notícia de que estava grávida.
Por cinco anos, todos em São Paulo me conheciam como Heloísa Soares, a bolsista, a filha da governanta que, de alguma forma, havia conquistado o coração de Caio Medeiros, o herdeiro do império Medeiros.
Eles falavam de nós em sussurros nos eventos de gala em que eu aparecia de braços dados com ele. Cochichavam sobre o trágico acidente na estrada escorregadia para Angra, onde ele desviou o carro para me salvar, o que o deixou com uma sequela permanente na perna. Um sacrifício nobre. Uma prova de seu amor.
Aquela sequela era o motivo pelo qual a família dele, liderada pelo patriarca gélido Antônio Medeiros, me tolerava. Eles tinham feito um pacto com o filho, um acordo de cinco anos do qual eu não deveria saber, mas que descobri através de discussões abafadas atrás das portas do escritório. Se Caio conseguisse lançar com sucesso a nova subsidiária de tecnologia dos Medeiros, provando seu valor apesar de sua "deficiência", eles finalmente aprovariam nosso casamento.
O prazo de cinco anos terminava na semana que vem.
Uma ansiedade elétrica percorria minha pele há dias. Caio andava distante, suas noites no escritório ficavam cada vez mais longas, suas mensagens de texto, mais curtas. Ele culpava a pressão do lançamento.
- Só mais uma semana, Helô - ele murmurou no meu cabelo duas noites atrás, a voz carregada de exaustão. - Depois, seremos só eu e você. Para sempre.
Eu me agarrei a essas palavras como uma oração.
Então, quando os enjoos começaram, quando minha menstruação estava ridiculamente atrasada, uma faísca de esperança selvagem e aterrorizante se acendeu no meu peito. Um bebê. Nosso bebê. Seria o selo perfeito e inegável do nosso futuro.
Eu não contei a ele. Queria ver a confirmação por escrito, ter a prova em minhas mãos antes de surpreendê-lo. Marquei uma consulta na clínica particular mais exclusiva dos Jardins, o tipo de lugar onde a discrição era o serviço mais caro que ofereciam.
E foi lá que eu a vi.
Catarina Yang.
Ela entrou na sala de espera como se fosse a dona do lugar, sua bolsa Hermès balançando no braço. Era filha de um magnata da tecnologia, um novo-rico, uma socialite cuja foto estampava todas as colunas de fofoca. Ela também era uma presença constante na vida de Caio, uma "amiga de infância" da qual ele nunca conseguia se livrar.
Eu a odiava. Odiava a maneira natural como ela pertencia a este mundo, e odiava o jeito como os olhos de Caio às vezes a seguiam nas festas, um brilho de algo que eu me recusava a nomear.
Ela não me viu, encolhida em uma poltrona no canto. Aproximou-se da recepção, sua voz um murmúrio baixo e confiante.
Um pequeno sorriso triunfante brincou em seus lábios quando ela se virou da recepção, sua mão perfeitamente manicure pousando inconscientemente, quase possessivamente, em sua barriga lisa. Um pavor gelado, agudo e repentino, tomou conta de mim. Foi um instinto, um reconhecimento primitivo de uma ameaça que eu ainda não conseguia nomear.
Meu nome foi chamado em seguida. Passei por ela atordoada, meu coração martelando contra minhas costelas.
Uma hora depois, a confirmação alegre do médico soou como uma sentença de morte.
- Parabéns, Srta. Soares. Você está de aproximadamente seis semanas.
Agarrei a impressão do ultrassom - uma mancha minúscula e borrada que deveria ser o nosso futuro - e voltei para a sala de espera com as pernas bambas.
Catarina tinha ido embora. Mas sua presença permanecia, um perfume enjoativo no ar. Quando eu estava prestes a sair, ouvi uma das enfermeiras falando baixo com a recepcionista.
- Você acredita? Catarina Yang. Mais uma para o Dr. Miller. Ela também está de umas seis semanas. Disse que queria confirmar tudo antes do anúncio do noivado com Caio Medeiros no mês que vem.
O mundo girou.
Caio Medeiros.
Seis semanas.
As palavras da enfermeira ecoaram no silêncio súbito e ensurdecedor da minha mente. Não podia ser. Era um engano. Um Caio Medeiros diferente.
Mas eu sabia que não era.
Meu celular parecia impossivelmente pesado na minha mão. Meu polegar tremia enquanto eu rolava pelas minhas fotos. Havia uma de um baile de caridade um mês e meio atrás. Caio estava rindo, o braço em volta da minha cintura, mas seus olhos estavam ligeiramente desviados da câmera. Seguindo alguém. Seguindo um brilho de seda verde-esmeralda.
O vestido de Catarina Yang.
A lembrança me atingiu como um golpe físico. Ele tinha chegado tarde naquela noite, cheirando a champanhe e ao perfume de Catarina. Disse que era um jantar de negócios, que ela tinha derramado uma bebida nele. Ele me puxou para seus braços, sua boca silenciando minhas perguntas, suas mãos operando uma mágica familiar até que eu esqueci o que estava perguntando.
Era tudo mentira.
As noites tardias. As viagens de "negócios". O pacto.
Meus dedos, desajeitados e dormentes, discaram o número dele. Ele atendeu no segundo toque, sua voz quente e familiar, uma lâmina se torcendo na minha barriga.
- Oi, Helô. Tudo bem?
Eu não conseguia falar. O som da sua voz, o carinho fácil nela, me deixou enjoada.
- Amor? Tá aí? - ele perguntou, um toque de preocupação surgindo. - Estou terminando as coisas aqui. Já chego em casa. Saudades.
Um soluço engasgado escapou dos meus lábios. Era um som ferido, animal, que eu não reconheci como meu.
Eu não conseguia respirar. A pequena foto do ultrassom na minha mão parecia queimar minha pele. Essa mancha de vida, nosso filho, foi concebida a partir do engano. Era a prova não do amor, mas da minha própria estupidez monumental.
Pensei nos últimos cinco anos. Na maneira como eu administrava seus horários de fisioterapia. Na maneira como o defendi para minha mãe, que nunca confiou nos Medeiros. Na maneira como deixei meu diploma de Direito da USP em segundo plano, aceitando um cargo de professora tranquila em um colégio de elite porque Caio não gostava da ideia de eu trabalhar em um ambiente competitivo e de alto estresse.
- Não combina com uma esposa Medeiros - ele dissera com um sorriso encantador, como se o título já fosse meu. E eu acreditei nele. Abri mão de uma oferta de um escritório de advocacia de primeira linha por ele. Por isso.
Por uma mentira.
A maneira casual como a enfermeira disse. O anúncio do noivado com Caio Medeiros. Não era um segredo. Não era um boato. Era um fato. Um evento agendado.
- Helô? - A voz dele estava mais próxima agora, tingida de preocupação genuína. - O que foi? Fala comigo.
Como eu poderia? O que eu diria? Parabéns pela sua futura paternidade. Para qual de nós você planejava contar primeiro?
A amargura era um veneno na minha garganta.
Eu desliguei.
Meu polegar pairou sobre a foto de contato dele - seu rosto sorridente, aquele que eu beijei de bom dia por 1.825 dias. O homem que salvou minha vida e depois a arruinou sistematicamente.
Eu o vi sorrir para Catarina na minha mente. Vi sua mão na barriga dela. Ouvi-o sussurrar para ela as mesmas promessas que ele sussurrou para mim.
Respirei fundo, um suspiro trêmulo.
Apaguei o contato.
Depois, bloqueei o número dele.
A pequena caixa preta na minha mão, antes uma linha de vida para ele, agora era apenas um pedaço de vidro e metal. Frio e vazio.
Assim como eu.
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