Evangeline ...caminhava com uma graça tranquila, seus cabelos pretos caindo em ondas suaves ao redor do rosto se estendendo até as curvaturas de seu corpo . Sua pele morena, de brilho sutil, refletia o brilho da lua, enquanto seus olhos, uma mistura de castanho e âmbar, transmitiam uma serenidade imperturbável. Ela usava um simples vestido de linho, leve e fluido, sem buscar atenção, mas sua presença era inesquecível. A beleza de Evangeline era natural, de quem ainda não soubera das sombras do mundo . Mas o destino, sem que soubesse, já se preparava para alterar sua paz.
Naquela noite , enquanto ela seguia o caminho envolto pelo silêncio em direcção a casa,uma figura turva se agoniando no chão gelado roubou sua atenção.
Evangeline , tomada pelo desespero correu em direcção a senhora esfarrapada no chão....
Senhora ? ... senhora , está tudo bem ? _ disse Evangeline sacudindo seu corpo frio .
Senhora por favor responda , senhora ??
- Sangue ... o seu... sangue_disse a senhora com breves suspiros entre as palavras.
O quê ? Sangue ? , a senhora está ferida ? Onde ? Deixe- me ver ...
- seu sangue, carrega um grande pecado, uma dívida de morte , não pode ser esquecida. Ele virá se apossar do que lhe pertence , ele virá, ele virá e o caos vai se instalar ,ele não é gentil , ele virá e nos levará com ele. _ disse a senhora com os olhos arregalados.
Ele quem ? , quem virá ? .... _ mas antes que pudesse terminar a frase a senhora desapareceu , levando com ela minha sanidade .
***
Mais tarde , enquanto voltava para mansão a qual escapuli em plena luz do dia , meus pensamentos se agitavam em minha mente turbulenta, o que diabos acabou de acontecer ? Será que é tudo fruto de minha imaginação ? Quem era aquela senhora , como alguém pode simplesmente desaparecer? , eu devo estar a enlouquecer...
LÁ ESTÁ ELA ...
Antes que eu pudesse sequer pensar no que acabara de acontecer , guardas devidamente trajados e uma senhora formalmente vestida vieram ao meu encontro .
-Senhorita Evangeline por onde andou , faz horas que ninguém sabe nada ao seu respeito _ disse a senhora se aproximando rapidamente e agarrando meus pulsos .
Não se preocupe senhora McKellen, eu estou bem , fui apenas visitar o campo de flores silvestres ao pé do riacho e acabei perdendo a noção do tempo .
-Venha , sua família já está na sala de jantar e aguardam pela Senhorita .
Antes que eu pudesse responder , me vi entrando na sala de jantar , envolta a uma mesa farta .
Enquanto me sentava à mesa, a sensação de inquietação que me envolvera desde o início da noite não diminuía. A sala de jantar, tão grandiosa com seus candelabros brilhando sob o teto alto, parecia pesar sobre mim. O som dos talheres encontrando os pratos de porcelana era o único ruído em meio àquele silêncio opressivo.
Meu pai, sempre tão firme, parecia ainda mais rígido, seu olhar fixo no prato à sua frente. Minha mãe evitava me encarar, como se minha presença fosse um incômodo. Até mesmo minha irmã, sempre tagarela e animada, parecia reduzida ao papel de um retrato: imóvel e silenciosa.
Algo não estava certo , o silêncio era constrangedor, profundo, quase tão alto que dava para ouvir o som da porta ranger enquanto entravam os serventes na grande sala .
Todos pareciam tensos ,tudo continuou igual por minutos que mais se acemelhavam a anos .
Alguma eternidade depois , o bendito jantar entava terminado .
Todos deixaram a mesa assim que meu pai a abandonou .
Não não ousei questionar, não é como se me fossem dizer.
Levantei-me e cortei o longo corredor em direcção aos meus aposentos , imediatamente uma empregada responsável pelos meus cuidados entrou no quarto e rapidamente ajudou- me a trocar os meus vestes para algo mais aconchegante.
- Mariah, você notou algo diferente hoje? - perguntei, tentando parecer casual, mas minha voz tremia levemente.
A expressão dela permaneceu neutra enquanto arrumava meu cabelo com delicadeza.
- Não que eu me lembre, jovem senhora - respondeu com um tom que soava quase ensaiado.
Ela terminou sua tarefa e recuou até a porta.
- Se for tudo, despeço-me agora.
- Espere... - chamei, hesitando. Meus pensamentos eram um turbilhão, mas as palavras certas pareciam fugir.
- Sim, jovem senhora?
Eu queria dizer o que me incomodava, compartilhar o peso do que presenciei, mas algo me deteve. Um tipo de receio, talvez um medo de que falar sobre isso pudesse torná-lo mais real.
- Não é nada, obrigada, Mariah.
Ela inclinou a cabeça em respeito e deixou o quarto, fechando a porta silenciosamente. Aquele silêncio novamente... um peso que parecia mais cruel a cada instante.