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Humanamente tua

Humanamente tua

5.0
19 Capítulo
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Trigêmeos - ciúmes - rivalidades - drama universitário. Selena sempre foi invisível. Uma garota humana com um passado violento, cheio de cicatrizes, que entrou na faculdade para estudar discretamente, sem chamar atenção. Mas sua vida tomou um rumo inesperado quando os trigêmeos Blackwell, os garotos mais temidos e desejados da universidade, a notaram pela primeira vez. Ninguém ousou confrontá-los. O que ninguém sabia era que por trás de seu poder havia um segredo: eles eram lobos, herdeiros da matilha mais forte do país. E um deles, o Alfa, destinado a reinar, descobriu algo impossível. Selena era sua Companheira. O problema é que ela era humana. O Alfa a rejeitou imediatamente, convencido de que o destino havia cometido um erro. Com o passar dos dias, Selena começou a mudar. Seus sentidos despertaram. Quando um ataque a levou à beira da morte, o Alfa a mordeu para salvá-la, despertando o lobo que havia permanecido escondido. Entre os corredores da universidade, ciúmes, segredos e as rivalidades dos trigêmeos, Selena terá que decidir se aceita o vínculo com o Alfa que a rejeitou... ou se constrói seu próprio destino como a loba que ela estava destinada a ser.

Índice

Capítulo 1 Invisível entre todos

A universidade tinha aquele murmúrio constante que parecia engolir qualquer um que andasse de cabeça baixa. Selena gostava porque todo aquele barulho abafava seus silêncios. Ela sempre escolhia sentar-se na quarta fileira, perto da janela, com um caderno novo, mas comum, daqueles que vendem no supermercado, e um lápis novo e apontado. Passava despercebida sua paixão: roupas simples, longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo que caía sobre suas costas esbeltas e um olhar que raramente cruzava com outra pessoa.

Selena não tinha amigos no campus, então não recebia convites para festas anunciadas de última hora em salas de bate-papo, e também não pertencia àquele lugar.

Os alunos mais populares eram os Blackwell, um casal de trigêmeos de pele branca e olhos claros, filhos de uma família muito poderosa e influente.

Selena os conhecia de longe e os evitava; não gostava deles: o mais bonito era Adrián, o que mandava; Luciano, o mais rebelde, trocava de namorada a cada dois meses, e Elías, o mais gentil.

Naquela manhã de terça-feira, a aula de literatura cheirava a café e terra molhada. Chovia lá fora e as janelas estavam embaçadas. Selena estava copiando as palavras do professor quando um murmúrio, mais denso que os outros, cruzou a sala. Ela não precisou se virar para saber que os trigêmeos haviam entrado.

Selena continuou escrevendo sem olhar para eles até que uma risada fria a forçou a olhar para cima. Ela os viu com o canto do olho, respirou fundo e voltou ao seu caderno.

"Senhorita Valen", disse o professor, "a senhora quer ler sua análise?"

Selena levantou a cabeça, sem vontade de falar. Ela nunca estava. Ela leu em voz baixa e clara. Enquanto falava, uma sensação estranha e elétrica percorreu seu pescoço, como se estivesse sendo observada com especial interesse. Ela não olhou para trás.

Quando Selena terminou de ler, o professor assentiu em aprovação. Ela ouviu outros alunos comentando a favor, mas mais ao fundo havia um sussurro masculino que ela não conseguia decifrar. Quando a aula terminou, ela arrumou suas coisas às pressas para ir embora antes que o corredor se tornasse um desfile de egos.

Havia muito barulho no corredor, e Selena se encostou na parede para deixar passar um grupo de garotas perfumadas, conversando sobre uma festa na sexta-feira. Ela não pôde deixar de ouvir uma delas comentar.

"Se os Blackwells não forem, eu não vou."

A outra respondeu:

"Eles sempre vão."

Selena abaixou a cabeça e seguiu o caminho que levava à biblioteca, seu território. Sentia-se confortável entre as estantes altas, o cheiro de tinta e as mesas compridas, onde não precisava provar nada. Escolheu um cubículo ao lado de uma coluna e pegou seu caderno.

Abriu o laptop e conectou os fones de ouvido, silenciando todo o som para que ninguém tentasse puxar conversa com ela, e começou a escrever uma redação. De vez em quando, alguém passava e o notava, pois a sombra que ele projetava deslocava a luz do teclado.

"Você está ocupado?", perguntou um homem à sua direita.

Selena não tinha percebido que ele estava falando com ela. Quando ergueu os olhos, era Elías, segurando um caderno, um lápis entre os dedos e seu olhar azul-gelo. Ele não estava sorrindo, mas também não estava se impondo.

"Não", disse ela, guardando a mochila. "Você pode se sentar."

Elías assentiu e sentou-se na cadeira à sua frente. Sem dizer mais nada, pegou o caderno e começou a escrever algo inquieto, escrevendo, apagando e reescrevendo. Enquanto isso, Selena tentava se concentrar em sua redação. Mordeu o lábio e o largou, mudando de tarefa: revisar suas anotações para a próxima aula.

"Gostei da sua contribuição na aula", comentou Elías, quebrando o silêncio.

Selena piscou, surpresa.

"Obrigada", respondeu ela em um tom quase inaudível.

Elías rabiscou nos cantos do papel.

O silêncio entre eles era confortável até que alguém colocou a mão no encosto da cadeira de Elias. Naquele momento, o ar ficou tenso. Selena olhou para cima e se viu diante de um sorriso afiado.

"Vamos interromper o seu encontro?", perguntou Luciano, apoiando-se nele com as duas mãos. Ele usava um paletó aberto, o cabelo úmido da chuva, e o brilho em seus olhos era algo entre zombaria e curiosidade.

"Não", respondeu Elias, sem se mexer. "Se você não vai se sentar, então vá."

Luciano riu baixinho e se aproximou de Selena, inclinando-se como se quisesse saber seus segredos.

"Eu não mordo", disse ele. "Mas ele morde", e apontou com o queixo para trás.

Selena não precisou se virar para perceber; o terceiro estava lá, preenchendo o espaço sem dizer nada. Ele dispensava apresentações; era o líder. Havia algo no silêncio de Adrian que fazia os outros se sentarem mais eretos. A reação inconsciente de Selena foi pressionar os dedos contra a borda do caderno.

"Está tarde", comentou Adrian, com a voz baixa e calorosa.

"Para você, é sempre mais cedo ou mais tarde", respondeu Luciano, brincando.

Elias baixou o olhar e fechou o caderno calmamente.

"Até logo", despediu-se. "Selena."

Quando Elías mencionou seu nome, ela se sentiu mais desconfortável do que a interrupção. Ela não o havia dito a ele, nem sequer havia falado com ele antes. Talvez a professora o tivesse dito em voz alta durante a aula. Talvez. Os trigêmeos saíram tão rápido quanto chegaram, e Selena ficou tentando superar a distração.

Ela respirou fundo. Seu coração batia mais rápido do que o normal, como se ela tivesse corrido. Ela achou sua reação à presença dos alunos mais populares divertida. Fechou o laptop e se levantou para ir para o seu turno no refeitório do prédio de arquitetura.

Havia parado de chover e o sol estava fraco entre as nuvens. O aroma de café e torrada impregnava o balcão enquanto ela pendurava o avental. O supervisor a cumprimentou sem fazer nenhum comentário além de um breve cumprimento e lhe entregou a bandeja de doces.

"Temos muita gente", comentou ele. "Fiquem atentos."

Selena sabia como fazer isso; ela não se distraía nem com seus pensamentos; ela era muito boa em seu trabalho.

Depois de meia hora, a porta se abriu e eles entraram. Elías entrou primeiro e assentiu; Luciano seguiu, brincando com as chaves, e Adrián, por último, varrendo o salão com um olhar que todos sentiram.

"O que você gostaria de beber?", perguntou Selena quando os colocou em frente ao balcão.

Elías pediu chá preto. Luciano, um cappuccino, e Adrián, que não estava olhando o cardápio, ergueu os olhos naquele momento, e pela primeira vez os olhos de Selena encontraram os dele.

Selena comparou a cor daqueles olhos ao mel e sentiu vontade de engolir. Um sinal de alerta, um sinal de cautela.

"Um Americano", ele pediu. "Sem açúcar."

Selena se lembrou do tom de voz dele, e ela se ocupou apertando o botão da máquina enquanto o líquido escuro enchia o copo. Enquanto fechava as tampas, concentrou-se em sua rotina de trabalho e distribuiu os pedidos. "Pelo sorriso que você me negou", comentou Luciano, deixando uma gorjeta alta demais para o que ela estava acostumada.

Adrián roçou os dedos nos dela enquanto pegava seu copo, e Selena afastou a mão por causa da faísca. "Até mais."

Elias simplesmente disse: "Obrigada."

Quando saíram, o refeitório recuperou o movimento, como se o volume tivesse diminuído apenas pela presença dos três.

Selena respirou fundo, apoiando as palmas das mãos no balcão, e cumprimentou a próxima pessoa da fila com um sorriso largo.

Naquela noite, quando voltou para o dormitório, a chuva havia retornado. A janela chacoalhou com o barulho da água, e Selena afundou na cama na escuridão. O silêncio do quarto compartilhado lhe deu espaço para pensar. Ela fechou os olhos e logo deixou o sono levá-la. Sonhou que estava na floresta.

A floresta estava úmida e escura, o ar cheirava a terra recém-revolvida. Ela ouviu um uivo distante, mas não conseguiu determinar de que direção vinha. E através das árvores, ela viu um brilho dourado quase imperceptível se aproximando dela e desaparecendo sem tocá-la.

Seu coração estava acelerado quando acordou, e ela sentiu como se alguém a estivesse observando de muito perto. Ela colocou a mão no peito, com o coração batendo mais forte do que o normal.

Lá fora, ainda era noite, e o campus dormia. Em um dos prédios, três sombras cruzaram um corredor vazio. Uma porta foi ouvida se fechando.

"O cheiro é diferente", disse uma delas.

"Você sempre morde", comentou a outra voz, rindo.

Nada foi ouvido da terceira sombra.

Selena fechou os olhos novamente, pensando na festa de sexta-feira e, embora não soubesse, seu mundo havia começado a mudar.

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