Eles viviam desiludidos. Ambos haviam perdido alguém que consideravam sua alma gêmea. Aaron Bitencourt, um ano atrás sofreu um duro golpe do destino, o qual passou a descrever como a pior tragédia de sua vida. Passaram- se alguns meses e ele tornou-se irreconhecível. Um CEO que aos olhos dos funcionários e dos clientes é o executivo perfeito, mas fora dali, é um verdadeiro carrasco. O que ele não esperava é que uma desconhecida surgiria e seria capaz de provocar um turbilhão de emoções. O deixando entre a luz e as trevas. Alicia Scott pensou que encontraria naquele que considerava sua alma gêmea, um porto seguro, mas a decepção vem de onde menos se espera. Totalmente abalada e com tudo desmoronando a sua volta, ela se sente desolada. Para evitar uma vida de frustração, procura dar uma oportunidade a si mesma.
AARON BITENCOURT
A CHUVA CAÍA FORTE E IMPIEDOSA. Raios cortavam o céu e os trovões pareciam abrir o chão, tamanha a intensidade dos estrondos. Os gritos de Marina estavam me deixando atordoado. Mil vezes maldita a hora em que concordei com ela em vir para esta fazenda, sabendo que estava tão perto de ela chegar ao final da gestação. Mas, jamais soube dizer um não para a mulher que desde a minha adolescência, sempre foi o grande amor da minha vida.
Jamais cogitamos que a nossa filha fosse escolher justamente hoje para sua chegada e com a tempestade, ficou impossível levá-la para a cidade mais próxima, já que a estrada tinha sido bloqueada. Tudo que nos restou foi recorrer à doula que morava nas proximidades, segundo um dos meus empregados, ela tinha bastante experiência e já tinha ajudado muitas mulheres em momentos como esses, mesmo assim não me sentia confortável com o parto em casa, mas não tinha outro jeito.
Tive que sair do quarto, agitado como estava, não ajudava em nada e minha presença só deixava a minha esposa ainda mais nervosa, no entanto, já faz quase uma hora que estão dentro daquele quarto e a cada grito agonizante de dor e medo que ela dá, só aumenta a sensação de impotência que estava me levando a loucura.
O tempo parecia ter parado, os malditos trovões reboavam assustadoramente. Eu estava prestes a fazer um grande buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro. Depois de muito desespero e muita agonia, um ruído estrangulado ecoou por todo ambiente e em seguida ouvi um choro vindo da direção do quarto. Meu coração começou bater mais forte e movido pela euforia, corri naquela direção e, quando abri a porta, meus olhos foram ao encontro da minha mulher sobre a cama. De início fiquei assustado, os lençóis que antes estavam imaculadamente brancos, estavam todos manchados de sangue, mas a alegria em meu peito era maior, então acabei com a distância que nos separava e ao me aproximar, segurei em sua mão. Ela exibia o sorriso mais lindo que já vi na vida, correspondendo, outro surgiu em minha face, no entanto, o seu sorriso aos poucos foi desaparecendo e como um pesadelo tenebroso, ela começou a se debater e a revirar os olhos. O medo tomou conta de mim, sua mão ficou gelada e de repente o sangue do seu rosto se esvaiu diante dos meus olhos, deixando-a com aspecto cadavérico. Seus lábios se mexeram, mas tudo que deu para eu entender foi o nome: “Melissa” e em seguida seus olhos se fecharam.
— Você não pode me deixar. Não! Não! NÃOOOOOO... — o grito saiu rasgando meu peito e uma dor profunda me deixou paralisado.
Eu não sei quanto tempo se passou. Estava petrificado, abraçado ao corpo imóvel da única mulher que amei na vida.
Destruído! Essa era a palavra que define tudo que estava sentindo. A dor terrível que tomou conta de mim, se intensificava a medida que eu ia assimilando as implicações do que tinha acontecido aqui. Tudo havia perdido o sentido e quando ouvi uma voz ecoando no cômodo, chamando a minha atenção, tudo que consegui sentir foi um ódio descomunal ao ver a imagem a minha frente, algo dentro de mim havia se quebrado.
— Senhor, a sua filha.