As lágrimas que descem pelo rosto de Tyler, a julgar pelos seus olhos vermelhos e seu maxilar trincado, são de raiva. A advogada termina de exibir o vídeo e fecha a tela do notebook, estendendo papéis por cima da mesa, para que assinemos. Porém, Tyler é mais rápido. Ele se levanta, amassa o papel e caminha até a parede socando-a e transtornado com tudo o que acabamos de ouvir.
Ele não possui poder nenhum sobre a empresa fundada pelos pais, nem mesmo sua mesada ou as diversas casas e carros que os mais velhos adquiriram ainda em vida.
O herdeiro não herdou nada... ainda.
- Está me dizendo que eu vou ter que me sujeitar a ela? - Ele pergunta apontando para mim com desdenho. - A maior puxa-saco da empresa... - Ele ri e passa as mãos pelo rosto, deixando claro o seu estado de nervosismo.
Eu penso em milhares de respostas que o colocariam no devido lugar dele, mas eu apenas fecho os meus olhos e sorrio e balanço minha cabeça em negação.
- Seus pais só confiavam nela para manter esse lugar funcionando. Ela conhece a empresa como ninguém e eu tenho certeza que você se tornará um grande CEO se aprender tudo o que ela tem para ensinar. - Meghan se levanta. - Até porque, Tyler, você precisa disso. Digo, sem emprego como vai sobreviver? Sem a mesada, sem os pais com costas quentes para te tirar das encrencas... Sem falar que eu acho que você entendeu muito bem tudo o que está em risco.
- ELES NÃO TINHAM O DIREITO! - Tyler grita ainda sem aceitar e meus seguranças adentram a sala alerta.
- Sim, eles tinham. - Eu falo e me levanto, farta pelo escândalo desnecessário. - Para você eu sou a puxa-saco, mas eu sei que sou muito mais.
- Você se aproveitou dos meus pais, sua vadia! - Ele se aproxima de mim lentamente e me encarando com seus olhos castanhos em chamas.
- Enquanto você fazia merda, os ignorava, eu estava aqui diariamente, aprendendo tudo o que eles sempre sonharam em ensinar para você. - Falo tranquilamente, o olhando com firmeza, tentando transparecer que não tenho medo algum dele. - Enquanto eles estavam no hospital, você estava por aí com as suas vadias. E eu? Eu estava lá. - Afirmo e sinto meus olhos queimarem. - Eu os amava como se fossem meus pais. Eu fui a filha que eles não tiveram.
- Você não passa de uma interesseira. - Rosna para mim.
- Uma interesseira que você vai precisar, se quiser herdar tudo o que eles deixaram congelado. - Sorrio vitoriosa e enxugo a lágrima que teima cair.
- Meghan, quem me garante que ela não vai me passar a perna pra ficar com tudo que é meu por direito?
- Para de ser patético! - Eu exclamo, de saco cheio dele. - Eu tenho tudo o que quero, não preciso de nada disso para ser feliz.
- Mas não nega o cargo. Porque não renuncia? - Ele questiona e Meghan se levanta novamente.
- Não há ninguém tão apto como ela, nem mesmo você. - Pega mais um papel e coloca sobre a mesa empurrando-o na direção do rapaz. - Se eu fosse você, Tyler...
- Você precisa trabalhar para sobreviver, Tyler. - Debruço sobre a mesa e assino o papel no lugar sinalizado com meu nome. - Pode acreditar que o maior pesadelo vai ser para mim.
- Isso não vai ficar assim, Diana. - Ele arranca a caneta da minha mão quando eu a ofereço para ele que assina os papéis, contragosto. - Eu sou o herdeiro legítimo, você sabe muito bem disso.
- Não, Tyler, você não é. - Sorrio vitoriosa. - Para herdar, você terá que merecer. - Por fim, pisco para ele. - O que acha de começar amanhã às nove? Roupa social, por favor. Sem essas calças rasgadas. Dá um jeito nessa barba também, está nojenta. - Faço uma pequena careta.
Ensinar tudo o que aprendi em anos para um delinquente em apenas doze meses será, definitivamente, o maior desafio que já tive em toda a minha vida. Mas eu vou honrar a vontade dos Moore e deixá-los orgulhosos. Ou Tyler será um grande homem, ou eu ficarei louca tentando.