O dia do meu casamento com Lucas foi também o funeral do meu pai. Num vestido de noiva branco, eu vestia luto por dentro, casando-me com o filho do nosso maior rival para salvar a empresa da minha família. Mas não era um casamento, era uma transação. Com a morte do meu pai, tornei-me a incubadora trocada pelo império Almeida. A minha sogra, Dona Helena, tratava-me com um desprezo gélido, e Lucas, o meu marido, era uma sombra alheia. Fui vigiada 24 horas por dia, a minha gravidez controlada, a minha própria mãe impedida de me ver. O meu corpo e a minha vontade já não me pertenciam, apenas o bebé dentro de mim importava para a 'herdeira'. Quando a pré-eclâmpsia me levou ao limite, à beira da morte, ouvi o médico dizer: "Ou ela ou o bebé." Como é que uma vida pode ser reduzida a um contrato e uma moeda de troca? Como posso amar um filho que nasceu da minha humilhação e sofrimento? Como se reerguer quando se sente apenas um produto? Mas quando o Lucas, com quem nunca tive uma conversa sincera, me olhou nos olhos e disse: "Tu vales tudo", percebi que talvez, apenas talvez, um novo começo fosse possível fora das cinzas do passado.