Aos oito meses de gravidez, a minha vida com Miguel devia ser um sonho, cheia de expectativas pelo nosso filho. Mas o cheiro a queimado acordou-me, e o alarme de incêndio rasgou o silêncio. A casa estava a arder! Liguei ao Miguel em pânico, tossindo no fumo denso, pedindo ajuda desesperadamente. A sua voz, distante e irritada, disse: "Estou ocupado. A Sofia teve um pequeno acidente. Liga para os bombeiros." Ele desligou. Abandonei tudo, rastejando para fora, e já em segurança, a dor e o sangramento começaram. No hospital, a verdade dilacerou-me: perdemos o nosso bebé. Perdemos tudo. Miguel apareceu horas depois, impecável, com desculpas cínicas sobre um "acidente" e a "Sofia". A minha sogra, em vez de apoio, ligou para me culpar: "Talvez tenha sido para o melhor. Não estavas preparada para ser mãe." Como puderam? Enquanto o meu mundo ardia e o meu filho morria, ele escolheu acalmar outra mulher? A dor da perda avassalou-me, mas a traição cruel, a mentira descarada, incendiou uma fúria gelada no meu interior. Eu sabia que não era apenas um "acidente". Havia algo mais, algo podre. Entre as cinzas do que foi o nosso lar, a mão da verdade estendeu-se. Eu encontrei-o. Um recibo. Não de uma oficina, mas de um jantar romântico, do outro lado da cidade, na mesma noite. Com ela. A Sofia. Aquele pedaço de papel. O desprezo. A mentira. Tudo me deu força. A Eva que existia morreu no fogo. Uma nova Eva nasceu, pronta para a verdade e para o recomeço, sozinha.