REENCONTRANDO MEU PRIMEIRO AMOR

Pov Margô

Estava ansiosa por essa nova etapa que estava se iniciando, durante todo o trajeto, que durou cerca de 4 horas de carro, consegui rever em meus pensamentos tudo que passei até chegar aqui. Todos os vestibulares, as frustrações, as noites em claro, até enfim receber minha tão sonhada aprovação no curso de medicina.

- E aqui está! Chegamos na Universidade! - meu pai disse apontando para o portão de entrada, ainda no carro, me tirando de meus devaneios.

Meus pais sempre foram muito coruja e sempre sonharam com esse dia tanto quanto eu! Viemos juntos conhecer a instituição e realizar a matrícula. Durante todo o "tour" podia ver nos olhos da minha mãe a alegria e orgulho de estar voltando a sua universidade agora para deixar sua garotinha. Mamãe ou Dra. Lígia Geller, como a maioria das pessoas a conhecem, é pediatra à 25 anos e atua na ala Pediátrica de um hospital de câncer desde meus 6 anos, quando nos mudamos para lá por conta dessa vaga de emprego.

Até então morávamos aqui, eles se conheceram bem jovens ainda na faculdade enquanto minha mãe cursava medicina e meu pai cursava agronomia. Mundos completamente diferentes, eu sei, mas o amor tem dessas coisas! Desde que se conheceram nunca mais desgrudaram e logo depois da formatura já teve casamento e em seguida eu nasci. Seis anos depois, com o falecimento de meu avô paterno, meu pai se viu na obrigação de tomar conta das terras de seu pai, já que era pra isso que foi preparado pelo meu avô a vida toda. Já formado na área, e com a proposta de emprego de minha mãe na mesma cidade do interior, decidiram recomeçar a vida por lá, e foi assim que saímos da capital para onde volto hoje para iniciar meus estudos.

Ao sair da universidade fomos direto para o prédio onde seria meu lar nos próximos anos. Mamãe optou por este lugar não somente por ser apenas três quarteirões da universidade, mas também pelo proprietário ser marido de uma velha amiga de infância. O apartamento era realmente muito aconchegante, apesar de não ser tão grande era mais que o suficiente para passar esses anos de estudo. Todo mobiliado, contava com sala com varanda, cozinha e sala de jantar, além de um quarto e banheiro.

O sol já estava se pondo quando terminamos de organizar tudo, e devo dizer que a vista do sexto andar é linda! Meus pais já iriam retornar para casa pois amanhã minha mãe precisaria participar de uma reunião importante no hospital, porém a dona do prédio, Ingrid Beneti, aquela amiga de infância que comentei acima nos convidou para jantar em sua casa, já que não pode ir pessoalmente entregar a chave do apartamento durante o dia. Óbvio que mamãe aceitou, elas sempre foram muito unidas e mesmo com toda a distância ainda se falavam por mensagens.

A casa dos Beneti era um pouco longe do apartamento, algo em torno de vinte minutos de carro. O condomínio em que moravam era lindo, e por sinal também foi planejado por André Beneti, esposo de Ingrid. André é muito conhecido na cidade por seus projetos de engenharia civil, além de projetar também investe em construções de prédios, como o que alugamos, e condomínios.

A alegria tomou conta quando Ingrid abriu a porta da sala e avistou minha mãe, a amizade delas era realmente muito bonita. Não tenho muitas lembranças de quando convivíamos, por ter me mudado muito nova acabei não tendo muitas recordações, apenas as histórias que minha mãe sempre me contou. Sei que eles tem um filho, Daniel, com quem eu brincava desde muito pequena por ser apenas 2 anos mais velho que eu, e que Ingrid tem um restaurante no centro da cidade, apenas isso.

Inclusive todos os pratos servidos no jantar foram encomendados do restaurante, escolhidos a dedo por Ingrid, estava tudo perfeito! Durante o jantar várias outras lembranças vieram à tona, contadas por mamãe e Ingrid. Elas até se lembraram de uma fita cassete que foi gravada comigo e Daniel enquanto brincávamos em um parquinho. Claro que elas quiseram rever, então após o jantar fomos todos para a sala e devo dizer que olhar aquelas imagens me fez lembrar ligeiramente daquela época. Daniel era minha primeira paquerinha de criança, sempre foi um menino muito bonito e simpático e com a filmagem pude ver que a paquera era recíproca.

Confesso que desbloquear essas memórias me trouxe curiosidade em ver o homem que Daniel havia se tornado, mas ele infelizmente não estava no jantar. Ingrid comentou algo sobre ele ter ido correr no parque. Logo nos despedimos dos Beneti pois meus pais precisavam pegar estrada e não queriam ir muito tarde. Enquanto saíamos pude ver um rapaz entrando pela cozinha e deixando as chaves e o headphone em um aparador que tinha por perto, era ele. A regata que usava estava molhada de suor provavelmente devido ao aeróbico que estava fazendo. Nossos olhares se cruzaram e pude ver que ele não estava entendendo muito bem a situação. Enquanto subia as escadas notei com olhadas rápidas como ele havia mudado, realmente agora era um homem, e continuava lindo mas agora também tinha um outro adjetivo: sexy.

Daniel chegou, deve ter ido se banhar, não querem aguardar? - Ingrid perguntou mas minha mãe realmente estava com pressa e disse que não faltariam oportunidades.

Enquanto me distraí o olhando, consegui ouvir nossas mães conversando sobre algo do tipo "ele está aguardando o resultado da prova para ver se consegue se transferir para cá". Então quer dizer que Daniel pode acabar na mesma universidade que eu? Me resta torcer, pensei enquanto soltava um sorriso de canto. Brincadeiras a parte ele era sim um gato, mas beleza não põe mesa como diria minha avó e afinal, eu não o conhecia, ou pelo menos não depois de tantos anos afastados.

Cheguei no apartamento após me despedir dos meus pais, tomei um banho rápido e fui me deitar. Foi um dia cheio e eu precisava estar preparada para o início do ano letivo, o início de um sonho.