A Garota do Apartamento 17

Tyler

-Desculpem pelo atraso. -Falei enquanto me sentava ao lado de meu irmão, de frente ao meu pai.

-Agora que você está todo independente já está esquecendo até de seus compromissos? -Meu pai perguntou e sorri levemente.

-Eu sempre fui independente, mas me atrasei porque tem trânsito nesse horário, mas é claro que o senhor já sabe disso, não é? -Perguntei provocativo, sabendo que meu pai não dirige há anos.

-Certo, certo, vamos deixar essa conversa para depois, primeiro eu quero saber onde é seu novo apartamento? Quando vamos conhecê-lo?

-Quando ele estiver pronto eu chamo vocês para um jantar. -Falei enquanto colocava o guardanapo de pano no meu colo.

-E você tem previsão para esse evento?

-Em três meses.

-Três meses, Tyler? Mas, meu filho, aonde você vai ficar durante esse tempo todo? Vai dormir no meio da obra?

-Não mãe, eles vão fazer o andar de cima primeiro, depois vão para o de baixo. Tem um quarto no andar de baixo, vou ficar muito bem, pode acreditar. -Respondi tentando tranquilizar ela, sei que minha mãe passa mal quando fica nervosa.

-Mesmo assim, eu me preocupo com você, Ty. Você sabe que por mim, você continuaria em casa, não é? Não tem motivos para sair de casa, querido...

-Pensei que já tínhamos falado sobre isso, mãe...

-Olha como fala com a sua mãe, garoto, ela só está preocupada com você.

-Não estou falando para ela parar de se preocupar, apenas quero que vocês entendam que essa decisão é minha, eu quero sair da casa de vocês, não me sinto bem lá. Preciso do meu espaço, da minha vida.

-Se está dizemos que nós prendemos você...

-Quando eu falei isso? -Perguntei, já interrompendo o meu pai. Ele gosta de um bom drama. -Não podem achar normal um homem de 24 anos ainda morar com os pais, só fiquei tanto tempo por causa da saúde da mamãe e vocês sabem disso.

-E você só está indo embora por causa do chifre que levou. -Meu pai falou e todos da mesa olharam para ele.

-Não foi legal, John. -Minha mãe falou e apenas respirei fundo. -Mas não é por causa disso, é, querido? Por que você sabe que eu e a mãe dela frequentamos o mesmo cabeleireiro e o seu pai joga golf com o pai dela... -Minha mãe falou baixinho e precisei me segurar para não sair andando dali.

-Sem problemas, não esperava aquilo mas eu não fiquei surpreso. Apenas não falem da minha vida para ninguém, especialmente para os pais dela.

-Querido, vende logo esse apartamento e volta a morar com a gente. Sua casa ainda está igualzinha você deixou. -Minha mãe falou e suspirei.

-Hoje foi meu primeiro dia de aula desse ano. -Falou Peter, pela primeira vez desde que cheguei.

-Sério? E como foi? -Perguntei, trocando o assunto e ele começou a contar do dia dele.

Finalmente eles me esqueceram e focaram no Peter, o orgulho da família. Eu não posso negar que sou agradecido por ele escolher seguir os passos do meu pai e assumir a empresa no meu lugar. Se não fosse por isso, eu estaria preso em um cubículo de 5m² durante 8 horas do meu dia, cinco dias por semana, quatro semanas por mês... Vocês entenderam, eu ficaria preso o resto da minha vida.

-Querido, pense bem sobre a mudança, ainda dá tempo de voltar para casa.

-Tchau, mãe, vai com Deus.

Me despedi dos meus pais e do meu irmão assim que o jantar acabou e finalmente eu consegui respirar direito. Minha cabeça doía pela interação forçada e tudo que eu queria era ir para o trabalho.

-Bom dia, Ty. -A recepcionista me cumprimentou e eu devolvi o cumprimento, entrando direto para a sala.

Quando comecei a faculdade de Arquitetura, meu colega de dormitório era um garoto gordinho, ele era um nerdão, mas eu ajudei ele a encontrar o próprio estilo e sua melhor versão, o que fez nossa amizade crescer cada vez mais. Ano passado nós nos formamos e esse ano já temos nossa empresa de arquitetura e paisagismo.

Ele é formado em urbanismo e design e eu em arquitetura. Temos 5 arquitetos, 2 engenheiros e 3 designers na equipe e estamos crescendo aos poucos, mas cada cliente é especial.

Como eu não tinha muito trabalho, decidi finalizar os últimos ajustes no projeto da minha casa dos sonhos. Na segunda feira vão começar as obras e hoje será minha primeira noite lá. Já comprei um colchão inflável, cobertores e travesseiros. Sei que será um desafio esse primeiro momento, o apartamento em obra, sem móveis, apenas eu, Deus e um sonho, mas eu estou pronto.

Cheguei na portaria do prédio e entrei com a senha.

-Boa noite. -Falei ao homem de uniforme que estava atrás de uma bancada.

-Boa noite... Você deve ser o novo morador do apartamento 18, acertei? -Perguntou o senhor de bigode.

-Tyler Montgomery, senhor. -Falei estendendo minha mão para ele.

-Senhor não, me chame de Leo, por favor. Sou o porteiro e o zelador do prédio, estou sempre por aqui, ou lá nos fundos. Qualquer coisa que precisar, é só falar.

-Na verdade, eu queria saber quem mora no apartamento da frente? E quem mora no apartamento de baixo. É que segunda feira vão começar as obras lá em casa e eu queria avisar os moradores com antecedência.

-Muito bonito da sua parte. Bom a sua vizinha da frente não vai ser um problema, ela saí cedo e volta tarde, então ela não vai pegar o horário de obras. A vizinha de baixo é uma senhora, eu posso ir com você avisar ela, já que ela não gosta muito de estranhos...

-Seria perfeito, Leo, muito obrigado mesmo.

[...]

Finalmente. Cama inflada, banho tomado e tudo arrumado para a primeira noite. O vazio do apartamento me deu uma sensação boa no peito, não sei explicar, mas sinto meu coração inflado dentro do peito.

Foi exatamente assim que eu imaginei que a liberdade seria. Um colchão inflável no meio de uma sala vazia, eu não poderia pedir por mais nada.