Eu sou Sofia, e na minha vida passada, a cegueira e o egoísmo do meu marido, João, custaram-me tudo. Fuzileiro e "herói" do bairro, ele dedicava a sua lealdade e recursos à viúva do seu melhor amigo, Isabel, e à sua filha, Carolina, enquanto o nosso filho, Tiago, era negligenciado e eu, quebrada. Vi o meu pequeno Tiago morrer e acabei por segui-lo, consumida pela dor. Mas o destino deu-me uma segunda oportunidade. Acordei de novo em 1991, um ano antes da tragédia. E o padrão repetiu-se: João continuava a sacrificar a nossa família pela "honra" distorcida de proteger Isabel. O derradeiro golpe? Enquanto eu tentava o divórcio, ele, manipulado por mentiras, drogou-me e levou o nosso filho para uma extração de medula óssea forçada, acreditando que salvaria a filha de Isabel. Aquele ato de traição não me matou, mas transformou a minha dor numa raiva fria e calculista. Como podia um homem ser tão cego à verdade, tão cruel com o seu próprio sangue, em nome de uma falsa honra? A minha vida inteira tinha sido um palco para a sua hipocrisia, e eu não choraria mais. Desta vez, não haveria súplicas. Em vez de lutar, comecei a concordar com cada exigência, cada capricho de Isabel e João, com um sorriso vazio nos lábios. Eles pensavam que tinham o controlo, mas eu estava a tecer a minha própria armadilha. Decidi "vendê-lo" à mulher que sempre o quis, para que eu e o meu filho pudéssemos finalmente conquistar a nossa liberdade. Esta era a minha vingança silenciosa, o meu renascimento.