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Invisível

Invisível

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Sinopse

Índice

A diferença de idade entre Isabela e Matteo não foi problema para ela se apaixonar. Muito menos a diferença racial. Matteo é agora o único dono da fazenda de gado em Belo Vale, MG. Isabela está voltando depois de oito anos aquela fazenda para se libertar da sua paixão unilateral de adolescente por Matteo. Afinal agora o neto de italianos está casado e deve ter uma penca de filhos. Será? Acompanhe essa história de amor de Isabela, filha de quilombolas por um neto de italianos. Poderá Isabela fazer com que Matteo a enxergue como uma mulher e não como a menininha que ele viu crescer?

Capítulo 1 O acaso flerta com o meu coração

Capítulo 1

O acaso flerta com o meu coração

Eu ainda sentia a mesma coisa de quinze anos atrás. Uma paixão descontrolada por aquele homem. Quando saí de Belo Vale, cidade rural de Minas Gerais para Belo Horizonte com meus pais, carreguei comigo todo aquele sentimento inesquecível de adolescente. Eu era total e completamente apaixonada por Matteo Vieira Ricci, filho dos donos da fazenda onde meus pais trabalharam. É claro que eu não sabia, se agora com vinte e três anos, eu ainda era completamente apaixonada por ele mas que eu não consegui esquecer, isso nunca. E eu estava voltando.

Eu tinha acabado de terminar meu curso de Enfermagem quando vi um anúncio na internet. Uma senhora precisava de cuidados de enfermagem e acompanhante em Belo Vale. Era tudo que eu precisava naquele momento e até que seria bom fugir um pouco da cidade grande e relembrar minha infância e adolescência na minha cidadezinha natal. Tal forte foi meu susto quando li o anunciante e o local que cheguei a me arrepiar. Matteo Ricci procurava enfermeira para sua mãe. O meu coração chegou a palpitar. A vida é uma coisa engraçada. Por mais que a gente fuja de uma situação, ela nos coloca diante dela de novo para aprender alguma coisa. Talvez ter um ganho ou uma perda, mas com certeza, ter sempre uma lição.

Era certo que eu estava com medo de me candidatar, afinal a última notícia que tive dele era de que tinha se casado aos trinta e três anos. Ele era aquele tipo de homem que não passava desapercebido por nenhuma mulher mas tinha escolhido casar tarde. E quanto a mim, tinha tido alguns namorados e me gabava de ser livre para minhas amigas sempre enroladas. Na verdade, não era bem que eu fosse livre do que eu me gabava, mas de não me apegar. Eu não conseguia me apegar porque nunca consegui esquecer minha paixão adolescente. Matteo, neto de italianos, era aquele homem tão diferente de mim que nunca me saiu dos pensamentos. Eu tinha crescido naquela fazenda, junto dos meus pais, quilombolas. Quando houve uma briga no quilombo dos pretos e meu pai foi ameaçado de morte, ele decidiu sair de lá junto com minha mãe e os filhos. A fazenda mais próxima, uma das antigas propriedades do Barão de Paraopeba, era a fazenda do senhor Giovanni. A italianadaque tinha comprado a fazenda décadas atrás, criava gado e precisava de gente para ajudar na limpeza de terreno e da casa. O senhor Giovanni era um homem afeito aos descendentes de escravos. Ele costumava dizer que todos eram iguais, brancos e pretos. Um homem e tanto, sempre disse meu pai.

O senhor Giovanni era um excelente ser humano e tinha criado um único excelente ser humano, seu filho Matteo. Eu era adolescente e não sabia porque não puderam mais ter filhos, mas o fato é que ele tinha um bonito, inteligente e amoroso filho. Eu cresci apaixonada por Matteo, mesmo com toda a diferença de idade e acredito que era por causa dessa diferença de quinze anos entre nós que me deixava fascinada por ele. Quando fomos para Belo Horizonte, no falecimento do senhor Giovanni, eu tinha quinze anos e Matteo, trinta. Eu ficava da casa da fazenda o observando pela janela desde os meus treze anos, completamente apaixonada. Eu o observava tocar o gado à cavalo no pasto e sonhava ser sua esposa. Eu nunca conheci outros negros como eu naquela época. Ele era o alvo da minha paixão mesmo sem saber o que isso significava. Só aprendi mais tarde quando comecei a poder assistir as novelas que minha mãe nunca permitia quando mais nova. Eu ainda guardava as cartas que escrevia para aquele italiano. Dezenas e dezenas de cartas de amor adolescente para um adulto que nunca me olhou. Era óbvio que ele jamais olharia, eu era negra e adolescente. Bem, talvez não por ser negra mas, com certeza, por ser uma criança para ele.

Quando amadureci em Belo Horizonte, namorei com os rapazes negros parecidos comigo. Cheguei perto da paixão que senti por Matteo mas nunca foi igual. O meu amor da adolescência, mesmo adormecido, ainda estava lá no meu peito, impossível de ser substituído. Matteo era aquele homem envolto em mistério, em experiência e em maturidade que eu não queria encontrar igual. Mas ele se casou. Voltar a fazenda talvez pudesse me fazer esquecer que ele era o único homem de valor no mundo. Dessa forma eu poderia me libertar e abrir caminho para me encantar por outros homens. Eu precisava ver sua família feliz e o anel de casamento no dedo dele que simbolizava aquele status de “e foram felizes para sempre” para me desencantar.

Conversei com meus pais então, disse que ia pegar um ônibus para Belo Vale e tentar conseguir aquela vaga de enfermeira que estavam oferecendo por lá mas não disse onde era. Eles não aprovariam o meu retorno lá, uma vez que saíram justamente para que os filhos tivessem uma vida melhor na cidade grande. Realmente tivemos. Meus irmãos estavam estudando, Mariana e Hélio. Eu, Isabela Machado, tinha concluído a Enfermagem e queria muito aquele emprego para juntar dinheiro para um curso preparatório para Medicina. Era o sonho da minha vida. Um deles. O segundo era mesmo Matteo. E eu precisava tirar aquilo da minha cabeça. Ele deveria estar com trinta e oito anos, uma vez que eu estava completando vinte e três. Era um homem maduro e com certeza devia estar ainda mais bonito.

Embarquei no ônibus para o interior, chacoalhando pelas estradas de terra, com um lenço na cabeça por causa da poeira e um frio na barriga. Eu não queria ver sua esposa e os filhos que devia ter com ela. Eu ainda sentia ciúme. Encostei a cabeça na janela e as árvores passavam lá fora enquanto minhas lembranças passavam na mente. Matteo, as vezes, voltava bêbado de Congonhas. Era longe mas sempre que ia a um leilão ou conhecer alguém, voltava alto e tropeçando nos pés. Uma única vez em que ajudei minha mãe a ampará-lo foi quando meu coração bateu mais forte. Parecia que ia sair pela boca quicando pelo chão da cozinha aos quatorze anos. Eu segurei o rosto de Matteo e ele ergueu o olhar azul para mim, dando um sorriso. Minha mãe preparou um café bem forte para ele enquanto sua mãe, dona Maria do Rosário apenas entrava na cozinha brigando com ele. Como falava alto aquela mulher! Minhas lembranças eram de uma mulher chata e rabugenta...e era para aquilo que eu iria me candidatar! As lembranças me fizeram até suar nas mãos. Mas eu veria ele, apenas para matar o que existiu dentro de mim durante tanto tempo.

Desci do ônibus na porteira da fazenda Rio d´Ouro sentindo meu estômago embrulhar.

— Você vai conseguir, Bela...Ele não é um Deus, é apenas um cara que você conhecia.

É...era apenas um Deus para mim sim. Era o homem que fazia meu coração bater acelerado aos quinze anos sem nunca ter me encostado um dedo. Quando ele se dirigia a mim era para pedir café ou para limpar as botas dele. E aquela voz nunca saiu da sua cabeça tonta. Carregava uma mala pesada, a puxando e bufando pelo terreno de pedrinhas. Que tipo de idiota usa salto alto para ir para a roça? Eu mesma. Depois de horas naquele ônibus, sentindo minhas costas arderem, era a hora dos meus pés arderem naquelas pedrinhas.

Olhei a casa enorme e ela estava tão moderna. Ainda assim tudo estava ali. Até mesmo ainda restava o balanço de madeira maçiça pendurado na imensa Sapucaia do jardim frontal. O balanço de dois bancos logo ali perto da Sapucaia. As janelas onde eu o observava lidar com o gado. Será que o tempo o tinha transformado em um velho? Porque dona Maria do Rosário estava precisando de cuidados de enfermagem? Não vi brinquedos de criança pelo jardim. Eram muitos questionamentos e meus olhos varriam o local da minha infância enquanto eu removia da frente dos meus olhos castanhos o cabelo revolto pela brisa de final da tarde. Subi os dois degraus da frente e parei em frente a imensa porta de madeira da sala. Bater era o que deveria ser feito mas minha mão não conseguia sair do lugar. Eu tremia mais que vara verde e sofria tentando fazer minha mente parar de pensar no que dizer e apenas bater, forte. Ouvi cascos de cavalo atrás de mim, no chão de pedrinhas.

— Deve ter vindo por causa do anúncio?

Aquela voz era conhecida. Eu me virei para o cavaleiro dos meus sonhos e quase abri a boca ao ver aquele italiano. Ele não era mesmo italiano mas eu gostava de chamar aquela família assim por influência do meu pai. Montando aquele cavalo, Matteo estava à minha frente. Ele vestia calça jeans, botas e uma camisa preta. Estava de boné na cabeça. Preto igual a camisa. Ele franziu a testa ao me ver. Eu poderia reconhecer sua voz onde quer que eu fosse, mas aquele corpo... Ele estava malhando? Não estava velho, não parecia ter trinta e oito, estava ainda mais lindo do que eu lembrava e foi ali que eu entendi que estava perdida.

— Lembra de mim, senhor Ricci?

Ele sorriu, inesperadamente. Um sorriso de fazer derreter geleiras e esquentar a pele de qualquer mulher.

— Claro! A filha da Martina!

Ele desceu do cavalo e se encaminhou em minha direção subindo os degraus. Eu era apenas a filha da Martina e do José. Legal. Mas também, Bela, ele era casado. O que você esperava que ele fizesse? Que soubesse da sua incrível paixão da adolescência e corresse para seus braços? Ele estendeu a mão a mim.

— É, Isabela.

— Isabela, isso! Como você cresceu!

O perfume dele invadiu minhas narinas me deixando inebriada. Amadeirado com toque cítrico. Segurei sua mão, sorrindo até demais. Aqueles olhos azuis postos em mim, me fizeram arrepiar. Ele me intimidava.

— Sim, vinte e três já.

— Isso tudo? Vamos entrar, vou te mostrar a mamãe. Ela vai lembrar muito de você.

A voz dele não era entusiasmada. Ele tinha algo de bastante sério e sisudo e um olhar triste mas tinha se alegrado com a minha presença. Talvez lembrasse do passado.

— Onde está sua esposa e filhos? — Perguntei, a tonta.

Ele parou de andar a minha frente e eu estanquei o passo logo atrás. Ele não se virou para dizer nada me olhando nos olhos. Ele não era homem disso.

— Eu não tive filhos e minha mulher morreu há dois anos.

Arregalei os olhos. O que? Matteo, um viúvo? E sem filhos? Ele voltou a caminhar pela casa e eu o segui. Eu conhecia bem o quarto de dona Maria do Rosário. A casa estava moderna. O pé direito era obviamente muito alto como toda casa antiga de fazenda mas os lustres bonitos e imensos de contas de vidros estavam lá ainda. A cristaleira de dona Maria. A tapeçaria cara e os quadros na parede. Tudo permanecia lá tal e qual eu lembrava. E ele estava viúvo... Eu não sabia o que sentir. Era um misto de piedade com uma mórbida alegria de saber que eu não ia esbarrar com uma esposa e morrer de ciúmes. Em todos os meus sonhos com ele, nunca poderia imaginar uma situaçao tão constrangedora e triste mas ao mesmo tempo tão propícia. Fez me sentir uma péssima pessoa.

Ao adentrarmos o quarto de dona Maria me deparei com uma senhora bem envelhecida, numa cadeira de rodas.

— Mãe? Olha quem veio te ajudar. — Ele disse.

Ela virou a cadeira e ao me ver, seus olhos encheram de lágrimas. Eu não me lembrava daquela mulher ser assim emotiva.

— Isabela?

— Oi, dona Maria. — Eu me aproximei e lhe dei um abraço ao qual ela retribuiu apertadamente.

— Como soube?

— Vi um anúncio no jornal, do senhor Ricci. — Olhei para ele.

— Ah, Matteo por favor, senhor Ricci era meu velho.

— Certo, senhor.

Eles se entreolharam e sorriram com empatia.

— Meu filho não é um senhor, Isabela. E como está sua mãe? E seu pai?

— Estão bem, em BH.

— E você fez Enfermagem? — Ela perguntou.

Matteo se sentou na cama dela.

— Sim, fiz um curso de dois anos. Sei fazer tudo que a senhora precisar.

Ela se mostrava bastante emotiva. Pelo canto dos olhos notei que Matteo baixou a cabeça.

— Eu vou fazer um café e trago para as senhoritas. — Disse ele.

Rapidamente me levantei.

— Eu posso fazer o café!

Ele se mostrou contrariado.

— Você não é empregada dessa casa há mais de dez anos, Isabela.

Ele disse e saiu do quarto rumando para a cozinha.

— Ele é um amor,não é?

— Muito.

Tive que concordar e muito. Algum defeito aquele homem tinha que ter. Eu não queria perguntar o que ela teve, pela proximidade talvez, mas tinha que saber. Fiquei esperando ela dizer alguma coisa.

— Isabela, eu tive um tumor na coluna. Os médicos combateram e eu estou bem mas não posso mais andar e você sabe...

— A higiene pessoal?

— Sim, mas outras coisas também, remédios na hora, que eu esqueço, estou hipertensa e Matteo trabalha muito.

— Eu compreendo. Se ele me aceitar, eu vou ser sua enfermeira.

Sorrimos uma para a outra. Ela tinha mudado muito, parecia uma mulher mais agradável e calma. O que o sofrimento faz a algumas pessoas... as transforma.

— Ele já aceitou, você foi a segunda a aparecer mas a outra menina fumava.

— Ahhh.... — Sorri, vitoriosa.

Conversamos sobre a casa, amenidades, meu curso até Matteo aparecer. Ele trazia uma bandeja com três xícaras de café e estava um pouco mais sisudo.

Parecia apenas preencher um protocolo enfadonho.

Senti tristeza em seu olhar e até alguma frustração. Ele nos ofereceu as xícaras e foi tão polido quanto podia ser. Sentou-se ao lado de sua mãe, na cama e me observou de cima a baixo. Eu não vi aquele gesto de maneira direta mas sim pelo canto dos olhos e aquilo me encheu de curiosidade.

— Isabela, vamos conversar agora?

— Sim, senhor Ri...Matteo. — Lembrei de sua correção.

— Me acompanha até a sala? Mãe, vou tratar de assuntos chatos com ela, está bem?

— Claro, meu filho.

Eu nem tinha sequer provado um gole de seu café. Levantei-me da cama e o acompanhei até a sala. Eu esperava que ele se decidisse por não me contratar, talvez por me conhecer e achar que sua mãe não se sentiria confortável. Ele parou na sala e apoiou as mãos na cintura me olhando. Ele parecia pensar bem, ficou mudo por longos minutos.

— Isabela, minha mãe requer cuidados constantes, acho que você notou. Eu fiquei muito magoado com seu pai quando saiu daqui nos deixando sozinhos para cuidar de tudo. — Ele estendeu a mão — Eu entendo, não pense que eu não compreendo, ele queria um ensino melhor para seus filhos, não podia voltar ao quilombo. Mas eu estou disposto a passar por cima de tudo isso porque você nos conhece desde que nasceu e conhece minha mãe muito bem.

— Sim. — Cruzei minhas mãos a frente do corpo em um gesto de submissão e nem sei porque fiz aquilo.

— Então... — Ele cruzou os braços, baixando o olhar — Acho que já podemos falar em pagamento, eu posso te oferecer três salários, tudo que você precisa está aqui e basicamente você precisa tomar conta dela, dar os remédios, fazer a higiene e levá-la para tomar sol. Ela gosta muito. E anda bem depressiva...

Ele ergueu aquele olhar lindo para mim e Deus! Como tinha ficado ainda mais bonito com a idade! Eu demorei a responder qualquer coisa notando a sua barba e alguns fiozinhos brancos que nasciam discretamente nela e nos pontos luminosos de sua íris que refletiam a luz das janelas.

— Então?

— Hã? Ah! — Idiota Isabela! — Eu aceito senhor...Matteo! Três salários? É uma oferta muito boa!

Boa? Era tentadora demais, eu jamais conseguiria isso na cidade, infelizmente os profissionais da saúde não são reconhecidos nem bem remunerados. Ele deu um discreto sorriso de lado que era sua marca registrada.

— Então — Bateu as mãos a frente do corpo — Acho que temos um acordo?

— Sim, temos.

Eu estava muito animada e ele pareceu estar aliviado de achar alguém e era só isso. Porque seria outra coisa, sua tonta?

— Eu não posso cuidar dela, estou sempre viajando e sempre no escritório, acho que ela fica deprimida e chorosa, sabe como é?

— Sim, sei.

— Então, pode ocupar o quarto que era dos seus pais, eu tenho outros quartos de outras funcionárias, a cozinheira e a faxineira. Você conhece todos, com certeza e não vai encontrar dificuldade de se acomodar, ou vai?

— Não, claro que não. Muito obrigada, Matteo.

— De nada, Isabela, acho que será bom para ela ter alguém conhecida por perto.

— Sim, eu entendo.

Basicamente eu estava em pânico. A minha paixão adolescente tinha acabado de me contratar para voltar a babar por ele. Bem, não era para isso mas era isso que terminaria acontecendo. A minha paixão, que era para morrer e sumir da minha mente, simplesmente tinha se reforçado a décima potência e estava latejando no meu peito e em outras partes de mim. Aquele homem exercia frenesi máximo sobre mim. De repente, o que era para acabar, estava somente recomeçando. Que imbecil você é, Isabela... Porque sonhar com ele de novo? Você é negra, bonita, mas negra, nunca será notada por ele. Você foi e sempre será uma criança para ele, mesmo com vinte e três anos. Ele te viu crescer, nunca vai te enxergar como mulher. Você já devia ter acordado para isso há quinze anos atrás!

— Você ficou uma bela moça, Isabela...

Eu já ia começar a caminhar pelo corredor para ir para o meu novo quarto na casa quando ouvi aquela frase partir daquela boca. Congelei. Engoli em seco e voltei meu corpo para ele, tentando não parecer histérica.

— Obrigada, senhor Matteo.

— O jantar é as vinte em ponto, não se atrasem.

Ele sorriu e me deu as costas para ir para fora. Como um homem joga uma granada dessas no seu colo e não repara que você vai fazê-la explodir em sua mente? Eu vi unicórnios, elefantes cor-de-rosa, algodão doces por todos os lados quando entrei no quarto. Enfm me joguei na cama com o peito explodindo de amor e com aquela frase besta na minha cabeça. Ele tinha reparado em mim.

Pela primeira vez na minha vida.

Era óbvio dizer que se ele tivesse reparado há quinze anos atrás seria um pedófilo mas agora não precisava mais, eu tinha a maioridade e ele estava soltinho. Pobre homem, viúvo... Eu não devia ter aqueles pensamentos com um homem que certamente ainda devia sofrer a morte da esposa mas era impossível deixar de me imaginar com ele. Pelo menos na minha fértil imaginação e nas minhas cartas eu podia sonhar livremente com ele.

Droga, eu estava apaixonada de novo.

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