O dia foi chuvoso na cidade de Belmont, mas, para mim, isso não fez diferença: o dia foi perfeito. Hoje completo cinco anos de namoro com Joseph e planejo fazer uma surpresa.
Trabalho há três anos na Renaud Enterprises e, pela primeira vez, pedi para sair mais cedo. Sempre fui uma boa funcionária, em relação ao trabalho sou exigente, algo que Joseph frequentemente critica, dizendo que eu deveria relaxar mais.
Hoje, no entanto, vou surpreendê-lo. Minha avó, com quem moro desde a morte dos meus pais, vive dizendo que Joseph não quer nada sério comigo. Aos 26 anos, ela acha que eu já deveria estar noiva.
Pois bem, sou uma mulher moderna e sei que, assim como eu, Joseph é muito focado na carreira. Recentemente, ele fechou um ótimo contrato em seu escritório de advocacia, então sinto que é o momento certo para darmos um passo a mais em nosso relacionamento. Passei na floricultura da minha avó e peguei um buquê de flores. Hoje, eu o pedirei em casamento.
Não acredito nesses clichês de que é o homem quem deve pedir a mulher em casamento, ou que os homens não podem receber flores. Essas convenções não fazem sentido para mim. Quando cheguei ao prédio do apartamento de Joseph, senti a emoção. Tenho a chave e planejo aproveitar que ele estará no trabalho para montar um cenário bem romântico.
Na recepção, cumprimentei o porteiro como sempre. Ele é um senhor simpático, com um sorriso amigável. As recepcionistas, por outro lado, como de costume, lançaram-me aqueles olhares de cima a baixo, carregados de desdém. Ignorei-as e segui para o elevador.
Assim que cheguei ao apartamento e abri a porta, senti um aperto no peito. "Que coisa estranha" , pensei, sentindo um mal pressentimento. Fui até a cozinha para pegar um vaso e colocar as flores, quando ouvi alguns sons:
"Ahhhhhh... Vaiiii... Maiiiiissss!"
Era uma voz masculina. Meu coração gelou.
Fiquei paralisada por alguns segundos. Não era a voz de Joseph. Será que tem mais alguém aqui?
Comecei a caminhar lentamente em direção ao quarto do meu namorado, enquanto os sons aumentavam. Tapas e gemidos ecoavam cada vez mais altos e intensos.
Cheguei à porta do quarto, que estava entreaberta. Sei que não deveria olhar, afinal, Joseph pode ter emprestado o apartamento para algum amigo, mas não posso evitar. Meu coração bate acelerado enquanto levanto os olhos em direção à cama. O que vejo parte meu coração.
Meu namorado, que deveria estar no trabalho, está enfiado na bunda de seu sócio, movendo-se frenéticamente enquanto o suor escorre pelas suas costas.
Minha visão está embaçando, sinto que vou desmaiar. O vaso que ainda segurava escapa das minhas mãos e cai no chão, espatifando-se em mil pedaços.
O som parece finalmente chamar a atenção deles. Ambos me notam.
Meu coração parece querer sair pela boca. Joseph vem em minha direção, mas não consigo pensar, falar ou processar nada. Vejo seus lábios se movendo, ele levanta as mãos e diz algo que não consigo ouvir. Tudo é um borrão.
Sem olhar para trás, viro-me e simplesmente saio.