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Adeus, Meu Pedro

Adeus, Meu Pedro

5.0
11 Capítulo
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Meu carro engasgou na autoestrada, o motor morreu, e uma fumaça branca subiu do capô. Lá fora, um congestionamento infernal. Dentro, minha bolsa de água tinha acabado de romper. Eu estava a caminho do hospital, sentindo as primeiras contrações fortes. Liguei para meu marido, Pedro, mas ele não atendeu. Tentei de novo, dez, vinte vezes. Todas as chamadas foram para o correio de voz. Foi então que liguei para a minha sogra, Laura, a voz dela cheia de apreensão. "Catarina? O que se passa? Já estás no hospital?" Eu mal conseguia respirar, as dores aumentando. "Mãe, o carro avariou na A5, a bolsa rompeu. E o Pedro não atende!" A voz dela mudou, de preocupação para uma tensão que eu não entendi. "Não consigo falar com o Pedro. A Sofia ligou-me há pouco, em pânico." Sofia, a prima dele. "A prancha dela partiu-se a surfar, bateu com a cabeça numa rocha. O Pedro foi ter com ela, era o mais próximo. Ele está com ela agora no hospital." Guincho, na direção oposta ao hospital para onde eu ia parir o filho dele! Eu estava em trabalho de parto, sozinha, no meio de uma autoestrada, e meu marido estava com a prima porque ela teve uma "pequena concussão". Enquanto eu sentia as dores lancinantes, ouço a frase de Laura: "Sê compreensiva com o Pedro. A Sofia não tem mais ninguém. Tu sabes como a vida dela tem sido difícil." Compreensiva? E a minha vida? Eu estava a carregar o neto dela, o filho dele! Quando a ambulância finalmente chegou, recebi a mensagem dele: "O meu telemóvel morreu. Estou com a Sofia no hospital. Não te preocupes, fico aqui com ela. A minha mãe já chamou uma ambulância para ti. Vemo-nos mais tarde. Força." "Vemo-nos mais tarde." Ele não perguntou como eu estava. Não mencionou o nosso filho. Naquele momento, as lágrimas que eu segurava finalmente caíram. Um vazio gelado tomou conta de mim. Aquele não era o homem com quem me tinha casado. Por que ele fez isso? Naquele dia, sozinha num hospital onde o Pedro não queria estar, onde nosso filho nasceu prematuro e em estado crítico, eu vi a verdadeira face do meu marido. Eu vi o Pedro escolher a ela. As palavras "divórcio" não eram mais uma ameaça zangada. Eram a única forma de sobreviver.

Índice

Introdução

Meu carro engasgou na autoestrada, o motor morreu, e uma fumaça branca subiu do capô. Lá fora, um congestionamento infernal. Dentro, minha bolsa de água tinha acabado de romper. Eu estava a caminho do hospital, sentindo as primeiras contrações fortes.

Liguei para meu marido, Pedro, mas ele não atendeu. Tentei de novo, dez, vinte vezes. Todas as chamadas foram para o correio de voz. Foi então que liguei para a minha sogra, Laura, a voz dela cheia de apreensão. "Catarina? O que se passa? Já estás no hospital?" Eu mal conseguia respirar, as dores aumentando. "Mãe, o carro avariou na A5, a bolsa rompeu. E o Pedro não atende!"

A voz dela mudou, de preocupação para uma tensão que eu não entendi. "Não consigo falar com o Pedro. A Sofia ligou-me há pouco, em pânico." Sofia, a prima dele. "A prancha dela partiu-se a surfar, bateu com a cabeça numa rocha. O Pedro foi ter com ela, era o mais próximo. Ele está com ela agora no hospital." Guincho, na direção oposta ao hospital para onde eu ia parir o filho dele!

Eu estava em trabalho de parto, sozinha, no meio de uma autoestrada, e meu marido estava com a prima porque ela teve uma "pequena concussão". Enquanto eu sentia as dores lancinantes, ouço a frase de Laura: "Sê compreensiva com o Pedro. A Sofia não tem mais ninguém. Tu sabes como a vida dela tem sido difícil." Compreensiva? E a minha vida? Eu estava a carregar o neto dela, o filho dele!

Quando a ambulância finalmente chegou, recebi a mensagem dele: "O meu telemóvel morreu. Estou com a Sofia no hospital. Não te preocupes, fico aqui com ela. A minha mãe já chamou uma ambulância para ti. Vemo-nos mais tarde. Força." "Vemo-nos mais tarde." Ele não perguntou como eu estava. Não mencionou o nosso filho. Naquele momento, as lágrimas que eu segurava finalmente caíram. Um vazio gelado tomou conta de mim. Aquele não era o homem com quem me tinha casado. Por que ele fez isso?

Naquele dia, sozinha num hospital onde o Pedro não queria estar, onde nosso filho nasceu prematuro e em estado crítico, eu vi a verdadeira face do meu marido. Eu vi o Pedro escolher a ela. As palavras "divórcio" não eram mais uma ameaça zangada. Eram a única forma de sobreviver.

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Mais Novo: Capítulo 10   06-26 18:49
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1 Introdução
26/06/2025
2 Capítulo 1
26/06/2025
3 Capítulo 2
26/06/2025
4 Capítulo 3
26/06/2025
5 Capítulo 4
26/06/2025
6 Capítulo 5
26/06/2025
7 Capítulo 6
26/06/2025
8 Capítulo 7
26/06/2025
9 Capítulo 8
26/06/2025
10 Capítulo 9
26/06/2025
11 Capítulo 10
26/06/2025
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