- Tenho certeza de que vai cuidar muito bem dos nossos negócios, minha querida. - meu avô diz pelo telefone.
- O senhor viu que meus tios não gostaram quando o senhor deixou tudo sob minha responsabilidade. - suspiro, me sentando na cadeira do escritório do meu pai.
Pude ouvi-lo murmurar do outro lado da linha.
- Eles não têm capacidade alguma de assumir o controle, você sabe disso - ele responde - Deixei tudo isso nas suas mãos porque confio em você, Ana.
- Mas uma das regras da organização diz que mulheres não podem representar a família perante os outros membros!
- Sim, eu sei - ele faz uma pausa - Mas não precisa se preocupar com isso, eu conversei pessoalmente com o Don e ele nos abriu uma exceção.
Franzi a testa e ele continuou:
- Eu expliquei a ele que não podia voltar a cuidar de tudo porque já estou velho demais e também que seus tios não saberiam administrar nem nossos próprios negócios, muito menos os negócios da organização.
Ainda sentada na cadeira giratória, me virei, ficando de frente para a grande janela de vidro que oferecia uma linda vista do jardim.
- Não sei se saberei administrar todas essas coisas, vovô. E se eu fizer algo de errado e...
- Giusepe estará pronto para dar uma segunda opinião sempre que você pensar em fazer algo, querida - ele diz, me interrompendo - Ele vai te ajudar até seu pai se recuperar totalmente.
Meu pai sofreu um acidente de carro há alguns dias atrás, o que o fez perder a memória. Os médicos disseram que ele vai voltar a lembrar de tudo, mas que pode demorar semanas ou até mesmo meses.
- Isso é loucura. - sussurro enquanto fechava os olhos.
- Está decidido! - ele diz em um tom mais elevado - Você é a única pessoa apta para substituir o seu pai. Não importa o que seus tios pensem!
Respiro fundo e balanço a cabeça.
- Na próxima sexta-feira haverá uma reunião com os chefes das famílias da organização. Você irá acompanhada do Giusepe, que te auxiliará quando necessário.
Não falo nada.
- Bem, eu preciso desligar, tenho que tomar meu remédio - ele diz - Não hesite em me ligar caso precise de alguma coisa.
Encerramos a ligação.
Fico olhando para a tela do meu celular por um momento, até que o coloco em cima da mesa e apoio minhas costas na cadeira, ficando mais confortável.
Inclino a cabeça para trás e suspiro.
Escuto um barulho vindo do jardim e me viro novamente para a janela, logo vendo o jardineiro aparando a grama.
Ele olha para mim com seus olhos azuis-claros, dando um sorrisinho e não posso deixar de analisá-lo atentamente.
Sua blusa cinza está levemente levantada, deixando a mostra sua barriga bem-definida, e seus cabelos estão bagunçados, caindo um pouco sobre sua testa. Ele é um homem atraente.
- Senhorita - a voz de uma das empregadas doméstica chama minha atenção - Sua tia Laura ligou do hospital e disse que seu pai não vai poder vir para casa hoje.
Me levanto da cadeira e apoio minhas duas mãos na mesa.
- Por que? Aconteceu alguma coisa? - pergunto, preocupada.
- Não, pode ficar tranquila! Ela disse que ele precisa fazer mais alguns exames só para ter certeza de que pode ser liberado. - responde, amigavelmente.
Eu assinto com a cabeça.
- Ok, obrigada.
Ela deixa o escritório e não demora muito para que eu faça o mesmo.
Fecho a porta de correr dupla e me aproximo da sala de estar, que fica praticamente de frente a porta do escritório.
Pela janela vidro, consigo ver o jardineiro conversando com a mesma empregada doméstica de antes.
Ele percebe que estou observando e me encara por um momento antes de voltar sua atenção para a mulher à sua frente, que por sinal não para de falar.
Nego com a cabeça e começo a subir as escadas, na intenção de ir para o meu quarto.
Ao entrar no mesmo, vejo minha melhor amiga conversando e rindo enquanto fala com alguém por chamada de vídeo.
- Sim, claro que podemos sair qualquer dia! - ela sorri pra tela do celular - Depois a gente se fala, tchau! - ela desliga e revira os olhos. - Idiota.
Me jogo na minha cama, coloco a mão na testa e olho pro teto.
- Com quem estava conversando? - pergunto, tentando me distrair um pouco.
- Luigi. - responde, parecendo entediada. - Ele não me deixa em paz.
- O que o bastardo da família Martini quer? - pergunto, dando um sorriso fraco e ela joga um travesseiro em mim.
- Tadinho dele, Ana! - diz e começa a rir - E aí, você conversou com seu avô? - eu assinto com a cabeça - E então?
Me levanto, ficando sentada beira da cama e viro o rosto para olhá-la.
- Não tem jeito, ele não quer que meus tios tomem conta de tudo - suspirei - Ele disse que eles não têm capacidade. Eu que vou ficar no comando do restante da família e dos nossos negócios.
Ela arregala os olhos.
- Eu vou substituir o meu pai. - digo depois de engolir em seco.
...