Na noite do meu 25º aniversário, o bolo não tinha velas. A tensão na sala era tão espessa que dava para cortar com a faca. Há seis meses, a mãe do Pedro, Sofia, tinha-se mudado para nossa casa depois de enviuvar, e a minha vida tornou-se um inferno silencioso. Ela não gritava, mas as suas palavras eram veneno disfarçado de cuidado: "Eva, não achas que aquela saia é curta demais?" ou "O Pedro parece tão cansado, estás a cuidar bem dele?" O pior era que Pedro, o meu marido, nunca me defendia, sempre repetindo: "Ela está de luto, tem paciência." A paciência tinha-se esgotado. Naquela mesma noite, atrás de uma porta entreaberta, ouvi Sofia a choramingar para o Pedro que eu a tratava mal, que não era a casa dela. E então ouvi o Pedro, o homem que amava, prometer: "Vou falar com ela. Vou garantir que ela a trata com mais respeito." Como pude ser tão cega? A manipulação dela era óbvia, mas ele caía sempre na armadilha. Quando propus um apartamento para a mãe dele, a cara de Pedro ficou vermelha de raiva: "Estás a tentar expulsar a minha mãe? Que tipo de pessoa tu és?" "Onde está a tua compaixão por mim?", gritei. "Ela está a destruir-nos e tu não vês!" A resposta dele foi fria e final: "A única pessoa que está a destruir alguma coisa aqui és tu. Ela é a minha mãe. Ela fica. Fim da discussão." Naquele momento, olhando para as costas dele ao desaparecerem escadas abaixo, soube que tinha acabado. Ele tinha feito a escolha dele. E não era eu. Então, na manhã seguinte, tomei uma decisão. Uma decisão radical para salvar a mim mesma, mesmo que isso significasse destruir tudo.