O homem que havia prometido esperar que eu crescesse, que me chamava de sua estrela mais brilhante, havia desaparecido. Minha década de amor desesperado e ardente só conseguiu queimar a mim mesma.
A pessoa que deveria me proteger se tornou a que mais me machucou.
Olhei para a carta de aprovação da USP em minha mão. Eu tinha que ir embora. Tinha que arrancá-lo do meu coração, não importava o quanto doesse.
Peguei o telefone e disquei o número do meu pai.
"Pai", eu disse, com a voz rouca, "eu decidi. Quero ir ficar com você em São Paulo."
O décimo oitavo dia de desistir de Heitor Alves começou com Alice apagando a foto da tela de bloqueio do seu celular.
Era uma foto espontânea que ela havia tirado secretamente.
Heitor estava sentado no sofá, banhado pelo sol da tarde, com uma revista de finanças sobre os joelhos. Ele olhava para ela, um sorriso fraco, quase imperceptível, nos lábios.
Por dez anos inteiros, dos oito aos dezoito, este homem tinha sido o sol em seu mundo.
Sua alegria, sua raiva, sua tristeza, seu mundo inteiro girava em torno dele.
Mas agora, ela queria apagar aquele sol com as próprias mãos.
A tela ficou preta.
Um preto limpo e absoluto, sem deixar nada para trás.
Os dedos de Alice tremeram levemente enquanto ela pousava o celular e pegava o copo de leite na mesa. Já estava frio.
Ela bebeu de um gole só, o líquido gelado descendo por sua garganta, mas não conseguiu suprimir a queimação em seu peito.
Ela pegou o celular novamente e discou um número que não contatava há muito tempo.
A chamada conectou rapidamente. A voz gentil de um homem soou.
"Alice?"
"Pai", ela chamou, a voz um pouco rouca. "Recebi minha carta de aprovação. USP."
Seu pai ficou em silêncio por um momento, depois sua voz se encheu de uma alegria incontida. "Isso é maravilhoso! Alice, parabéns. História da Arte, certo? O curso que você sempre sonhou."
"Sim."
"Então, você decidiu? Você vem para São Paulo?"
"Eu decidi", disse Alice, apertando o celular com mais força. "Quero ir ficar com você."
Ela queria fugir daquele lugar. Queria fugir de Heitor Alves.
Seu pai pareceu sentir a emoção em sua voz. Ele suspirou suavemente. "É por causa do Heitor? Ele te tratou mal de novo?"
"Não", mentiu Alice, forçando um tom relaxado. "Ele vai ficar noivo. Não posso continuar morando na casa dele como sua tutelada, não agora. Parece errado. Além disso, já sou adulta. É hora de aprender a ser independente."
Um silêncio pesado se seguiu.
Depois de um longo tempo, a voz de seu pai, cheia de dor, veio pelo telefone. "Minha pobre Alice. Foi duro pra você todos esses anos, morando naquela casa porque eu não podia... Que bom que você está vindo. O papai vai cuidar de você de agora em diante."
Ele acrescentou: "Os negócios da nossa família estão de volta aos eixos. Você não precisa mais depender de ninguém. O papai pode te sustentar."
O calor de suas palavras fez os olhos de Alice arderem.
Ela fungou, segurando as lágrimas. "Ok."
Depois de desligar, ela se olhou no espelho. Seus olhos estavam vermelhos e inchados.
Dez anos. Ela havia passado dez anos inteiros amando um homem que nunca pertenceria a ela.
Ela tinha que ir embora.
Tinha que arrancar Heitor Alves de seu coração, pedaço por pedaço, não importava o quanto doesse.
Respirando fundo, ela saiu de seu quarto. A luz do escritório no final do corredor estava acesa.
Heitor ainda estava trabalhando.
Ela hesitou por um momento, depois caminhou até lá, segurando a carta de aprovação da USP. Ela precisava contar a ele.
Ela parou na porta entreaberta. Pela fresta, podia ver o homem lá dentro.
Ele usava uma camisa cinza simples, sua postura ereta e sua expressão focada. A luz da luminária lançava um brilho suave em seu perfil afiado, delineando um rosto tão bonito que parecia irreal. Um par de óculos de aro dourado repousava em seu nariz alto, dando à sua aparência fria um toque de elegância refinada.
Este era Heitor Alves. O antigo protegido de seu pai, o jovem brilhante que permaneceu leal quando os negócios de sua família ruíram. Quando seus pais se divorciaram e sua mãe deixou o país, foi seu pai, em seu ponto mais baixo, que pediu a Heitor para se tornar seu tutor legal. Ele era o homem que a havia criado.
Seu tutor, sem laços de sangue.
E o homem que ela amou secretamente por dez anos.
"Heitor", ela chamou suavemente, sua voz mal um sussurro.
Heitor ergueu os olhos, a testa franzida levemente ao vê-la. "O que foi?"
Sua voz era tão fria e distante como sempre.
O coração de Alice se apertou. Ela estava prestes a falar quando o celular dele na mesa tocou, um tom nítido e agradável.
Sua expressão fria derreteu no momento em que ele viu o identificador de chamadas. Uma gentileza que ela nunca tinha visto antes floresceu em seus olhos.
"Clara", ele disse, sua voz baixa e suave.
Era sua noiva, Clara Vasconcelos.
"O local? Você decide, por mim tudo bem. Não se preocupe com o custo." Ele ouvia a pessoa do outro lado, o canto de sua boca se curvando em um sorriso carinhoso. "Desde que você goste, nada mais importa."
Alice ficou paralisada na porta, suas mãos e pés gelados.
A carta de aprovação em sua mão parecia pesar uma tonelada.
De repente, ela se lembrou de seu aniversário de dezoito anos, apenas dois meses atrás. Ela havia reunido toda a sua coragem para lhe dar uma pintura na qual trabalhou por um ano, intitulada *Segredo*.
Na pintura, uma jovem seguia as costas de um homem, seus olhos cheios de amor.
Era sua confissão.
A reação de Heitor foi uma fúria que ela nunca tinha visto antes.
Ele varreu todos os presentes da mesa, o bolo caindo no chão.
"Alice Miller!", ele havia rugido, seus olhos vermelhos de raiva. "Você enlouqueceu? Eu sou seu TUTOR!"
Ela havia argumentado teimosamente, lágrimas escorrendo pelo rosto. "Mas não somos parentes de sangue! Meu pai confiou em você! E a maneira como você sempre me mimou... não é assim que um tutor deve tratar sua tutelada!"
Ele havia zombado, seu rosto bonito contorcido pela crueldade. "Você não sabe diferenciar carinho de família de amor? Sua educação foi um desperdício."
Com isso, ele havia rasgado impiedosamente sua pintura, seu *Segredo*, em pedaços.
Ele se virou e saiu sem olhar para trás, deixando-a sozinha nos destroços de seu aniversário.
Ela chorou e juntou os pedaços, colando-os cuidadosamente. Mas a pintura, como seu coração, estava coberta de cicatrizes.
Mesmo assim, ela não havia desistido.
Ela pensou que, se fosse boa o suficiente, se entrasse na universidade dele, ele a notaria.
Mas logo após sua formatura, ele trouxe Clara Vasconcelos para casa.
Ele a apresentou com um sorriso. "Alice, esta é Clara, minha noiva."
Foi nesse momento que ela soube.
Tinha realmente acabado.
Todo o seu amor desesperado e ardente dos últimos dez anos só havia queimado a si mesma.
Agora, ela tinha que ser a única a apagar o fogo.
Ela tinha que tirá-lo de seu coração.