Henriqueta, ela é uma negra que cresceu junto comigo, seus pais estão trabalhando para a nossa família desde sempre, sei que daqui a pouco ela vem pular em cima da minha cama para descer para tomarmos café, ouço as batidas dela, na minha porta, sem demora ela entra.
- Vamos Luna, sua mãe já está na cozinha ajudando a minha nos preparos para o café e seus irmãos já estão todos lá embaixo. - Ela fala suspirando.
Sei que ela é apaixonada pelo meu irmão mais velho Marcos, que além de herdar o nome do meu pai ele também herdou sua gentileza e humanidade, sei que ele jamais trataria minha amiga mal.
- Já estou acorda Henriqueta, vou só jogar um pouco de água no rosto e pedir para minha mãe fazer um chá para mim, estou sentindo dores na barriga. - Levantando sentindo um incômodo em minha barriga.
Olhamos para os lençóis, sinto um desespero em meu peito, minhas regras revolveram atormentar a minha vida.
- Luna... - Henriqueta me vira e observa minha camisola com uma grande mancha de sangue.
Passa as mãos no meu rosto e me ajuda com o que preciso, mas antes ela me avisa que precisa chamar a minha mãe para que ela fique ciente.
- Fique calma, chamarei a sua mãe e trarei uma bacia com água morna para que se limpe, já volto. - Ela diz.
Minha amiga sai, e me lembro das conversas do meu pai sobre meu futuro, sobre os planos para um casamento.
- Filha, não se preocupe, assim que suas regras acontecerem, arrumarei um bom casamento para você, como Dote darei a "LUZ DE LA LUNA", acharei um bom rapaz para você.
Enquanto estava perdida em pensamentos e com o rosto cheio de lágrimas, minha mãe entra no quarto toda esbaforida, e começa a enxugar meu choro.
- Não quero me casar, mamãe, por favor não estou preparada para isso. - Seguro nas mãos dela que, me dá um doce sorriso.
- Luna, deixe de medo, eu também o senti e olhando hoje para toda a tempestade que fiz nas saias de minha mãe, me arrependo muito, se ela tivesse me ouvido jamais teria construído nossa família e vocês são os melhores presentes que seu pai poderia me dar, pare com esse choro sem motivo, nem pretendente você tem, agora vá tomar banho a Henriqueta vai te ajudar e mais tarde conversaremos. - Minha mãe dá um beijo em minha testa e começa a sair do meu quarto.
- Onde a senhora vai? - Pergunto com medo de saber a resposta.
- Preciso contar ao seu pai sobre o que aconteceu. - Minha mãe demonstra estar mais feliz que qualquer outra pessoa estaria.
A Henriqueta me abraça e tenta me consolar, minha amiga me ajudar com o banho e me ensina como usar as toalhinhas de linho e tenta me contar sobre tudo o que preciso saber, agora preciso ter um cuidado muito maior com os homens.
- Luna não apertarei muito seu espartilho por que provavelmente sentirá dores esses dias, é melhor ficar folgada, não andaremos pelo sol também, ficaremos em casa até que fique melhor. - Ela já tinha me ajudado a me vestir, meus cabelos, deixamos com um pequeno coque solto e finalmente descemos para a mesa para o café.
- Filha, estou tão feliz por você, finalmente se tornou uma mulher feita. - Meu pai fala.
Ele se aproxima e me dando um beijo na testa, sinto minhas bochechas corarem e meu pai puxa a cadeira para poder me sentar e minha mãe também.
- Querido poderia conversar com o Conde, tenho certeza que ele faria muito gosto para com a nossa menina, e o dote dela será de muito valor para ele e seu filho. - Enquanto minha mãe fala, meu pai começa a demonstrar um grande interesse no assunto e vou ficando cada vez mais triste.
Após o café, Henriqueta me chama para irmos até o pomar que fica ao lado da casa para buscar algumas frutas para que a nossas mães façam sucos para levarem para meus irmãos e meu pai no vinhedo.
Estamos no meio da colheita e essa época é a melhor do ano, temos muitas variedades de uvas, meu pai até que tentou fazer uma vinícola, mas não conseguiu dar conta das plantações e de administrar a vinícola, acabou negociando com o Conde que é o dono da nossa antiga vinícola grudada com o Luz de la Luna.
- Henriqueta me diz uma coisa, se meu irmão a pedisse em casamento, iria aceitar? - Tento puxar assunto para ocupar minha mente.
- Claro que isso jamais aconteceria, Luna, olhe para mim. - Estou olhando para ela e não entendi o questionamento.
- Estou olhando e não vejo problema algum, você é linda e adoraria ter você como minha cunhada. - Falo beijando seu rosto e abraçando seu corpo.
- Por favor, Luna, eu sou negra, jamais que seus pais aceitariam e sem contar que nem sei se o seu irmão gosta de mim. - Ela diz um pouco ressentida.
Isso é verdade, Marcos nunca demonstrou nenhuma preferência ou interesse, por ela ou por qualquer outra mulher, já meus pais tenho certeza que não iriam se opor.
- Você poderia fazer algo para saber se existe o interesse. - Falo.
Mas sei que ela jamais, faria qualquer coisa para demonstrar que está interessada nele, ela me faz uma cara feia e continuamos colhendo as frutas. Não ficamos muito tempo pelo pomar e logo voltamos para a casa grande, onde ficamos o resto do dia.
Já é quase fim de tarde e minha mãe entra no meu quarto, estou fazendo uma toalha bordada e observo enquanto ela se senta na cadeira ao lado da minha.
- Luna vim para conversamos sobre algumas coisas de mulheres, que você precisa saber querida. - Respiro fundo e largo o bordado de lado para dar atenção a minha mãe.
- Tudo bem, mamãe, o que preciso saber. - Falo com tanta tristeza que minha mãe só faz rir.
- Meu amor, quando as regras vêm, ela é um sinal que seu corpo está preparado para carregar uma criança. - Agora minha mãe consegue chamar minha atenção. - Por isso, precisa ter muito cuidado quando estiver com seu marido.
- Não estou entendendo mamãe. - Não faz sentido o que ela fala.
- Fique quietinha e entenderá, então quando um casal se casa e vão ter a primeira noite de intimidade, o homem coloca sua virilidade dentro da nossa e a primeira vez sempre doe demais, mas se ele fizer com carinho nas próximas vezes a dor muda e começa a gostar. - Abro os olhos espantadas.
- Mas lembre-se, caso não queira filhos ainda, evite manter relações alguns dias antes da sua regra, então sempre se lembre a data da sua última, normalmente elas demoram trinta dias para virem. - Minha mãe para um pouco e olha para meu bordado. - Se em algum mês ela falhar é sinal que espera uma criança, por isso te disse que precisa ter cuidado de agora em diante.
- Mãe, não sei se vou querer passar por tudo isso, estava tão feliz sendo a menininha do papai, não quero ser a esposa de um desconhecido que nem conheço, quem dirá amar. - Tento mais uma vez com minha mãe.
- Deixe de tolice, ninguém se casa amando, o amor surge com a convivência, os sentimentos que temos antes do casamento é como fogo na palha, cresce rápido e morre mais rápido ainda. - O que minha mãe diz, tem sentido, então decido aceitar a decisões dos meus pais.
- Vou pedir para a Henriqueta trazer seu jantar, seu pai receberá visita e não quero você lá embaixo e nem seu pé na escada. - Começo a rir.
Sempre que eu e meus irmãos queremos ouvir alguma conversa, descemos alguns degraus da escada devagar e nos escondemos atrás de algumas pilastras.
- Mãe posso perguntar algo sobre meu irmão Marcos? - Ela põe uma mecha atrás da minha orelha e sorri com amor para mim. - Vocês têm alguém em mente para ele, ou ele tem interesse em alguma moça? - Minha mãe é uma mulher esperta e enganá-la é uma coisa muito difícil.
- Luna, você nasceu e cresceu tendo as pessoas que trabalham para o seu pai em casa como nosso amigos e não como escravos ou realmente empregados, sempre ensinamos vocês a respeitar cada um deles como amigos, sabe também que temos cada um dele uma grande estima, faria muito gosto que seu irmão a escolhesse, mas ele mesmo nem sabe o que está sentindo e seu pai disse que se ele não decidir, arranjará um casamento para ele, mas não aceitará que ele faça a Henriqueta de amante, seria uma vergonha muito grande para o seu pai, que tem o pai dela como amigo. - Sabia que não estava vendo coisas.
- Ela o ama mamãe, mas tem medo, que vocês sejam contra por ela ser negra e a nossa família ter condições melhores. - Confesso para a minha mãe que minha melhor amiga é apaixonada por meu irmão.
- Não se preocupe com isso, vamos resolver mais cedo ou mais tarde - Ela sorri para mim e percebo que ela não falará mais nada.
Minha mãe se levanta e sai do meu quarto, volto ao meu bordado pensado em tudo o que ela me falou, sinto até uma inquietação no corpo.
Após horas, Henriqueta entra no meu quarto com uma bandeja de comida e me avisa que não pode ficar comigo essa noite, que os pais dela querem falar algo sobre a ida a cidade, então ela sai e desce rápido, já me avisou que temos visita na casa e é para ficar no quarto, reviro os olhos para ela.
Pego uma manta e me cubro, já estou de camisola e como não quero ser vista, fico no alto da escada encostada na parede.
- Conde, como é de seu conhecimento tenho uma filha, minha Luna e comecei a procurar um prometido a altura dela, não estou com pressa de casa-lá, queria muito que ela possa ter a chance de conhecer o rapaz antes do casamento. - Meu pai fala.
- Marcondes, meu filho está com vinte e dois anos e assim como você procuro uma moça de boa família para herdar o título de condessa, mas meu filho não está em Sevilha, está em outra cidade, mas se quiser o compromisso o trago arrastado pelo cabresto. - Ouço a risada dos meus pais.
- Conde acho melhor não, se fizer isso ele irá ficar ressentido e descontará a raiva na minha menina, e mesmo que ela esteja casada com seu filho pode ter certeza que se ele a magoar atravesso as plantações e dou uma surra no seu menino por partir o coração da minha princesa. - Ouço a voz de leoa da minha mãe.
- O que está fazendo aqui, Luna, não deveria estar em seu quarto? - Me assusto com Marcos que me pega no flagra e ponho o dedo nos lábios. - Continuamos a ouvir a conversa, eles estavam todos rindo.
- Se o António fizer algo a sua filha, eu mesmo quebro suas pernas e lhe dou uma lição para aprender como se tratar uma dama.
- Então fechamos o compromisso entre nossos filhos? - Meu pai fala e ouço o tilintar de xícaras.
- Fechamos o compromisso Marcondes e podem providenciar o enxoval, realizarei o jantar de noivado na mansão Venturini, teremos a tourada e vários amigos estarão presentes para o evento e já deixamos que eles se conheçam. - O Conde programa tudo.
- Conde como parte do dote estarei dando essa fazenda e mais um valor que tenho estipulado para esse momento. - Meu pai termina de fechar o acordo, sinto a mão do meu irmão e ele me ajuda a sair do chão onde estava e me leva para o quarto.
- Não fique triste, se esse homem fizer algo pode ter certeza que eu mesmo o ensino a te tratar como uma dama. - Meu irmão dá um beijo na minha testa e sai do meu quarto.
Fico lá deitada em minha cama esperando o sono vir, mesmo com a minha mente um caos como está, fico virando de um lado para o outro na cama.
Por fim acabo pegando no sono e tenho o mesmo sonho de sempre, estou andando no vinhedo e o pôr do sol atrás de mim.