Acordo num hospital. A minha barriga, que por meses carregara vida, estava terrivelmente lisa. O meu bebé, devido numas semanas, desapareceu, levado pelo incêndio no nosso prédio. Liguei ao Miguel, o meu marido, mas ouvi irritação na sua voz. "O que foi, Clara? Estou ocupado." Ao fundo, a voz mimada da Sofia, preocupada com o gato dela, Tufas. "Miguel, perdi o bebé," disse, rouca. Ele prioritizou o gato medroso da Sofia a mim, presa no inferno. Mandou-me "resolver isso" e desligou. A tristeza deu lugar a uma clareza cortante. Os meus sogros ligaram, acusando-me de "drama", defendendo-o. Quando Miguel enfim veio, só viu a sua própria raiva sobre o divórcio, ignorando a minha dor. Eu enfrentei o inferno sozinha, perdi tudo. Como podiam esperar que eu perdoasse? Como fui tão cega, engolindo humilhações por amor? O lugar do meu amor por ele é um buraco vazio. "Vamos divorciar-nos," anunciei. Peguei na canja "simpática" da Sofia e atirei-a ao chão. "O meu problema são vocês os dois," revelei. O choque nos seus rostos valeu ouro quando mostrei as mensagens: o plano deles para me abandonar. "Agora, desapareçam da minha vida." Desta vez, eu renasceria das cinzas.