Minha vida de casado com Ana era uma rotina estranha de regras que ela impunha e eu, José, um bombeiro acostumado ao caos, aceitava por amor ou costume. Dormíamos em quartos separados há três anos, uma decisão unilateral dela, que alegava "purificação espiritual" . Eu trabalhava exaustivamente, entregava todo meu salário a ela, cozinhava, limpava, sonhando em ter minha esposa de volta. Até que um dia, durante um chamado de rotina para um pequeno incêndio, meus olhos varreram a multidão e pararam em uma cena que estilhaçou meu peito. Lá estava Ana, rindo com uma felicidade que não via há anos, abraçada pela cintura por um homem desconhecido, e entre eles, um menino de uns quatro anos comia sorvete, olhando para os dois com a adoração que uma criança reserva aos pais. Eles pareciam a família perfeita que ela sempre me negou. No meio do choque, vi o olhar de Ana cruzar com o meu: havia pânico, mas também uma frieza cortante, como se eu fosse um intruso em sua verdadeira vida. Ainda desorientado, ela chegou em casa impassível, propondo adotarmos uma criança, a quem ela chamava de Lucas. "Que criança, Ana? O menino que estava com você no parque hoje?" perguntei, a voz tremendo. A máscara dela nem tremeu. Ela me humilhou usando sua espiritualidade para justificar a traição, alegando que minha "necessidade por coisas carnais" era o problema. Naquela noite, descobri a verdade brutal: Pedro, o homem do parque, estava na cama de Ana com Lucas. Eu era o tolo que financiava a felicidade de minha esposa com outro homem. Com o coração esmagado, exigi o divórcio, mas ela, com uma calma fria, recusou, usando desculpas esfarrapadas sobre "regras espirituais". Sua frieza era insuportável. "Você não entende nada! Pedro é meu guia espiritual, Lucas é uma criança que precisa de ajuda!" ela gritou quando tentei sair. "Não me chame de burro, Ana, eu vi como vocês se olham, eu vi como ele estava na sua cama!", rebati, e ela me deu um tapa no rosto. Naquele momento, algo em mim se quebrou para sempre. "Agora eu tenho mais um motivo para o divórcio", disse, a voz fria como o ártico. "Agressão." Saí daquela casa, me sentindo mais rico do que nunca, pois levava minha dignidade. Mas o inferno dela ainda não havia acabado.