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Rendido Ao Amor

Rendido Ao Amor

5.0
3 Capítulo
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Theo Maldonaro é um belo CEO e bilionário conhecido, mas nunca conheceu o amor. Isso porque seu passado sempre foi cheio de traumas, tornando-o frio, cruel e implacável. Quando ele descobre a traição do diretor financeiro mais confiável da empresa, o bilionário planeja matá-lo junto com a família. Porém, ele decide executar outro plano maquiavélico ao conhecer sua filha. ATENÇÃO: Algumas partes do livro contém assuntos sensíveis como: violência física e relacionamento abusivo. Isso não quer dizer que a autora compactua com tal ato e comportamento. Se tiver gatilhos e sensibilidade aconselho não ler e para quem acompanhar a história tenha uma boa leitura.

Índice

Capítulo 1 Nunca julgue o livro pela capa

Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. - Khaled Hosseini

O garotinho apertou os olhos profundos, tentando manter os pés trêmulos no solo frio e úmido por causa da chuva torrencial que caía, infiltrando as gotas gélidas nos buracos do teto arruinado. A única peça que vestia era uma cueca slip surrada. A baixa temperatura refletia dor nos ossos, o corpo franzino não suportaria continuar ali depois de ter sofrido aquela sessão de tortura.

Com dificuldade, lançou um olhar aflito para a porta de madeira. Um estrondo de trovoada seguido pelo clarão dos relâmpagos o

fez recuar, assustado. Os dentes cerravam um no outro conforme o queixo tremia.

Ele estava congelando.

Foi deixado á própria sorte, mas sabia que voltar para a casa podia ser bem pior já que não tinha mais ninguém para defendê-lo. Ao avaliar o cenário ao redor de si, ponderou se valia a pena enfrentar o demônio que o esperava do lado de fora ou ter o privilégio de sentir a maciez da cama aconchegante.

Ele não entendia porque seu pai era um monstro. Será que outras crianças também passavam por isso? Elas pareciam tão felizes quando seus pais iam buscá-las na escola.

Elas sorriam e gritavam "papai" ou "mamãe" estendendo o som de risos que deixava o menino intrigado. As poucas lembranças que ele tinha da mãe o entristecia, pois em uma dessas memórias pôde vislumbrar a mesma risada eufórica que deu ao ser abraçado por uma mulher de cabelos negros como ébano e olhos da mesma cor. Era linda...uma princesa, como ele dizia. Não tinha nenhuma foto dela guardada - até isso o crápula de seu pai proibiu, incendiando a pouca coleção de retrato da esposa morta.

O pequeno precisou se contentar com a única lembrança vívida dela que possuía.

No crepúsculo do dia, o motorista da família o deixou em casa.Ele segurava as alças da mochila ao sair do veículo. Olhou para a porta e viu sua mãe o esperando com um enorme sorriso no rosto enquanto abria os braços para ele. O olhar dela denunciava algo que fez a criança ficar em estado de alerta. Principalmente quando ela disse:

- Meu amor, tomei uma decisão. Mas antes, preciso saber...você gosta dessa casa?

Ele negou. Aquela resposta era tudo o que ela precisava para segredar ao filho o que havia planejado. Apesar da idade, Theo era bastante esperto e inteligente. A decisão de sua mãe era arriscada, porém, o garoto ficou empolgado.

A mãe não precisaria mais lidar com um marido abusivo e ele...não presenciaria mais a face demoníaca daquele homem. Mãe e filho sorriam um para o outro durante o jantar, preludiando como seria a nova vida deles dali pra frente.

Mas essa cena logo desapareceu ao recordar do fim trágico dela. Essa última recordação o marcou profundamente...tanto que ele ficou mais recluso. E ao presenciar nas outras crianças de sua idade aquilo que não tinha, esperava chegar em casa e longe das vistas de seu pai e da babá megera, chorava escondido.

Ás vezes, o pranto abundante arrancava soluços altos e sôfregos, para ninguém escutá-lo, corria para o banheiro e apertava o botão da descarga. Seu pai não gostava que ele chorasse. A babá megera também não tolerava. Porém, nenhum lugar daquela mansão era seguro o suficiente para tampar os ouvidos alheios.

Consequentemente foi descoberto. O que piorou ainda mais as surras que levava. Logo, as torturas tomaram proporções maiores - o progenitor precisou mudá-lo para uma escola particular mais próxima do bairro que mal tinha vizinhos, cujo diretor não passava de um estelionatário conforme havia sido investigado à mando dele. Obviamente, o crápula aproveitou que era um cientista renomado e apresentou a proposta de patrocinar a escola com a condição de que seu filho não sofresse nenhum incômodo.

Ele sabia que o diretor Anthony desviaria boa parte daquele dinheiro. Não importava se o cara era um ladrão de mão cheia que ainda não havia sido exposto pela sociedade - o mais importante era que absolutamente ninguém descobrisse quem ele era. Anthony garantiu que nem os professores perturbariam Theo e o protegeria até mesmo se alguma denúncia sobre ele surgisse - um porco degenerado, concluiu Heitor.

Comprar o silêncio dele não requeriu nenhum esforço. Também tinha o "controle" da destruição guardado se o Anthony mudasse de ideia ou viesse a descobrir o motivo do filho ser recluso e calado.

Quem viu Heitor se despedindo do menino após a reunião particular com o diretor, considerava-o sortudo. Criança bonita de

família rica e um pai conhecido que já ganhou vários prêmios acadêmicos e viajava constantemente à trabalho e ainda por cima era "carinhoso," nem imaginava o medo que o menino enfrentava.

As outras crianças queriam a amizade dele. Era o primeiro a ser convidado para participar das brincadeiras. Todos queriam ser a dupla dele nas atividades escolares, pois tinha facilidade nas matérias, principalmente com números. Porém, Theo não estava acostumado com aquilo. Foi alertado para não se envolver com ninguém, consequentemente afastando as outras crianças.

Ele se viu sozinho. Sem amigos. Apegando a ideia de que precisava apenas parar de chorar e mostrar que era forte, capaz de sobreviver áquele tormento.

Mais solitário se sentiu naquele casebre velho e abandonado, no meio de um lugar desconhecido. Não sabia o que a densa mata escondia. Mesmo assim, não queria continuar tremendo de frio. Decidido, caminhou em passos trôpegos em direção a porta. Os dedos dos pés enrijeciam aos poucos, a ponta deles adquiriu uma coloração arroexeada e parecia que a qualquer momento ele cairia duro no chão de concreto.

Um soluço incontido escapou de seus lábios diante dos açoites da rajada de vento tocando as feridas nas costas. Sua visão ficou embaçada pelas lágrimas ao passo que seu subconsciente o lembrou da ira que seu pai despertava ao vê-lo chorar. O chamava de frouxo e bunda mole igual a mãe e por isso que os fracos não tinham vez nesse mundo.

- Sou forte. - Repetia, engolindo o choro, trêmulo, devido ao frio que sentia. - C-c-cho-chorarr ééé p-para o-os fra-fracos.

Theo respirou aliviado assim que vislumbrou o lado de fora do casebre, porém, seu coração estremeceu ao reconhecer o veículo de seu pai. O vidro da janela do motorista abaixou para o horror do menino. O olhar frio de Heitor o examinou de cima pra baixo expressando o repúdio que a criança lhe causava.

Abrindo a porta do carona, sinalizou para que ele entrasse. Theo hesitou sem saber qual seria o próximo passo da figura monstruosa. O suspiro profundo e velado de ameaças movimentou os pés rijos do pequeno, temeroso que coisa pior acontecesse. Mal ocupou o banco acolchoado e recebeu um tapa forte no rosto.

- Seu verme maldito. - Rugiu Heitor, agarrando um punhado de cabelo dele e sacudindo a cabeça violentamente. - Quando eu te chamar você não tem que pensar duas vezes.

Theo encolheu os ombros, apavorado. O pescoço latejava com a sensação que o osso seria partido ao meio pelo sacolejar violento.

- Papai...

O homem parou de sacudi-lo, arqueando a sobrancelha pela palavra que o menino pronunciou. Não escutava ser chamado assim desde a morte da esposa. Ele esperou um pedido de desculpas, pois o medo enraizou no coração da criança e virou rotina o filho dizer isso mesmo sem ter feito nada.

- P-p-por que...o senhor me odeia?

Heitor soltou o cabelo dele, deparando com o olhar assustado da criança. As características físicas eram idênticas do homem que ele odiava. De sua falecida figura paterna. Daquela criatura bestial que o moldou para ser assim.. Porém, ele podia mudar o curso da história, já que a gravidez não havia sido planejada. Rosana o atraiu desde o primeiro momento que a viu entre as fileiras do auditório enquanto palestrava.

A moça era a que mais prestava atenção no que ele dizia e não em sua aparência esbelta. Heitor lembrou-se o quanto desejou passar a noite com ela; para a sua frustração, Rosana não era do jeito que imaginava. O rejeitou, dizendo que pretendia se casar e não ter a vida promíscua que ele tinha.

A princípio, ele considerou tomá-la a força. Era bom em esconder vestígios e forjar provas. Todos o admiravam. Porém, refletiu que não valia a pena sucumbir a esse lado. Já que se importava com o status social e o dinheiro que para ele não era nenhum problema; mostrou sua outra faceta para a moça, a conquistando aos poucos.

Afinal, seu pai também não amava sua mãe e nem por isso divorciou dela.

Tarde demais, Rosana percebeu o monstro que o marido era. Abusivo. Tóxico. Criminoso. Ele não parecia feliz com o nascimento do menino. A princípio, Rosana se convenceu pela infância dele não ter sido boa, por isso se acostumaria com o tempo.

Porém, conforme o menino crescia, Heitor começou a repetir o quanto a criança "parecia" com ele, sendo questionado a quem se referia; pois, Rosana reparou que os traços infantis diferenciavam um pouco do pai. Os olhos azuis eram profundos, a impressão era que sondava todos os segredos escondidos da alma.

O cabelo escuro, espesso e liso contrastavam com os lábios rosados e a pele clara igual a dela. As narinas estreitas no nariz levemente arrebitado pertenciam ao Heitor. O cientista suspirou fundo e finalmente revelou sobre o falecido pai que possuía o mesmo olhar do filho.

Toda vez que o via sentia-se mal, para horror e medo da esposa. Imediatamente, ela juntou seus pertences afim de morar por algum tempo na casa da irmã mais velha.

Em sete anos, aquele homem "cavalheiro" e "dócil" ruiu literalmente diante dela. A máscara caiu por completo assim que ela tentou ir embora com o filho que completara cinco anos de idade.

Foi a primeira vez que sentiu o peso do punho dele. E também foi a primeira vez que descobriu que Heitor era o mal encarnado pronto para formar o inferno na vida dela.

- P-por que o-o senhor me machuca tanto?

- Cale a boca. - Rosnou, erguendo a mão fechada no formato de soco e acertando um golpe furioso contra o volante. -

Você...você não devia se parecer tanto com ele. Não devia.

Theo não sabia de quem ele falava. Aliás, nunca entendeu o motivo de ser alvo do ódio de alguém que devia protegê-lo.

Afinal, os pais amam e protegem seus filhos, certo?

Na escola o ensinavam assim.

Seus colegas falavam bem de seus pais.

Aquela realidade deles era utópica, um sonho de consumo. Ele não sabia se acordaria no dia seguinte ou morreria de tanto apanhar.

- Esse mesmo olhar quando eu o encarava e odiava a cada segundo, imaginando várias formas de matá-lo.

Theo franziu a testa, confuso. Compreendeu que ele falava de outra pessoa, mas quem seria?

- Mas o senhor é meu pai.

Heitor parou. Milimetricamente seus olhos esbugalharam de choque. Aquela afirmativa foi como um soco no estômago, pois o garoto tinha razão.

O silêncio do homem aumentou os batimentos cardíacos do pequeno. Seminu e dolorido, Theo antecipou a resistência ante os golpes ao virar o rosto e fechar os olhos.

No entanto, o ronco do motor sendo ligado e o veículo em movimento, criou coragem para observar o maxilar dele travado e a ponta dos dedos brancas de tanto apertar o objeto.

O ódio irracional de Heitor pelo filho aumentou dia após dia, passando a ficar ausente dentro de casa e o deixando aos cuidados da babá indecente que iniciou um caso com um dos capangas do patrão e o chamava sempre que este não estava lá. Theo não gostava daquele homem e ninguém se importou com isso. As visitas frequentes, as contínuas táticas de aproximação que a criança fugia, culminou em um dia qualquer, a morte da inocência da criança.

E o nascimento de uma personalidade, cujo caráter diabólico, assustaria o próprio pai anos mais tarde.

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