A dor me rasgou, um grito silencioso preso na garganta enquanto a vida escorria por entre minhas pernas, manchando o chão de madeira polida. Ergui os olhos, embaçados pela agonia e pelas lágrimas, e vi o rosto triunfante de Clara, minha irmã adotiva. Ao seu lado, Lucas, o Quarto Príncipe e meu marido, desviava o olhar, cúmplice da carnificina. "Por quê?", sussurrei, enquanto o mundo escurecia, levando comigo a vida do nosso filho ainda não nascido. Clara se agachou, seu rosto perfeito contorcido em desprezo, e suas palavras finais ecoaram em minha mente: "Como posso deixar uma bastarda me dominar? A culpa é sua e daquele bastardo por estarem no meu caminho!" Despertei em minha cama, tremendo, o suor frio escorrendo. Não havia sangue, não havia dor. Minhas mãos estavam limpas, meu ventre ainda plano. Meu bebê... ainda estava lá. A raiva fria tomou o lugar do pânico, e a determinação de aço substituiu a tristeza. Eu não era mais a Sofia ingênua. Eu renasci. Olhei para o calendário de bronze: era o dia. O exato dia em que, na vida anterior, o médico da corte anunciara minha gravidez. O ódio me deu um propósito. Eu não cometeria os mesmos erros. O jogo havia começado, e desta vez, não seria eu a morrer.