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Sinal Vermelho

Sinal Vermelho

4.7
19 Capítulo
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Sinopse

Índice

Semáforos são os principais enfeites das ruas de São Paulo e bastou que Lorenzo Fonseca ignorasse um deles para que sua vida nunca mais fosse a mesma. Após uma batida de carro, o rapaz precisa arcar com uma indenização à Pâmela Duarte, ele só não esperava que o destino os uniria de outra forma e que diferentemente dele, ela teria todos os motivos para não ignorar o sinal vermelho de seu coração.

Capítulo 1 — Sr. Sem Noção

Ainda que não seja contra planejamentos, vovó Emília não é adepta à eles e é por isso que quase sempre está correndo contra o tempo — ou fazendo o restante da família correr. E como se não bastasse mandar uma mensagem em cima da hora no grupo da família, sequer me deu a oportunidade de fingir que não recebi seu convite de almoço, ligou-me perguntando se eu já estava pronta e eu, seguindo meu papel de neta preferida, respondi que já estava a caminho, quando na verdade eu nem tinha levantado da cama.

Arrumei-me o mais rápido que pude e saí de casa como uma louca desvairada. Nesse exato momento, encontro-me no carro, realmente a caminho da casa de vovó. Com a temperatura marcando 23°, minha pele queima dentro da blusa de algodão e o suor começa a escorrer pela minha testa. Para piorar minha situação, o tráfego de veículos em São Paulo está infernal. Diminuo a velocidade gradativamente quando o semáforo muda de cor e bufo frustrada. Já são onze e meia, e com a minha sorte chegarei lá somente no jantar.

Afasto os fios de cabelo grudados em meu rosto e fecho a janela para ligar o ar condicionado. Quando a temperatura esfria, respiro aliviada e ligo o rádio, colocando na minha estação favorita. Está tocando Expectations, o primeiro single solo da Lauren Jauregui após a pausa de Fifth Harmony. Batuco os dedos levemente no volante de acordo com o ritmo da música e alguns instantes depois, o sinal abre, permitindo que eu siga meu destino. Cantarolo o refrão com energia, enquanto adentro uma rua com um trânsito menor. Espero que daqui em diante seja mais tranquilo.

Avisto a tela de meu celular piscar e “amor” brilhar na tela. Curiosa, olho de relance para o semáforo que continua verde, mas antes que eu cogite pega-lo para ler a mensagem, um carro partindo do cruzamento em alta velocidade me faz pisar no freio, em uma tentativa frustrada de impedir a colisão. Arregalo os olhos ao ouvir o estrondo e sinto meu coração saltar do peito. Meu corpo pende bruscamente para frente e o cinto de segurança impede que eu me machuque gravemente. Minha cabeça bate no teto do carro e quando minha mão a toca, o sangue entra em contraste com meus dedos pálidos.

Que merda. Era só o que me faltava... um motorista bêbado.

Abro a janela do carro e coloco a cabeça entre o vão, gritando a plenos pulmões:

— Qual o seu problema, porra? Nunca ouviu a frase “se beber, não dirija”?

Pessoas curiosas deixam suas casas para ver o que aconteceu e logo ouço batidas na outra janela do carro. Franzo o cenho para a mulher que está fazendo gestos estranhos e abro-a.

— Meu Deus, moça, tá tudo bem? — Assenti. — Tem certeza? Você tá sangrando.

Desvio o olhar e abaixo o espelho interno. Pego um lenço umedecido no porta-luvas e limpo o ferimento com delicadeza. Por sorte foi apenas um corte superficial. Jogo o lenço na lixeira e saio do veículo para avaliar sua situação.

Sua frente está toda amassada, assim como a lateral direita do Chevrolet Prisma do outro motorista. A vidraça fumê me impossibilitaria de ver se ele ainda está lá dentro, contudo, parte dela havia quebrado, dando-me a visão de sua silhueta. Ele abre a porta do carro e afasta a multidão com apenas um sinal. Conforme ele se aproxima e checa meu estado, noto que há um misto de culpa e alívio em seu olhar.

— Você está bem?

Em seu tom de voz há suavidade e urgência. Seu visual, apesar de desleixado, não transpassa a imagem de um bêbado.

— Sim, mas não graças a você — respondo ríspida. — Você é louco? Poderia ter matado alguém.

Acidentes de trânsito acontecem e tiram vidas o tempo todo no Brasil, e é bizarro ver que dentre as principais causas está a imprudência do próprio ser humano.

— Eu sinto muito, a minha mãe...

Reviro os olhos sem querer ouvir sua desculpa esfarrapada. É sempre a mãe, a irmã, a tia, a namorada... nunca assumem a culpa.

— Pode remover seu carro da via, por gentileza? — o interrompo.

Ele fecha a boca, balança a cabeça em concordância e retorna até o carro. Pego meu celular em cima do banco do passageiro e tiro uma foto do ocorrido, de forma que fique visível as placas. Adentro meu veículo e assim que ele libera a passagem, tomo a iniciativa de fazer o mesmo, estacionando no acostamento. Ligo o pisca-alerta e visualizo o rapaz pegar o triangulo e sinalizar o acidente. Digito uma mensagem rápida para a vovó, avisando que me atrasaria para o almoço e me assusto quando sua voz soa ao meu lado:

— Podemos resolver a situação sem acionar a justiça, eu vou arcar com todos os prejuízos. — Ergo a cabeça para olha-lo e ele me entrega um papel contendo onze dígitos. — Esse é meu número pessoal, você pode me ligar para acertarmos os detalhes e novamente, eu sinto muito pela situação. Estou muito arrependido.

— Deveria ter pensado nisso antes de ultrapassar um sinal vermelho.

Pego o papel de suas mãos e abro os contatos de meu celular, digitando seu número e salvando seu contato como “sem noção”.

— Confesso que já me deram apelidos piores — constata espiando o visor pela janela. Além de sem noção, é intrometido. — Meu nome é Lorenzo e o seu?

— Pâmela — respondo, com desdém. — Eu preciso ir, sua falta de atenção me custou um almoço.

— Posso arcar com isso também, Pâmela.

Ele se afasta do automóvel e fecho a janela, ignorando sua existência. Por sorte a casa da minha avó não fica distante daqui e há uma oficina em que poderei deixar meu carro para o conserto. Abro a caixa de mensagens do meu namorado.

Bom dia, amor [11h37m].

Sei que não temos conseguido passar muito tempo juntos, então o que acha de sairmos para jantar hoje? [11h37m].

Com o fim do semestre chegando, faz algum tempo que não saímos para nos divertir. O trabalho e a faculdade ocupam boa parte do nosso dia e os fins de semana tem sido dedicados aos trabalhos e preparação para as provas. Suspiro em chateação.

Desculpa, mas não vai dar. Vou almoçar na vovó e passar na oficina depois de lá [12h43m].

Oficina? Seu carro quebrou? [12h43m].

Longa história, explico quando chegar [12h44m].

Saio da conversa e digito na barra de pesquisa “sem noção”. O perfil de Lorenzo aparece e abro a sua foto. Nela ele vestia uma camiseta preta que marcava seus braços repletos de tatuagens e sustentava nos lábios um sorriso ladino. Seus fios escuros estavam bagunçados e cobriam boa parte de seu rosto. Reviro os olhos e vejo-o adentrar seu carro. Ativo o teclado.

Boa tarde, gostaria de falar com o sr. sem noção [12h47m].

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