Continuamos ladeira abaixo em direção aos russos. À medida que avançamos, notei algo estranho. Nossos inimigos haviam desaparecido. Eles não estavam mais perto de sua base. O que me confundiu ainda mais. Eu sabia que havia outra equipe por aí, a questão era: onde eles estavam?
Eu rapidamente ordenei que eles se escondessem, mantendo todos alertas.
- Abaixem-se, vamos nos esconder por enquanto. - digo a todos, depois me agacho e recarrego minha arma.
Digo isso a Tadeu, um dos soldados.
- Fique de guarda, eu e os outros vamos dar uma olhada. - Tadeu assentiu e ajustou sua arma, virando-se, procurando qualquer movimento do nosso inimigo e protegendo a retaguarda. Se ele ouvisse alguma coisa, Tadeu me alertaria sobre qualquer ameaça.
Essa estranha ausência de inimigos despertou meu instinto de investigar. Então segui em frente com os outros soldados.
- Vamos por ali, e com cuidado. Fiquem alertas. - eu disse a todos.
Continuamos olhando para os lados, empunhando nossas armas. Observando qualquer movimento. Mas estava muito quieto e eu não entendia o que estava acontecendo.
Tentei usar minhas habilidades para ouvir com atenção e ver se havia algo fora do comum.
Quando me concentrei nos sons do lugar. Eu podia ouvir a respiração de todos os meus amigos. Cada batida de seus corações revelava determinação e coragem. À medida que me concentrava mais, ouvi um grito estridente.
- Senhor, proteja-se, há uma bomba chegando. - Olhei para Tadeu e ele apontou à nossa frente. Uma bomba em rota de colisão conosco.
Meus olhos se arregalaram e tentei manter a calma.
Não houve tempo para correr. Tivemos que tentar nos esconder.
Sem hesitar, num ato de puro instinto, puxei meus companheiros para o lado e gritei ordens desesperadas, protegendo-os do impacto iminente.
Uma explosão ofuscante encheu o campo, seguida por um calor avassalador. Fui jogado entre os escombros e os corpos carbonizados dos meus camaradas. A bomba aniquilou todos menos eu, surpreendentemente.
Apesar da visão turva e do zumbido nos ouvidos, lutei para me libertar dos escombros. Ao olhar para um soldado caído, uma mistura de tristeza e determinação encheu meu ser.
- Como ainda estou vivo? - perguntei para mim mesmo, olhando para os destroços que cobriam meus quadris e pernas. Eu estava preso e todos que estavam comigo minutos antes estavam mortos.
Minhas pernas estavam dormentes e meu rosto doía. Tudo estava queimando, eu podia sentir o cheiro forte. A bomba me queimou e meu coração ainda lutava para não morrer.
Eu mal conseguia ver bem. Eu não conseguia ouvir bem e, aos poucos, senti minha respiração ficar mais lenta.
Sozinho, ferido e atordoado, uma torrente de emoções me inundou. Porém, um pensamento ecoou em minha mente: a responsabilidade de viver na memória daqueles que se sacrificaram.
Horas depois, ao recuperar a consciência, ansiava pela morte, meu corpo dilacerado ansiava por um fim. "Não consigo me levantar", lamentei enquanto segurava a pistola que meu pai me dera. A única pistola que permaneceu comigo diante da bomba. Tentei segurá-lo contra o peito. Minhas mãos pareciam fracas. Eu não tinha mais forças. Foi o meu fim.
As horas se passaram e escureceu. Já tinha perdido a conta de quantas vezes desmaiei e acordei novamente. Foi como um pesadelo. O cenário da guerra estava diante de mim e eu não podia fazer nada a respeito.
Na escuridão, um homem se aproximou, rezando pelo fim daquela cena de guerra. Surpreso ao me ver mudar, ele, um russo, me ajudou e me levou para sua humilde casa. Ele improvisou uma maca com pedaços de madeira que encontrou durante a guerra.
- Espere, eu cuidarei de seus ferimentos. - Ele me levou às pressas para sua casa. E fechei os olhos, tentando não pensar na dor.
Após semanas de recuperação, agradeci ao senhor que me ajudou.
- Obrigado por tudo. - Eu não sabia mais o que dizer a ele.
O homem, cujo nome era Olav, sabia que eu era um soldado inglês. Eu seria procurado pelos russos se eles me encontrassem, então ele me ajudou a encontrar um lugar onde, eu poderia dormir sem que ninguém me encontrasse. Aceitei com enorme gratidão e parti disfarçado entre os russos. Vivendo escondido. Lutei para voltar para casa, mas fiquei desanimado ao saber que havia sido declarado morto. Ouvi meu nome ser mencionado em uma reportagem e não tinha motivo para voltar agora.
Enquanto roubava comida e procurava uma saída, a raiva tomou conta de mim. A perda dos meus amigos na guerra, a impossibilidade de voltar para casa – tudo isso me consumiu.