Perdi o meu filho Lucas há um ano, e a dor da infertilidade atingiu-me no mesmo dia em que o meu marido, Pedro, me ignorou ao telefone. "Estou ocupado", disse ele, com o som de festa ao fundo. Ocupado a celebrar o aniversário da minha prima Ana. "Nosso sonho!", exclamou ela na gravação que ouvi. Que sonho era esse? Descobri-o ao voltar para casa. Na mesa da cozinha, um bolo da Ana. No guarda-roupa do Pedro, uma caixa de madeira escondida. Dentro, fotos do meu marido beijando a minha prima em Paris – na viagem que ele fez "sozinho para espairecer" após a morte do Lucas. E um teste de gravidez positivo. E sapatos de bebé. Azuis. O meu casamento era uma farsa. A minha prima, grávida do meu marido. O meu filho tinha morrido, e eu não podia mais ter filhos, enquanto eles construíam uma nova família. A minha dor era "drama", mas a traição deles era a cruel realidade. Como é que ele se atreveu? Como puderam fazer isto na minha própria casa? Naquela noite, a raiva salvou-me da agonia. Expulsei-os, as suas malas cheias de mentiras no contentor do lixo. A festa tinha acabado. Agora, o verdadeiro espetáculo ia começar.