um pé no saco, Joana tinha 14 anos e Jamal tinha 10, contudo a diferença deles era de cinco anos, e eram semelhan
queria. - Já estou sentindo - ele respondeu, com aquele sorriso torto, aproximando o rosto dos cabelos dela para sentir mais de perto seu perfume, a encarando com olhos que pareciam querer falar mais do que havia dito. Ela riu, tentando disfarçar o impacto que ele sempre lhe causava. Tarso era o tipo de cara que fazia barulho até em silêncio. Craque do time de futebol, faixa marrom no jiu-jitsu, olhos caramelos que pareciam desvendar no profundo de quem ousasse encará-los por tempo demais, além ser moreno e alto. Enquanto eles caminhavam juntos pelos corredores, ele contou que teria um campeonato, ela falou do nervosismo do primeiro dia, e por um instante tudo pareceu normal. Dois amigos, dois irmãos de criação. Mas cada gesto, cada toque mesmo que não de forma intencional, cada silêncio entre risadas, gritava uma verdade que ninguém ousava dizer: eles estavam perigosamente perto do que nunca foi previsto. E o hoje o dia só estava começando Os dias seguintes passaram como um furacão calmo, se é que isso existe. A rotina nova, os horários diferentes, os professores desconhecidos. Joana tentava se adaptar à nova realidade enquanto sua cabeça se dividia entre o presente e o inevitável futuro que se aproximava com o fim daquele ano: a partida de Tarso. Na segunda-feira, já no primeiro horário, teve aula de filosofia. Do professor Marsal, um homem magro com cara de quem já viu muita coisa na vida, entrou na sala e soltou: - Vocês acham que existem verdades absolutas? Joana nem teve tempo de pensar. A menina do cabelo colorido atrás dela levantou a mão e soltou uma teoria sobre como as redes sociais moldavam a percepção da verdade. Foi quando Joana percebeu que aquele ano seria diferente de tudo. No intervalo, sentava com dois colegas novos e com sua amiga da escola anterior e visinha de rua, Alana, Clara, que falava sem parar e queria ser atriz, e Yuri, um garoto tímido que andava com fones de ouvido no pescoço e parecia ler um livro diferente todo dia. Tarso sempre aparecia, mesmo que fosse por cinco minutos, para checar se ela estava bem, fazer piada com a saia dela "tá torta desse jeito de propósito ou é tendência?" e roubar metade do seu suco. Ele ficava a observando de longe nos momentos em que não podia se aproximar. Aos seus olhos ela era uma princesa tirada dos livros, pele morena, cabelos compridos que caiam em ondas nas suas costas quase batendo no seu quadril, lábios carnudos sempre brilhantes, os olhos, eram como uma imensa floresta de tão verdes, ele sempre se perdia a admirando e agora não foi diferente, e ficou imaginando qual seria o gosto de seus beijos. Na aula de educação física, Joana teve que correr na quadra de areia. O sol parecia querer testar sua paciência. Tarso apareceu no meio da corrida, apenas para dizer: - Borá, atleta! Estou treinando para o campeonato e você aí andando como se estivesse no shopping! Ela gritou com ele e sorriu. Sempre sorria para ele. O tempo parecia correr mais rápido quando ele estava por perto. Mas havia algo diferente, mesmo nas conversas mais banais. O olhar dele, às vezes, durava segundos a mais. E o dela, também. Ela tentava fingir que nada estava mudando. Mas estava. E ela sentia tudo na pele. Teve dias que ele a levou embora e dias que ela esperou pela mãe. Alicia amava celebrar as pequenas conquistas, então marcou um jantar na sexta, já que domingo o almoço seria na casa da avó de Tarso, ela faria aniversário, eles estavam sempre juntos, seja na casa de Alicia e Oliver, pais de Joana e Jamal, ou na casa de Sophia e Leonardo, pais de Tarso, quando não, na casa dos avós, ou em restaurantes. A semana passou rápida e o jantar de sexta-feira era tradição. Pontualmente na primeira sexta do mês, as duas famílias se reunião, contudo neste mês foram dois jantares de sexta, mas isso não era problema, pois eles amavam passar tempo juntos, Alicia pediu para dona Maria, sua secretaria do lar, organizar tudo da casa e decoração, ficando ela mesma responsável de preparar a comida com sua amiga de longa data, elas sim eram como irmãs. A casa de Joana transbordava alegria, com as conversas e risadas das três mulheres na cozinha, mãe, filha e tia. Uma musica ambiente tocando ao fundo, a mesa posta com mais requinte e o dobro de pratos, comida que Alicia fazia ao lado de Sophia era saborosa e sofisticada - nada de delivery ou lanchinhos. Elas caprichavam nos temperos, nas receitas de família e na sobremesa que só elas sabiam fazer, eram as receitas secretas e os mari