Duarte de Albuquerque segurava as minhas mãos, murmurando a sua promessa de sempre. "Lúcia, por favor, espera só mais um pouco." Ele, herdeiro de uma dinastia do Vinho do Porto, casou com a Sofia, a mulher que a família escolhera para ele. Eu, Lúcia Almeida, uma simples marisqueira, continuei à espera, acorrentada à sua promessa vazia. Mas a sua esposa, Sofia, parecia feita de porcelana, com um veneno perigoso nos olhos. Numa das raras visitas que me eram permitidas à quinta, ela tramou-me. Acusou-me de tentar matar a sua filha recém-nascida, Leonor, usando uma falsa reação alérgica. Duarte olhou para mim, não com amor ou compreensão, mas com uma frieza que me gelou a alma. "Como pudeste?", chicoteou a sua voz, sem me dar uma oportunidade para me defender. O meu castigo foi imediato: fui trancada na adega, na escuridão e no frio, a sentir o peso do seu abandono. As suas palavras cruéis não paravam de me atingir, cada mensagem de Sofia era uma tortura calculada. Depois, encontrei o meu Coração de Viana, a única herança da minha mãe, pendurado ao pescoço dela. Num acesso de fúria cega, gritei e avancei para o reaver, mas fui enganada novamente. Sofia, com um grito teatral, simulou uma queda, alegando ter perdido um bebé não anunciado. Duarte, cego de raiva e sem me questionar, empurrou-me com uma força brutal. A minha cabeça bateu contra a parede de pedra do jardim, e ele deixou-me ali, a sangrar, com o coração partido em mais pedaços do que eu sabia ser possível. Cansada de ser a vilã da sua história, um mero divertimento descartável nas suas mentiras. Como é que ele, que me jurou amor eterno, podia ser tão fraco, tão covarde? Por que razão nunca, nem por um segundo, acreditou em mim ou na minha inocência? As suas promessas vazias, sempre aquele "espera só mais um pouco", eram afinal veneno puro. Mas então, ergui-me, olhei para ele, e a minha voz foi, surpreendentemente, firme. "Não vou esperar mais, Duarte. Acabou." A minha partida era a única salvação, a minha fuga para uma nova vida. Um bilhete só de ida para longe da dor, para finalmente ser livre, custe o que custar.