Estava grávida de oito meses, à espera do meu Lucas, e cheia de planos para o futuro. Naquele jantar de família, a prima do Pedro, Sofia, trouxe-me um risoto de cogumelos, dizendo ser o meu favorito, feito especialmente para mim. Parecia um gesto doce. Mas um cheiro denso e amanteigado de camarão atingiu-me. Sou mortalmente alérgica a marisco, algo que o Pedro, meu marido, e toda a sua família sabem. Apesar do aviso do meu corpo, confiei nele e levei uma garfada à boca. O sabor era cremoso, terroso, mas por baixo, havia algo mais. Um travo subtil, metálico e familiar. Em segundos, a minha garganta começou a fechar, a pele a queimar, o ar a silvar. Enquanto eu lutava pela vida e pela do meu filho, à beira da asfixia, via o Pedro. Vi-o confortar a prima Sofia, que chorava e jurava inocência, e depois, vi-o ficar irritado comigo por eu "armar um drama" . A voz da mãe dele, Lúcia, disse que eu era "demasiado sensível" . No carro, a caminho do hospital, Pedro conversava ao telefone, a garantir que Sofia "estava bem" e que tudo não passava de "um susto". Um susto. Enquanto o meu filho morria dentro de mim. Acordei no hospital com um vazio gelado onde antes estava o meu bebé. Como podia o homem que jurei amar e com quem construí uma vida, escolher a sua prima "inocente" e o conforto da família tóxica, em vez de mim e do nosso filho? Naquele instante, com o corpo dilacerado e o coração vazio, o luto deu lugar a uma fria clareza. Não havia mais nada a que me agarrar. Olhei para a minha mãe e com uma calma assustadora, disse: "Mãe, eu quero o divórcio." E é aí que a minha verdadeira luta contra a sua família infame começaria.