Do verão para vida toda

A jovem menina era uma mistura de índios e italianos, sua pele era lisa, brilhante e morena, olhos pretos como jabuticaba, nariz e boca pequenos e delicados, seu cabelão negro até a cintura era o que mais chamava a atenção alheia no conjunto. Ainda assim, era uma simpatia de pessoa, meiga, foi criada dentro de casa e não sabia lidar muito com o que acontecia fora de casa.

Mesmo tendo várias pessoas que trabalhavam na enorme casa, na ausência dos pais, ela era a designada por cuidar dos irmãos e fazia isso com a maior proeza possível, amava aqueles dois gêmeos, ambos dez anos mais novos que ela. Cuidava deles, cantava, lia e brincava. Ambos amavam Giovanna e a tratavam com muito carinho.

Os irmãos Arthur e Sarah, sempre queriam a companhia da irmã mais velha por mais que esta estivesse ocupada com os estudos, então ela tentava conciliar ao máximo, o último ano colegial, as atividades durante a semana e os finais de semana com a família.

Naquela época os jovens de escolas particulares, como era o caso, ganhavam como presente a viagem a um resort à beira-mar da praia de Porto Seguro, no estado da Bahia. A escola não confirmou o passeio e os pais decidiram presentear não só a filha como a família inteira, com esta viagem.

A família tinha se preparado durante meses para poder viajar juntos.

- Passou rápido, nossa filha mais velha acabara de se formar no colegial e está indo para a faculdade. Disse um dia o pai para a mãe da jovem.

Giovanna Del Valle, era filha de um famoso empresário paulista Tito Del Valle e de uma igualmente famosa professora universitária, Mia Del Valle.

A adolescente saiu da capital paulistana com dezessete anos para conhecer o estado da Bahia, sem saber que a sua vida mudaria a partir dali e principalmente, que só voltaria para sua terra natal após os dezoito anos.

- A verdade minha cara é que tu só vai conhecer a verdadeira Bahia, quando assistir um nascer do sol, aqui da terrinha. Disse um rapaz com quem dançou forró na primeira noite que saiu.

Sempre saía acompanhada pela família, o pai não autorizava que falasse com outras pessoas e nem tivesse muitas amizades. Tanto o pai quanto a mãe tinham um pouco de receio de liberdades da garota, pois achavam que ela era muito nova e caseira para entender o mundo.

Então tirando esse dia que pode dançar com um rapaz baiano, a moça tinha ido a mais dois ou três bailes na vida onde pode ter contato com outros meninos. Embora levasse muitas cantadas e pedidos de namoros na escola, ninguém a interessava.

Pensava sempre que tinha muito tempo pela frente e que um dia estaria fora das regras absolutas de seus pais.

Por isso, os outros dias de férias foram de descanso da família, café da manhã colonial, piscina ou praia o dia todo, passeio a noite pelas redondezas do local. Chegavam no hotel tão cansados que dormiam pesado até o dia seguinte.

Essa viagem durou quinze dias, quando nos últimos dias dela, a tia que morava no interior do Rio de Janeiro, convidou a família inteira para ir para sua fazenda. O pai disse que já voltaria a trabalhar e a mãe também. Então a tia acabou por convidar as crianças, sendo que Giovanna aceitou.

- Minha filha, cuide-se lá, obedeça a sua tia! Não esqueça que lá você é visita! Leve esse dinheiro, caso precise comprar alguma coisa ou gastar na cidade. Disse Tito entregando um envelope branco com dinheiro nas mãos de Giovana.

- Obrigada pai! Prometo que vou me comportar.

- Meu amor não esquece que qualquer coisa é só nos ligar, estamos aqui viu?! Disse Mia.

- Vou sentir saudades de você!!!

- Eu sei Sarinha, eu também vou. Disse Giovana à Sarah, dando-lhe um abraço apertado.

- Também vou ficar com saudade! Disse Arthur, fazendo manha.

- Ount! Seu fofo! Lógico que eu também vou ficar com saudades.

Era a primeira que Giovana sairia numa viagem sozinha. Iria direito da rodoviária da Bahia para a casa da tia, irmã de seu pai. Todos ali eram muito ricos na sua cidade de origem, tinham quilômetros de terra e plantações, como Tito acabou vindo do Rio de Janeiro trabalhar em São Paulo, a irmã dele precisou ficar para tocar os negócios da família. Tito se sentia culpado por não visitar tanto a irmã.